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Anais VII SIC - UERN

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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1144<br />

O tratamento amistoso dirigido a qualquer pessoa, independente da raça, cor ou<br />

religião, tanto pode ser físico como verbalizado. Há determinadas agressões oralizadas que ferem<br />

tanto as pessoas, quanto uma agressão física (RAMOS-LOPES, 2007).<br />

Nos discursos apresentados, percebe-se a visão intrínseca de uma idéia negativa das<br />

pessoas de cor. Nessa linha de pensamento, De Paula (2005, p. 91), ao se posicionar sobre a questão<br />

do racismo no Brasil, comenta que mesmo “na escola o olhar sobre muitas crianças negras é de<br />

menosprezo ou resignação. Ela é vista como uma possibilidade iminente de fracasso. Vivemos sob a<br />

égide de que todos os negros são agressivos e violentos, preguiçosos e manemolentes”.<br />

O ponto de partida para as discussões deste trabalho é de que a prática<br />

discriminatória é verbalizada por meio de uma linguagem que proporcionam jogos de sentido<br />

pejorativo que denigrem a imagem do sujeito negro.<br />

Ser negro é ser diferente?<br />

Nessa seção atende-se ao primeiro objetivo da pesquisa quando se identifica possíveis<br />

discursos dos estudantes investigados, que ao circularem na escola se reverberam em práticas<br />

discriminatórias e preconceituosas inferiorizadoras da imagem do sujeito negro.<br />

Compreender a diferença por meio da linguagem se constitui em uma tarefa um tanto<br />

desafiadora, uma vez que nesta pesquisa qualitativa, de caráter interpretativista, os efeitos de<br />

sentido formulam jogos de compreensão que influencia diretamente na tarefa do pesquisador.<br />

Recorrendo aos estudos do Sociólogo polonês Bauman (2003, p. 21) observa-se que:<br />

“Identidade” significa aparecer: ser diferente e, por essa diferença, singular — e<br />

assim a procura da identidade não pode deixar de dividir e separar. E no entanto a<br />

vulnerabilidade das identidades individuais e a precariedade da solitária<br />

construção da identidade levam os construtores da identidade a procurar cabides<br />

em que possam, em conjunto, pendurar seus medos e ansiedades individualmente<br />

experimentados e, depois disso, realizar os ritos de exorcismo em companhia de<br />

outros indivíduos também assustados e ansiosos.<br />

Bauman (2003) nos diz que a construção das identidades é marcada pelas buscas e<br />

divisões, isso significa dizer que o processo pelo qual o sujeito passa é complexo e tem como<br />

produto final a construção de uma identidade que o configure como ser singular, no entanto<br />

vulnerável a identificar-se com um determinado grupo ou comunidade.<br />

Ainda relacionado à diferença trazemos a esta discussão a questão etnicorracial.<br />

Sabemos que desde o surgimento do conceito de Raça nas ciências modernas no sec. XX provocou<br />

a difusão de idéias racistas ao categorizar a raça humana por características biológicas. Esse fato<br />

provocou desdobramentos que levou a homem a pensar durante muito tempo que a diferença física<br />

pode vir a ser sinônimo de “Status” entre os homens e passou a dar uma roupagem estigmatizada às<br />

características psicológicas do individuo interferindo diretamente no seu processo de formação da<br />

identidade mediante ao contexto social (RAMOS-LOPES, 2010). Assim, a cor passou a ser um<br />

divisor da humanidade atrelado a outros conflitos sociais. Como reflexo destas afirmações observese<br />

os discursos a seguir da Aluna 06 ao ser questionada se já havia sofrido ou presenciado algum ato<br />

de discriminação:<br />

Sim, já fui discriminada muitas vezes, sou casada tenho 18 anos meu esposo é<br />

bem mais moreno que eu, eu sou clara e cabelos loiros lisos ele tem o cabelo bem<br />

enroladinho. Um dia eu e ele estávamos em uma festa e uma amiga minha me viu<br />

com ele. No outro dia, ela me perguntou: “aquele preto que é seu marido?” eu<br />

disse que sim e que ele era preto, mas é como qualquer outro. Mas sempre quando<br />

eu e ele chegamos às festas ou em uma lanchonete sempre as pessoas ficam<br />

olhando. E as pessoas olham para mim e falam: o que você viu nesse nego? Eu<br />

ISBN: 978-85-7621-031-3

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