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01- Delírio

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O calor só aumenta dentro de mim, ondas de luz crescendo e quebrando, fazendo com que eu me<br />

sinta flutuando. Seus dedos passam por meu cabelo, seguram minha nuca, descem para meus ombros, e,<br />

sem pensar, minhas mãos encontram seu peito e se movem pelo calor de sua pele, as escápulas como<br />

pontas de asas, e a curva da mandíbula, com uma leve barba — tudo é estranho, diferente, gloriosa e<br />

deliciosamente novo. Meu coração bate com tanta força em meu peito que dói, mas é uma dor boa,<br />

como a sensação no primeiro dia de outono, quando o ar está fresco, as folhas das árvores começam a<br />

mudar de cor e o vento cheira vagamente a fumaça — como o fim e o começo de algo, ao mesmo<br />

tempo. Sob minha mão, juro que posso sentir as batidas de seu coração respondendo, um eco imediato<br />

do meu, como se nossos corpos estivessem conversando.<br />

E, de repente, tudo é tão ridícula e estupidamente claro que tenho vontade de rir. É isso o que<br />

quero. Sempre foi meu único desejo. Todo o resto — cada segundo de cada dia antes deste momento,<br />

deste beijo — não significou nada.<br />

Quando ele finalmente se afasta, é como se um cobertor tivesse descido em meu cérebro, acalmando<br />

todos os meus pensamentos e dúvidas inquietas, preenchendo-me com uma calma e uma felicidade tão<br />

profundas e frias quanto a neve. A única palavra que restou é sim. Sim para tudo.<br />

Gosto muito de você, Lena. Acredita agora?<br />

Sim.<br />

Posso acompanhá-la até em casa?<br />

Sim.<br />

Posso encontrá-la amanhã?<br />

Sim, sim, sim.<br />

As ruas estão vazias a essa altura. A cidade inteira está silenciosa e parada. A cidade inteira poderia<br />

ter se reduzido a nada ou se incendiado enquanto estávamos no abrigo, e eu não teria notado ou me<br />

importado. A caminhada para casa é indistinta, um sonho. Ele segura minha mão o tempo todo, e<br />

paramos para nos beijar mais duas vezes, nas sombras mais longas e escuras que encontramos. Em<br />

ambas as vezes, penso que queria que as sombras fossem sólidas, tivessem peso e que se enrolassem à<br />

nossa volta e nos enterrassem para que pudéssemos ficar assim para sempre, peito com peito, lábio com<br />

lábio. Em ambas as vezes sinto meu peito se apertar quando ele se afasta, segura minha mão e<br />

começamos a andar outra vez, sem nos beijarmos, como se, de repente, eu só conseguisse respirar<br />

corretamente quando estamos nos beijando.<br />

De algum jeito — cedo demais —, estou em casa, sussurrando um tchau para ele e sentindo seus<br />

lábios tocarem os meus uma última vez, leves como o vento.<br />

Então, estou entrando sorrateiramente na casa, subindo as escadas e entrando no quarto, e só<br />

quando estou deitada há um bom tempo, tremendo, sofrendo, já com saudade, percebo que minha tia,<br />

meus professores e os cientistas têm razão sobre o deliria. Enquanto estou deitada ali, com a dor<br />

penetrando meu peito e a sensação ansiosa e doentia se agitando dentro de mim e um desejo tão forte<br />

por Alex que é como uma faca rasgando meus órgãos e me dilacerando, tudo em que consigo pensar é:<br />

Isto vai me matar, isto vai me matar, isto vai me matar. E eu não me importo.

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