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aixo, para que Carol e sua mãe não possam ouvi-lo pela janela aberta. — Eu não... não estava pronto.<br />
— Ele molha os lábios, e sua voz se transforma em um sussurro. — Tinha uma garota que, às vezes, eu<br />
via no parque. Ela cuidava dos primos e os levava aos brinquedos lá. Eu era capitão do time de esgrima<br />
do colégio, e era lá que treinávamos.<br />
Você seria o capitão da porcaria do time de esgrima, penso, mas não digo em voz alta; dá para perceber que<br />
ele está tentando ser educado.<br />
— Bem, nós conversávamos algumas vezes. Nada aconteceu — explica ele, rapidamente. — Apenas<br />
algumas conversas, aqui e ali. Ela tinha um sorriso bonito. E eu sentia... — Ele para.<br />
Espanto e medo me varrem. Ele está tentando dizer que somos parecidos. De algum jeito, ele sabe<br />
sobre Alex — não sobre Alex especificamente, mas sobre alguém.<br />
— Espere um segundo. — Minha mente está agitada. — Está tentando me dizer que antes da<br />
intervenção você estava... Você ficou doente?<br />
— Só estou dizendo que entendo. — Seus olhos encontram os meus por uma fração de segundo,<br />
mas é tudo de que preciso. Tenho certeza agora. Ele sabe que fui infectada. Sinto-me aliviada e<br />
apavorada ao mesmo tempo; se ele consegue enxergar, outras pessoas também conseguirão. — O que<br />
quero dizer é que a cura funciona — continua ele, enfatizando a última palavra. Sei, agora, que ele está<br />
tentando ser gentil. — Estou muito mais feliz agora. Você também vai ficar, eu garanto.<br />
Alguma coisa dentro de mim se quebra quando ele diz isso, e eu me sinto capaz de chorar outra vez.<br />
A voz dele é tranquilizadora. Não há nada neste momento que eu queira mais do que acreditar nele.<br />
Segurança, felicidade, estabilidade: o que eu sempre quis. E, agora, penso que talvez as últimas semanas<br />
realmente tenham sido apenas um delírio longo e estranho. Talvez depois da intervenção eu acorde<br />
como se estivesse saindo de uma febre alta, apenas com uma vaga lembrança de meus sonhos e uma<br />
enorme sensação de alívio.<br />
— Amigos? — pergunta Brian, oferecendo-me a mão, e, dessa vez, não me encolho quando ele<br />
encosta em mim. Até o deixo segurar minha mão por mais alguns segundos.<br />
Ele continua olhando para a rua, e, enquanto estamos ali, seu rosto se franze rapidamente.<br />
— O que ele quer? — murmura ele e, em seguida, grita: — Está tudo bem. Ela é meu par.<br />
Viro-me a tempo de ver um borrão de cabelos castanhos e dourados — como a cor das folhas das<br />
árvores no outono — desaparecer na esquina. Alex. Solto a mão de Brian, mas é tarde demais. Ele já<br />
sumiu.<br />
— Devia ser um regulador — diz Brian. — Estava ali parado, olhando.<br />
A sensação de calma e tranquilidade que tive há um minuto desaparece imediatamente. Alex me viu<br />
— ele nos viu, de mãos dadas, e ouviu Brian dizer que eu era seu par. E eu deveria tê-lo encontrado há<br />
uma hora. Ele não sabe que não consegui sair de casa, que não consegui avisá-lo. Nem imagino o que ele<br />
está pensando de mim. Ou, na verdade, imagino.<br />
— Você está bem? — Os olhos de Brian são tão claros que beiram o cinza. Uma cor doentia, nada<br />
como o céu, mas como mofo ou putrefação. Não posso acreditar que pensei sequer por um segundo que<br />
ele poderia ser atraente. — Você não parece bem.<br />
— Estou bem. — Tento dar um passo em direção a casa e tropeço. Brian estende o braço para me<br />
ajudar, mas eu me esquivo. — Estou bem — repito, ainda que tudo à minha volta esteja se quebrando,<br />
se desfazendo.<br />
— Está quente aqui — diz Brian. Não suporto olhar para ele. — Vamos entrar.<br />
Ele põe uma das mãos em meu cotovelo e me ajuda a subir os degraus, passar pela porta e chegar à<br />
sala, onde Carol e a Sra. Scharff estão esperando por nós, sorrindo.