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01- Delírio

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Então, de repente, tenho um ideia.<br />

Esforço-me para manter um tom de voz casual.<br />

— Então, o que aconteceu com Allison Doveney? — digo. — Não quis se despedir?<br />

Hana se vira para me encarar. Allison Doveney era nosso código, o nome pelo qual chamávamos<br />

Alex sempre que precisávamos falar dele por telefone ou e-mail. Ela franze as sobrancelhas.<br />

— Não consegui entrar em contato com ela — diz, cuidadosamente. O olhar em seu rosto diz já<br />

expliquei isso.<br />

Ergo as sobrancelhas para ela, como se dissesse confie em mim.<br />

— Seria bom vê-la antes da intervenção amanhã. — Torço para que Carol esteja escutando e<br />

interprete isso como um sinal de que já me conformei com os novos planos. — As coisas vão mudar<br />

depois da cura.<br />

Hana dá de ombros e abre os braços. O que quer que eu faça?<br />

Suspiro e, aparentemente, mudo de assunto.<br />

— Você se lembra das aulas do Sr. Raider? No quinto ano? Como costumávamos passar bilhetinhos<br />

o dia inteiro?<br />

— Lembro — diz Hana, cautelosamente.<br />

Ela ainda parece confusa. Posso perceber que está começando a se preocupar que a pancada em<br />

minha cabeça tenha afetado minha capacidade de pensar com clareza.<br />

Suspiro de novo, de forma exagerada, como se apenas recordar todos os bons momentos que<br />

compartilhamos estivesse me deixando nostálgica.<br />

— Lembra quando ele nos pegou e nos fez sentar em cantos opostos da sala? Então, sempre que<br />

queríamos falar algo, nós nos levantávamos para apontar o lápis e deixávamos um bilhetinho naquele<br />

vaso vazio no fundo da sala. — Forço uma risada. — Um dia, acho que apontei o lápis dezessete vezes.<br />

E ele nunca percebeu, nem uma vez.<br />

Uma breve luz se acende nos olhos de Hana, e ela fica completamente parada e alerta, como um<br />

cervo tentando ouvir o som de predadores pouco antes de correr, e então ri e diz:<br />

— Sim, eu me lembro. Pobre Sr. Raider. Tão sem noção.<br />

Apesar do tom despreocupado, Hana se senta na cama de Grace, inclinando-se para a frente,<br />

apoiando os cotovelos nos joelhos e me encarando com atenção. Agora sei que ela sabe o que realmente<br />

estou dizendo quando falo de Allison Doveney e das aulas do Sr. Raider: ela precisa entregar um bilhete<br />

a Alex.<br />

Mudo de assunto outra vez.<br />

— Lembra quando fizemos aquela corrida longa pela primeira vez? Depois, minha perna parecia<br />

gelatina. E a primeira vez em que corremos de West End até o Governador? E eu saltei e bati na mão<br />

dele como se estivéssemos comemorando.<br />

Hana franze de leve os olhos para mim.<br />

— Há anos nós abusamos dele — diz ela, cheia de cautela, e sei que não está entendendo muito bem<br />

o que quero dizer, não ainda.<br />

Tomo cuidado para não permitir que a tensão e o entusiasmo invadam minha voz.<br />

— Sabe, alguém me disse que ele segurava algo antes. Quer dizer, o Governador. Uma tocha, um<br />

pergaminho ou algo do tipo. Agora ele só tem aquele buraquinho na mão fechada. — Pronto: falei.<br />

Hana respira fundo, e sei que agora ela entendeu, mas, só para garantir, digo: — Você me faz um favor?<br />

Faz essa corrida para mim hoje? Uma última vez?<br />

— Não seja melodramática, Lena. A cura atua em seu cérebro, e não em suas pernas. Você ainda<br />

poderá correr depois da intervenção.<br />

Hana responde com desenvoltura, exatamente como deveria, mas está sorrindo agora, assentindo<br />

para mim. Sim, eu faço. E escondo o bilhete lá. A esperança pulsa por mim, um brilho cálido aliviando parte

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