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da dor.<br />
— É, mas vai ser diferente — resmungo. O rosto de Carol aparece na porta por um momento, que<br />
está parcialmente aberta. Parece satisfeita. Deve achar que me conformei com a intervenção, afinal. —<br />
Além disso, algo pode dar errado.<br />
— Nada vai dar errado. — Hana se levanta e me olha por um instante. — Eu prometo — diz ela,<br />
devagar, conferindo um peso a cada palavra — que tudo dará perfeitamente certo.<br />
Meu coração para por um instante. Dessa vez ela está me passando uma mensagem, e sei que não está<br />
falando da intervenção.<br />
— É melhor eu ir embora — diz ela, andando até a porta, praticamente inquieta.<br />
Percebo que, se o plano der certo — se Hana, de algum jeito, conseguir transmitir um recado a Alex<br />
e ele, de algum jeito, conseguir me tirar desta casa transformada em prisão —, esta será realmente a<br />
última vez em que verei Hana.<br />
— Espere — chamo quando ela está quase na porta.<br />
— O quê?<br />
Hana se vira. Seus olhos estão brilhando; ela está animada, pronta para ir. Por um instante, parada<br />
sob a luz difusa do sol ainda passando pelas persianas, ela parece reluzir como se estivesse acesa por uma<br />
chama interna. E agora sei por que inventaram palavras para o amor, por que precisaram fazer isso: é o<br />
único modo que quase consegue descrever o que sinto nesse momento, um misto desconcertante de dor,<br />
prazer, medo e alegria, tudo correndo intensamente dentro de mim ao mesmo tempo.<br />
— O quê? — Hana repete, impaciente, agitando-se um pouco no mesmo lugar. Sei que está ansiosa<br />
para sair e colocar o plano em ação. Eu amo você, penso, mas o que digo, engasgando um pouco, é:<br />
— Boa corrida.<br />
— Ah, vai ser — diz ela e, então, simplesmente desaparece.