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coração martelando dolorosamente no peito e a respiração arranhando a garganta. Estou chutando o<br />
chão e empurrando a água com os braços, meio correndo, meio nadando, enquanto a maré sobe e me<br />
arrasta, de modo que sinto que só consigo avançar um centímetro de cada vez, sinto que estou nadando<br />
em melaço. Alex chama meu nome, mas tenho medo demais de virar a cabeça e ver se ele está me<br />
seguindo. É como em um daqueles pesadelos em que alguém está sendo perseguido por algo, mas tem<br />
medo de olhar para trás e descobrir o que é. Tudo o que se ouve é a respiração do perseguidor, cada vez<br />
mais próxima. Sente a sombra se erguendo atrás de si, mas está paralisado: sabe que a qualquer segundo<br />
sentirá dedos gelados se fechando em seu pescoço.<br />
Nunca vou conseguir, penso. Nunca vou conseguir voltar. Algo arranha minha perna e começo a imaginar<br />
que a baía está cheia de coisas marinhas horríveis, tubarões, águas-vivas, enguias venenosas, e mesmo<br />
sabendo que estou entrando em pânico, tenho vontade de cair para trás e desistir. A praia ainda está<br />
longe e minhas pernas e braços parecem muito pesados.<br />
A voz de Alex é sufocada pelo vento, soando cada vez mais fraca, e quando finalmente crio coragem<br />
para olhar para trás, vejo-o subindo e descendo com as ondas, perto das boias. Percebo que fui mais<br />
longe do que imaginava e que pelo menos Alex não está me seguindo. Meu medo diminui e o nó em<br />
meu peito se afrouxa. A onda seguinte é tão forte que me empurra em uma elevação no solo e me<br />
derruba de joelhos no chão macio. Quando luto para me levantar, a água me atinge na cintura e me leva<br />
pelo restante do caminho até a areia, tremendo, grata, exausta.<br />
Minhas coxas estão trêmulas. Caio na praia, engasgando e tossindo. Pelas cores brilhantes que<br />
lambem o céu sobre a enseada Back — laranja, vermelho e cor-de-rosa —, suponho que o pôr do sol<br />
esteja próximo e que provavelmente são quase oito horas. Parte de mim só quer se deitar, abrir os<br />
braços, se esticar e dormir a noite inteira. Sinto como se tivesse engolido metade de meu peso em água<br />
do mar. Minha pele arde e há areia por todos os lados: no sutiã, na calcinha, entre os dedos dos pés e<br />
embaixo das unhas. O que quer que tenha arranhado minha perna, deixou sua marca: uma longa linha<br />
de sangue desce por minha panturrilha.<br />
Levanto os olhos e por um segundo desesperador não consigo ver Alex perto das boias. Meu<br />
coração para. E então eu o vejo, um ponto escuro avançando rapidamente pela água. Seus braços giram<br />
graciosamente enquanto nada. Ele é veloz. Levanto-me rapidamente, pego meus tênis e cambaleio em<br />
direção à bicicleta. Minhas pernas estão tão fracas que demoro um minuto para me equilibrar, e no<br />
começo vou pedalando por uma linha completamente irregular, como uma criança aprendendo a andar<br />
de bicicleta.<br />
Não olho para trás, nem uma vez sequer, até estar no portão de casa. Nesse momento, as ruas estão<br />
vazias e quietas, a noite, prestes a cair, o toque de recolher a ponto de nos envolver como um gigantesco<br />
abraço, mantendo-nos em nossos devidos lugares, mantendo-nos em segurança.