01- Delírio

O cheiro que nos atinge quando entramos quase me joga para trás — pela porta e pelo tempo, de
volta ao quarto ano da escola. É o cheiro de milhares de corpos suados muito próximos uns dos outros,
sob um odor pungente e ofensivo de desinfetantes industriais. Acima de tudo, há o cheiro de umidade —
corredores que nunca ficam realmente secos, canos com vazamentos, mofo crescendo pelas paredes e em
todos os lugares escondidos que visitantes nunca podem ver. A recepção fica à nossa esquerda, e a
mulher que está no posto, atrás de outro painel de vidro à prova de balas, usa uma máscara cirúrgica.
Não a culpo.
Estranhamente, quando nos aproximamos de sua mesa, ela levanta os olhos e se dirige a Alex pelo
nome.
— Alex — diz ela, acenando ligeiramente. E então vira os olhos para mim. — Quem é essa?
Alex repete a história sobre o incidente nas avaliações. Ele, obviamente, é bastante conhecido pela
guarda, porque a trata por seu primeiro nome algumas vezes, e não vejo nenhum crachá. Ela digita
nossos nomes em um computador da idade da pedra que está na mesa e acena para que passemos para a
segurança. Alex cumprimenta também os funcionários desse setor, e eu o admiro por sua calma. Estou
tendo muita dificuldade para desafivelar o cinto e passar pelo detector de metais, de tanto que minhas
mãos tremem. Os guardas nas Criptas parecem cinquenta por cento maiores que as pessoas normais,
com mãos do tamanho de raquetes de tênis e ombros largos como barcos. E todos carregam armas.
Armas grandes. Estou fazendo o possível para não parecer completamente aterrorizada, mas é difícil
manter a calma quando é preciso ficar praticamente só de roupa íntima na frente de gigantes equipados
com armas automáticas.
Finalmente, passamos pela segurança. Alex e eu nos vestimos de novo em silêncio, e eu fico surpresa
— e feliz — quando consigo amarrar meus cadarços.
— Somente alas um a cinco — grita um dos guardas quando Alex gesticula para que eu o siga pelo
corredor. As paredes são pintadas com um tom doentio de amarelo. Em uma casa, um berçário bem
iluminado ou um escritório, esse tom poderia ser alegre, mas, sob as luzes frias que acendem e apagam
constantemente, marcada por anos e anos de água, marcas de mãos, insetos esmagados e não quero nem
saber o quê, a cor parece incrivelmente depressiva, como um grande sorriso de alguém com dentes
pretos e podres.
— Pode deixar — diz Alex. Presumo que isso significa que algumas áreas são proibidas a visitantes.
Sigo Alex por um corredor estreito, depois por outro. Os corredores estão vazios, e ainda não
passamos por nenhuma cela, embora, à medida que vamos virando em curvas e em esquinas, ruídos e
gemidos estridentes começam a flutuar em nossa direção, assim como estranhos barulhos de animais,
balidos, mugidos e crocitos, como se um bando de pessoas estivesse imitando os sons de um celeiro.
Devemos estar perto da ala psiquiátrica. No entanto, não passamos por nenhum outro guarda,
enfermeira ou paciente. Tudo está tão parado que é quase assustador: e silencioso, também, exceto por
esses sons terríveis que parecem sair das paredes.
Parece seguro conversar, então pergunto a Alex:
— Como todos conhecem você aqui?
— Venho muito — diz ele, como se esta fosse uma resposta satisfatória. Pessoas não “vão muito” às
Criptas. Não é exatamente um programa que seja do mesmo nível da praia. Não chega nem ao nível de
um banheiro público.
Parece que ele não vai dar maiores detalhes, e estou prestes a exigir uma explicação mais completa
quando ele expele o ar preso na boca e diz:
— Meu pai está aqui. É por isso que venho.
Realmente não achei que algo ainda pudesse me surpreender a esta altura ou penetrar a neblina em
meu cérebro, mas isso consegue.
— Achei que você tivesse dito que seu pai estava morto.