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— Não sozinho — diz ela, rapidamente. — É claro que não estará sozinho. A mãe dele também virá.<br />
E eu estarei aqui, obviamente. Além disso, Brian passou pela intervenção no mês passado. — Como se<br />
fosse esse o problema.<br />
— Ele vem aqui? Hoje?<br />
Preciso apoiar a mão na parede. De algum jeito, consegui me esquecer completamente de Brian<br />
Scharff, aquele nome impresso em um papel.<br />
Carol deve achar que estou nervosa por conhecê-lo, porque sorri para mim.<br />
— Não se preocupe, Lena. Vai ficar tudo bem. Nós cuidaremos da conversa. Só achei que vocês<br />
deveriam se conhecer, considerando que... — Ela não conclui a frase. Não precisa.<br />
Considerando que fomos pareados. Considerando que vamos nos casar. Considerando que dividirei<br />
minha cama com ele e acordarei a seu lado todos os dias de minha vida, e terei de permitir que ele<br />
coloque as mãos em mim, e terei de me sentar diante dele ao jantar, comendo aspargos enlatados, e ouvilo<br />
tagarelar incansavelmente sobre encanamento ou carpintaria ou qualquer que seja o trabalho<br />
atribuído a ele.<br />
— Não! — deixo escapar.<br />
Carol parece espantada. Ela não está acostumada a ouvir essa palavra, certamente não de mim.<br />
— Como assim, não?<br />
Passo a língua nos lábios. Sei que contrariá-la é perigoso, e sei que é errado. Mas não posso conhecer<br />
Brian Scharff. Não vou. Não vou ficar ali fingindo que gosto dele ou ouvindo Carol falar sobre onde<br />
moraremos daqui a alguns anos, enquanto Alex está em outro lugar — esperando que eu o encontre,<br />
tamborilando os dedos na mesa enquanto ouve música, respirando ou fazendo qualquer coisa.<br />
— Quer dizer... — Luto para encontrar uma desculpa. — Quer dizer... Quer dizer, não poderíamos<br />
marcar outro dia? Não estou me sentindo muito bem. — Isso, pelo menos, é verdade.<br />
Carol franze o rosto para mim.<br />
— É apenas uma hora, Lena. Se você consegue dar um jeito de dormir na casa de Hana, consegue<br />
fazer isso.<br />
— Mas... Mas... — Fecho uma das mãos, apertando as unhas na palma até começar a sentir dor, o<br />
que me dá algo em que me concentrar. — Mas eu quero que seja uma surpresa.<br />
A voz de Carol fica mais forte.<br />
— Não há nada surpreendente nisso, Lena. É a ordem natural das coisas. Esta é sua vida. Ele é seu par.<br />
Você vai conhecê-lo e vai gostar dele, e ponto. Agora, suba e vá tomar banho. Eles vão chegar à uma<br />
hora.<br />
Uma hora. Alex sai do trabalho ao meio-dia hoje; eu iria encontrá-lo. Combinamos um piquenique<br />
na casa da rua Brooks, como sempre fazemos quando ele sai do turno da manhã, e passaríamos a tarde<br />
toda juntos.<br />
— Mas... — começo a protestar, sem nem saber ao certo o que dizer.<br />
— Nada de “mas”. — Carol cruza os braços e me olha com severidade. — Suba.<br />
Nem sei como chego lá em cima; estou tão furiosa que mal enxergo. Jenny está ali, mascando<br />
chiclete, usando um dos maiôs antigos de Rachel. É grande demais para ela.<br />
— Qual é o seu problema? — pergunta quando passo direto por ela.<br />
Não respondo. Vou direto para o banheiro e ligo a água no jato mais forte possível. Carol detesta<br />
quando desperdiçamos água, e, normalmente, tomo banhos muito rápidos, mas hoje eu não me importo.<br />
Sento-me no vaso e enfio os dedos na boca, mordendo para não gritar. A culpa é toda minha. Tenho<br />
ignorado a data da intervenção e evitado sequer pensar no nome de Brian Scharff. E Carol tem toda<br />
razão: esta é minha vida, a ordem natural das coisas. Não há como mudá-la. Respiro profundamente e<br />
me ordeno que pare de ser infantil. Todos precisam crescer em algum momento; e o meu será no dia três<br />
de setembro.