You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
cuidadosamente lado a lado. — Talvez não seja uma ideia tão boa. Se formos pegos... Quer dizer, se você<br />
for pega... — Ele respira fundo. — Quer dizer, se alguma coisa acontecer com você, eu jamais me<br />
perdoaria.<br />
— Confio em você — digo, e estou sendo cento e cinquenta por cento sincera.<br />
Ele ainda não olha para mim.<br />
— É, mas... A pena por atravessar... — Ele respira fundo outra vez. — A pena por atravessar é... —<br />
No último segundo, ele não consegue dizer morte.<br />
— Ei. — Cutuco-o gentilmente. É incrível como podemos nos sentir tão protegidos por alguém e,<br />
ao mesmo tempo, sentir que morreríamos ou faríamos de tudo apenas pela chance de também proteger<br />
essa pessoa. — Eu conheço as regras. Vivo aqui há mais tempo que você.<br />
Ele então sorri e me cutuca de volta.<br />
— De jeito nenhum.<br />
— Nascida e criada aqui. Você é um transplantado. — Cutuco-o de novo, um pouco mais forte, e<br />
ele ri e tenta pegar meu braço. Encolho-me, dando risadinhas, e ele se estica para fazer cócegas em<br />
minha barriga. —Caipira! — grito, enquanto ele me agarra e tenta me segurar no cobertor, rindo.<br />
— Patricinha — diz ele, vindo para cima de mim e me beijando. Tudo se desfaz: calor, explosões de<br />
cor, leveza.<br />
* * *<br />
Concordamos em nos encontrar na enseada Back na noite seguinte, uma quarta-feira; como só volto a<br />
trabalhar no sábado, deve ser relativamente fácil convencer Carol a me deixar dormir na casa de Hana.<br />
Alex me passa alguns dos pontos principais do plano. Atravessar a fronteira não é impossível, mas<br />
praticamente ninguém se arrisca. Acho que toda essa história de pena de morte não é um grande<br />
atrativo.<br />
Não vejo como conseguiremos passar pela cerca elétrica, mas Alex me explica que apenas alguns<br />
trechos dela são realmente eletrificados. Estender a corrente de eletricidade por quilômetros e<br />
quilômetros seria algo caro demais, então relativamente poucos segmentos da cerca estão realmente<br />
“ligados”: o restante é tão perigoso quanto a cerca ao redor do parquinho em Deering Oaks. Mas,<br />
contanto que todos acreditem que a estrutura inteira está ligada a uma potência suficiente para fritar uma<br />
pessoa como um ovo em uma frigideira, a cerca cumpre muito bem seu propósito.<br />
— É tudo apenas um truque — diz Alex, acenando vagamente. Presumo que ele se refira a<br />
Portland, às leis, talvez ao país inteiro. Quando ele fica sério, uma pequena ruga se forma entre as suas<br />
sobrancelhas, uma pequena vírgula, e é a coisa mais fofa que já vi. Tento me manter concentrada.<br />
— Ainda não consigo entender como você sabe tudo isso — digo. — Quer dizer, como vocês<br />
descobriram? Foram jogando pessoas na cerca para descobrir em quais lugares elas fritavam?<br />
Alex sorri brevemente.<br />
— Segredo. Mas posso dizer que houve alguns experimentos baseados na observação de animais<br />
selvagens. — Ele ergue as sobrancelhas. — Já comeu castor frito?<br />
— Eca.<br />
— Ou gambá frito?<br />
— Agora você só está tentando me deixar com nojo.<br />
Há mais de nós do que você imagina: essa é outra das expressões preferidas de Alex, constantemente<br />
repetida. Há simpatizantes por todos os lados, não curados e curados, trabalhando como reguladores,<br />
policiais, funcionários do governo, cientistas. É assim que passaremos pelas guaritas, ele me diz. Uma