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sete<br />
De todos os sistemas do corpo — neurológico, cognitivo,<br />
especial, sensorial —, o cardiológico é o mais sensível e o que<br />
se perturba com mais facilidade. O papel da sociedade deve<br />
ser proteger esses sistemas contra infecções e deterioração,<br />
ou o futuro da raça humana estará em perigo. Como uma<br />
fruta de verão que é protegida contra insetos, machucados e<br />
apodrecimento por todo o aparato da agricultura moderna,<br />
assim também devemos proteger o coração.<br />
— “O papel e o propósito da sociedade”, Shhh, p. 353.<br />
Fui batizada em homenagem a Maria Madalena, que quase morreu de amor: “Tão infectada com deliria<br />
e violando os pactos da sociedade, ela se apaixonava por homens que não a queriam ou não podiam<br />
mantê-la” (Livro das Lamentações, Maria 13:1).<br />
Aprendemos tudo sobre isso nas aulas de ciência bíblica. Primeiro foi João, depois Mateus e, em<br />
seguida, Jeremias, Pedro e Judas, e muitos outros homens anônimos entre eles.<br />
Seu último amor, dizem, foi o maior: um homem chamado José, solteiro a vida inteira, que a<br />
encontrou na rua, ferida, devastada e parcialmente enlouquecida pelo deliria. Há discussões a respeito de<br />
que tipo de homem era José — se era correto ou não, e se chegou a sucumbir à doença —, mas, de<br />
qualquer forma, ele cuidou bem dela. Ajudou-a a recuperar a saúde e tentou lhe trazer paz.<br />
Àquela altura, porém, já era tarde demais. O passado a atormentava, assombrando-a com os amores<br />
perdidos, estragados e arruinados, com os males que ela fizera a outros e os que outros lhe fizeram. Ela<br />
quase não conseguia comer, chorava o dia inteiro, agarrava-se a José e implorava que ele jamais a<br />
deixasse, mas não conseguia encontrar conforto em sua bondade.<br />
Então, em uma manhã, ela acordou, e José havia partido — sem qualquer palavra ou explicação.<br />
Esse último abandono finalmente a devastou, e ela caiu ao chão, implorando a Deus para que acabasse<br />
com seu sofrimento.<br />
Ele ouviu suas preces e, em sua infinita compaixão, removeu dela a praga do deliria, submetida a<br />
todos os seres humanos como castigo pelo pecado original de Adão e Eva. De certa forma, Maria<br />
Madalena foi a primeira pessoa curada.<br />
“Então, após anos de tribulações e dor, ela seguiu pelo caminho correto em paz até o fim de seus<br />
dias” (Livro das Lamentações, Maria 13:1).<br />
Sempre achei estranho que minha mãe me tenha dado o nome de Magdalena. Ela nem sequer<br />
acreditava na cura. Esse era o problema com ela. E o Livro das Lamentações é exatamente sobre os<br />
perigos do deliria. Pensei muito nisso e, no fim, acho que cheguei à conclusão de que, apesar de tudo,<br />
minha mãe sabia que estava errada: que a cura e a intervenção eram para o bem. Acredito que, mesmo<br />
naquela época, ela sabia o que ia fazer — sabia o que aconteceria. Acho que, de certa forma, meu nome<br />
foi seu último presente para mim. Foi um recado.<br />
Acho que ela estava tentando dizer: Perdoe-me. Acho que estava tentando dizer: Um dia, até essa dor<br />
desaparecerá.<br />
Está vendo? Independentemente do que todos digam, e apesar de tudo, sei que ela não era de todo<br />
ruim.