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01- Delírio

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Começo a me levantar, mas uma imagem de Alex na noite anterior — tão perto de mim, dizendo<br />

aquelas palavras estranhas e maravilhosas: Eu a amo ao largo e ao fundo que minh’alma alcança — me derruba<br />

novamente, e caio com um baque sobre o vaso.<br />

Alex rindo, respirando, vivendo — afastado, longe de mim. Ondas de náusea me dominam, e eu me<br />

curvo, colocando a cabeça entre os joelhos, resistindo.<br />

A doença, digo a mim mesma. A doença está progredindo. Tudo vai melhorar após a intervenção. É essa a ideia.<br />

Mas não adianta. Quando finalmente consigo entrar no chuveiro, tento me perder no ritmo da água<br />

batendo nos azulejos, mas imagens de Alex passam por minha mente: ele me beijando, acariciando meu<br />

cabelo, seus dedos dançando em minha pele — dançando, bruxuleando como a luz de uma vela prestes a<br />

se apagar. A pior parte é que nem tenho como contar a Alex que não poderei encontrá-lo. É perigoso<br />

demais ligar para ele. Meu plano era ir aos laboratórios e avisá-lo pessoalmente, mas, quando desço,<br />

vestida e de banho tomado, e vou até a porta, Carol me detém.<br />

— Aonde você pensa que vai? — indaga, severamente.<br />

Posso perceber que ela ainda está brava por nossa discussão — brava e provavelmente ofendida.<br />

Sem dúvida, acha que eu deveria estar soltando fogos porque finalmente fui pareada. E ela tem o direito<br />

de pensar assim: há alguns meses eu estaria soltando fogos.<br />

Volto o olhar para o chão, tentando soar tão doce e calma quanto possível.<br />

— Pensei em dar uma volta antes que Brian chegue. — Tento forçar um clima. — Estou um pouco<br />

nervosa.<br />

— Você já tem passado muito tempo fora de casa — rebate Carol. — E só vai ficar suada e suja<br />

outra vez. Se está procurando algo para fazer, pode me ajudar a arrumar o armário.<br />

Não há como desobedecer à minha tia, então sigo-a até o andar de cima e me sento no chão<br />

enquanto ela me entrega toalhas velhas, e eu as examino à procura de buracos, manchas e defeitos, dobro<br />

e redobro panos, conto guardanapos. Estou tão irritada e frustrada que fico tremendo. Alex não vai<br />

saber o que aconteceu comigo. Ele vai se preocupar. Ou, pior, vai pensar que o estou evitando de<br />

propósito. Talvez pense que ir à Selva me assustou.<br />

A violência que estou sentindo me apavora — quase louca, capaz de tudo. Quero subir pelas<br />

paredes, incendiar a casa, fazer algo. Diversas vezes me imagino pegando um dos panos de prato idiotas<br />

de Carol e estrangulando-a. É disso que todos os livros, a Shhh, os pais e os professores sempre me<br />

alertaram. Não sei quem está certo — se eles ou Alex. Não sei se esses sentimentos — essa coisa<br />

crescendo dentro de mim — são algo horrível e doentio ou o melhor que já me aconteceu.<br />

Seja como for, não consigo contê-los. Perdi o controle. E o verdadeiramente doentio é que, apesar de<br />

tudo, estou feliz.<br />

Quando dá meio-dia e meia Carol me leva até a sala, que obviamente foi limpa e arrumada. As<br />

ordens de remessa de meu tio, que geralmente ficam espalhadas por todos os lados, foram organizadas<br />

em uma pilha caprichada, e nenhum dos livros velhos de escola ou dos brinquedos quebrados que<br />

costumam entulhar o chão está visível. Ela me faz sentar no sofá e começa a mexer em meu cabelo.<br />

Sinto-me como um troféu, mas sei que é melhor não reclamar. Se eu fizer tudo o que ela mandar — e se<br />

tudo correr bem —, talvez ainda tenha tempo de ir à casa na rua Brooks quando Brian for embora.<br />

— Pronto — diz Carol, afastando-se e me examinando com um olhar crítico. — Melhor que isso<br />

não fica.<br />

Mordo o lábio e viro o rosto. Não quero que ela perceba, mas suas palavras provocaram uma dor<br />

aguda. Por incrível que pareça, eu havia esquecido que devia ser banal. Estou tão acostumada com Alex<br />

me dizendo que sou linda... Estou tão acostumada a me sentir linda quando estou com ele... Um vazio se<br />

abre em meu peito. É assim que a vida será sem ele: tudo será comum outra vez. Eu serei comum outra<br />

vez.<br />

Alguns minutos depois de uma da tarde ouço o portão da frente abrir e passos na entrada. Estive tão

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