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sou feia, mas também não sou bonita. Tudo é um meio-termo. Tenho olhos que não são verdes nem<br />
castanhos, mas uma mistura. Não sou magra, mas também não sou gorda. A única característica que<br />
definitivamente pode ser dita sobre mim é a seguinte: sou baixa.<br />
— Se perguntarem, Deus queira que não, sobre seus primos, lembre-se de dizer que não os conhecia<br />
bem…<br />
— Aham.<br />
Não estou prestando muita atenção. Está quente, quente demais para junho, e já estou transpirando<br />
nas costas e nas axilas, apesar de ter passado uma quantidade generosa de desodorante pela manhã. À<br />
nossa direita está a baía Casco, encurralada pelas ilhas Peaks e Great Diamond, onde ficam as torres de<br />
vigilância. Depois delas, há o oceano — e, depois desse, todos os países e cidades decadentes arruinados<br />
pela doença.<br />
— Lena? Você está me ouvindo?<br />
Carol põe uma das mãos em meu braço e me vira de frente para ela.<br />
— Azul — repito automaticamente para ela. — Azul é minha cor preferida. Ou verde.<br />
Preto é mórbido demais, vermelho vai inquietá-los, cor-de-rosa é muito infantil, laranja é<br />
extravagante.<br />
— E as atividades que você gosta de fazer em seu tempo livre?<br />
Gentilmente me livro das garras dela.<br />
— Já falamos a esse respeito.<br />
— Isso é importante, Lena. Hoje talvez seja o dia mais importante de sua vida.<br />
Suspiro. Diante de mim, os portões que cercam os laboratórios do governo se abrem lentamente<br />
com um ruído mecânico. Há duas filas se formando: de um lado, as meninas, e a quinze metros, em uma<br />
segunda entrada, os meninos. Estreito os olhos por causa do sol, tentando reconhecer as pessoas, mas o<br />
reflexo no oceano me cegou e minha visão está cheia de pontos pretos.<br />
— Lena? — minha tia chama minha atenção.<br />
Respiro fundo e me lanço na lenga-lenga que ensaiamos um bilhão de vezes.<br />
— Gosto de trabalhar no jornal da escola. Eu me interesso por fotografia porque gosto da maneira<br />
como ela captura e preserva um momento específico. Gosto de me divertir com meus amigos e ir a<br />
shows no parque Deering Oaks. Gosto de correr e fui cocapitã do time de corrida durante dois anos. É<br />
meu o recorde da escola na corrida de cinco quilômetros. Normalmente cuido dos mais novos de minha<br />
família e adoro crianças.<br />
— Você está fazendo uma careta — diz minha tia.<br />
— Eu amo crianças — repito, engessando um sorriso no rosto.<br />
A verdade é que não gosto de muitas crianças além de Grace. Elas são muito instáveis e barulhentas o<br />
tempo todo, e estão sempre pegando coisas, babando e se molhando. Mas sei que terei filhos um dia.<br />
— Melhorou — diz Carol. — Continue.<br />
— Minhas matérias preferidas são matemática e história — concluo.<br />
Ela assente, satisfeita.<br />
— Lena!<br />
Viro-me. Hana está saltando do carro dos pais — seu cabelo louro voa em mechas e ondas ao redor<br />
do rosto e sua túnica escorrega, deixando à mostra um dos ombros bronzeados. Todos os meninos e<br />
meninas enfileirados para entrar nos laboratórios se voltam para vê-la. Hana exerce esse tipo de poder<br />
sobre as pessoas.<br />
— Lena! Espere!<br />
Hana corre pela rua, acenando freneticamente para mim. Atrás dela, o carro começa uma manobra<br />
lenta: para trás e para a frente, para trás e para a frente, na rua estreita, até tomar a direção oposta. O<br />
carro dos pais de Hana é tão polido e escuro quanto uma pantera. Nas poucas vezes em que andamos