Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
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Logo, para ‘se falar’ na LE (contexto alvo), o sujeito funciona, antes de tudo, na LM<br />
(contexto fonte) e esta é regida por formações discursivas fundadoras (interdiscurso e<br />
historicidade) que tecem o inconsciente do sujeito. Alguma modificação ocorrerá nessa<br />
discursividade fundadora quando o sujeito ‘aprende’ significativamente uma LE, uma vez<br />
que o sujeito se inscreve, através de processos identificatórios, na discursividade da LE. De<br />
fato, esse processo não é linear, pois não se tratam somente de assimilação de regras<br />
lingüísticas, gradações de complexidade gramatical, acúmulo de léxico ou seqüenciação de<br />
situações comunicativas vindos do exterior. O sujeito recebe do exterior o significante, que<br />
é ao mesmo tempo, matéria prima e ‘instrumento da constituição do inconsciente’ (Lacan,<br />
1966/1998). A instância exterior não é sempre separável da interior na relação que existe<br />
entre sujeito e língua (ilustrado pela banda de Moëbius).<br />
Quanto maior for a gama de FD’s em que o sujeito estiver inserido, maiores serão as<br />
riquezas culturais que mobilizam o inconsciente do aprendiz deslocando as suas<br />
identificações. Por isso acreditamos na perspectiva plurilingüista, ou na tomada de posição<br />
plurilingüe, que tem como função principalmente a formação integral educativa das pessoas<br />
além de contribuir para que mantenham vivas línguas que não sejam as dominantes. Serve<br />
também para colocar em xeque questões do tipo “Quem é dono da língua inglesa”, por<br />
exemplo, como propõe Rajagopalan (1998). Citando Haberland, esse autor ressalta que o<br />
inglês, ao funcionar como língua franca mundial número 1 “é língua materna de ninguém”<br />
pondo em discussão a relação entre identidade e interesses. Rajagopalan sugere que “o<br />
segredo da vitalidade de uma língua como o inglês é sua identidade múltipla e proteiforme”<br />
(p.39).<br />
4.3. Uma noção de cultura: encontros/confrontos<br />
Este ‘exterior’, essas formações discursivas preponderantes são o que entendemos<br />
por cultura que, na visão psicanalítica (Calligaris, 1997 e Riolfi, 1999), nasce a partir do<br />
ódio de uma herança simbólica. Torna-se então essencial que a sociedade internalize as leis,<br />
(1994), às quais voltaremos mais adiante, durante a análise.