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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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singularidade para cada especialista (professor) da comunidade acadêmica em particular e<br />

portanto, se manifesta em gestos. Estes gestos são regulados pela memória discursiva de<br />

cada um, pelas instituições, que dispõem sobre o que se interpreta, como se interpreta,<br />

quem interpreta e em que condições e, sobretudo, pelo (não) ‘saber’ inconsciente. O sujeito<br />

do inconsciente é um sujeito cindido, que se esquece que aquilo que ele diz é construído e<br />

não estável. É construído social, histórica e ideologicamente e se dá em estado de fluxo<br />

porque se faz em processos de identificação com o Outro e por elos sociais<br />

(transferenciais).<br />

A partir de seus gestos, tanto o professor quanto o aluno são convocados a agir,<br />

fazer uma escolha e arcar com as conseqüências dessa escolha. Entretanto, em se tratando<br />

de um curso de formação de professores de uma LE, a qual está também sendo aprendida<br />

durante esse processo, tais conseqüências se configuram ainda mais complexas.<br />

Observamos, a partir do que depreendemos de nosso corpus, que fazem efeito em relação<br />

ao que se considera ‘saber’ uma língua, representações que variam entre ‘falar como um<br />

nativo’ até um algo relativizado como um ‘falar como estrangeiro (brasileiro)’; questões<br />

que transitam entre o desejo de saber a LE e a possibilidade de somente conhecê-la. São<br />

essas representações que permeiam o que vai ser entendido como um falante ‘autorizado’<br />

na sucessão de imagens que o enunciador tem de si, do outro e do referente. Portanto, não é<br />

somente a materialidade da língua que está em jogo (a heterogeneidade mostrada), mas<br />

também a heterogeneidade constitutiva.<br />

Vimos em nossa análise, por exemplo, um funcionamento jurídico contraditório no<br />

discurso de um documento que delibera o tratamento a ser dado aos alunos. Em sua<br />

‘neutralidade’, a letra determina que os professores devem tratar os alunos de modo<br />

diferenciador (o de diferenciar a turma ‘boa’ da turma ‘fraca’ na aparente proposta do<br />

ensino centrado no aluno) e homogeneizador (o de supor que haja um ensino comunicativo<br />

igualmente entendido por todos). A idéia contraditória de diferenciar e, ao mesmo tempo,<br />

homogeneizar faz parte da concepção classificatória e predicativa (vizibilizados nos alunos<br />

bons, médios e fracos) já naturalizados numa memória lingüística dos nossos protagonistas,<br />

e perpassada por questões sócio-econômicas e mesmo raciais.

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