Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
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Por outro lado, uma das táticas neoliberais de funcionamento é o uso do mecanismo<br />
ou política do afeto 100 que significa nesse caso, evitação de confronto, efeito de cooperação<br />
entre indivíduos, atenção às necessidades do aluno (cliente), neutralidade, objetividade e<br />
diversificação dos instrumentos de avaliação do produto (o saber) para alcançar um<br />
rendimento máximo. Como conseqüência, se esse rendimento não é alcançado é acionado o<br />
mecanismo da confissão, ou seja, o aluno confessa não ter atingido a meta da qualidade<br />
total (como fica evidenciado nas seqüências (6) a (13) dos alunos que se dizem ainda não<br />
fluentes e que têm o nativo como falante ideal). Esses alunos, ou confessam sua própria<br />
incapacidade, ou a dos colegas ao pedirem a ajuda ao professor para si ou para os colegas.<br />
Outro mecanismo acionado é a política da resistência, já que entendemos a questão<br />
conforme Foucault (1979/1981 101 ), ou seja, onde há poder há resistência. Esta se dá através<br />
da recusa de algum tipo de controle, seja ele exercido pelo instrumento, pela instituição,<br />
pelo professor, pelo colega, etc. São atos referentes à questão política no microcosmo de<br />
lutas de poderes da sala de aula e das relações identitárias e transferenciais. Evidentemente<br />
estas últimas são do domínio do inconsciente, isto é, há um elo que se faz (de alguma<br />
forma) entre o aluno e o professor a partir de uma demanda de amor. Aceitamos englobar e<br />
nomear esses mecanismos como afeto, confissão e resistência porque são estes os estados<br />
afetivos mais facilmente observáveis.<br />
100 Consideramos a importância de esclarecer o sentido filosófico de afeto uma vez que procuraremos derivar o<br />
termo para um percurso psicanalítico. Filosoficamente, o termo afetivo designa a característica genérica do prazer,<br />
da dor, e das emoções que são chamadas com o nome comum de ‘estados afetivos’. A afeição (ou afecção) é todo<br />
movimento da sensibilidade (o prazer e a dor enquanto opostos às emoções de cólera, receio, esperança, etc) que<br />
consiste numa mudança de estado ou numa tendência provocada por uma causa exterior. Lalande (1996: 32-4)<br />
coloca que, uma vez que este termo é eminentemente psicológico, para usá-lo filosoficamente é necessário<br />
especializá-lo e precisá-lo. Sua proposta é restringi-lo ao conjunto de todos os sentimentos estáticos que consistem<br />
num estado e não numa tendência. As afecções compreenderão então o prazer, a dor, e as emoções propriamente<br />
ditos.<br />
Sentimentos {afecções {prazer, dor e emoções<br />
{tendências afetivas {inclinações, paixões<br />
Para desenvolver o conceito de afeto, Freud (1904) em “Os chistes e sua relação com o inconsciente”,<br />
procura tratá-lo como conceito de energia à maneira dos filósofos. O conceito foi mais tarde reelaborado no estudo<br />
da angústia, a qual veremos mais adiante.<br />
101 2 ª edição, a qual consultamos.