Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
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sendo substituídas por exames escritos. Afinal a primazia do livro didático já vinha fazendo<br />
efeito havia dois séculos. Já no meio do século XIX aqueles que se destacassem nos exames<br />
das universidades de Cambridge e de Oxford garantiriam alto status mais tarde na vida<br />
profissional. Para minimizar o sistema de protecionismo, foi utilizada a idéia secular dos<br />
exames chineses, e os exames ingleses ganharam ares democráticos, embora elitistas. Era a<br />
tecnologia primária sendo empregada na lenta transformação da aristocracia em<br />
meritocracia que teria seu auge nos Estados Unidos. O sucesso público e a proeminência<br />
dos exames deram impulso ao triunfo da tecnologia dos testes e exames. Como marca<br />
Luckesi (1996), trata-se da sociedade burguesa aperfeiçoando seus mecanismos de controle<br />
através da seletividade escolar e da formação das personalidades dos educandos. Spolsky<br />
(1995) ressalta que, já em 1877, Latham 26 criticava os exames como um poder usurpador<br />
que influenciava a educação ao opacificar a distinção entre educação liberal e técnica e<br />
estreitar o alcance da aprendizagem. O ensino na Inglaterra estava se tornando (como na<br />
França, segundo Latham) subordinado aos exames ao invés do contrário. Inicia-se o auge<br />
do projeto moderno, resultado das idéias iluministas.<br />
Com o iluminismo e a revolução francesa, o empirismo e o racionalismo modernos<br />
se concretizam na revolução do mundo prático, econômico, social, após ter revolucionado o<br />
mundo cultural. Em outras palavras, o pensamento moderno é representado pela ciência,<br />
pela história e pelas suas técnicas mecânica e política harmonizáveis e justificáveis com a<br />
metafísica tradicional. E como salienta Amarante (1998: 13), o sujeito individual, racional,<br />
crítico e livre acredita no progresso científico (particularmente em discursos baseados na<br />
psicologia) e “coloca os educadores numa posição ‘autorizada’ e central” de exercício do<br />
controle que se sofistica como força legitimadora desse controle. O poder de domínio da<br />
avaliação ganha, portanto, cada vez mais espaço e sofisticação na educação, sob o efeito de<br />
verdade das relações de poder-saber, ou seja, a verdade não existe fora do poder, pois é<br />
26 Conforme Spolsky, op. cit.: 20, Henry Latham criticava duramente os efeitos dos exames e apontava o efeito<br />
negativo, do que hoje chamamos ‘efeito retroativo’, dos exames sobre a educação. Hoje em dia, estudos sobre o<br />
efeito retroativo não só mostram efeitos negativos ou positivos da instrução sobre a avaliação, segundo Alderson &<br />
Wall (1993), mas também podem apontar nenhum efeito (Scaramucci, 1999). O que cabe apontar é a contínua<br />
tentativa de controle do currículo escolar através da avaliação por exames.