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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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preciso conviver com a diferença, com os pequenos instantes do amor de desejo de ensinar<br />

e desejo de aprender que se dão nos momentos de aprendizagem.<br />

Na metáfora da transferência entre o professor e o aluno, estes dois, movidos pelo<br />

que se supõe ‘um desejo de saber’ e um ‘desejo de ensinar’ (configuração da relação<br />

amorosa) se envolvem inicialmente numa relação de identificação. Esse é um nível de<br />

enunciação metonímico, da reprodução alienada que significa manutenção de um estado de<br />

coisas. Um movimento de mudança de posição enunciativa (um processo necessário à<br />

produção inventiva e que se configura numa ética de ação do professor), torna necessária<br />

uma mudança subjetiva. Essa mudança acontece numa recusa do professor e do aluno (que<br />

não é nem consciente e nem proposital, por isso trata-se de um ‘não-saber’) de manutenção<br />

do estado das coisas e a adoção uma forma diferente de escutar o Outro. Este é o nível de<br />

metafórico do elo, do relacionamento. O gesto de avaliar do professor (que está num âmbito<br />

além do intencional) sai do âmbito da demanda do Outro (as imposições da instituição, as<br />

queixas dos alunos, os ditames dos especialistas em determinada ciência) quando se abre<br />

para o paradoxo de que ele só pode proporcionar um processo de subjetivação do aluno ao<br />

‘constatar’ que não existe controle sobre esse processo e nem há modelos ideais. Essa<br />

subjetivação se dá quando o sujeito deixa de ser um sujeito da demanda ou da procura e<br />

torna-se um sujeito de desejo (de saber, de ensinar...).<br />

Fechamos esta tese retomando um ponto do começo, o dos elementos de um<br />

percurso autobiográfico que a voz de nossos colegas e alunos tornaram visível. Uma vez<br />

que os gestos de avaliação são de natureza pragmática, entramos nessa empreitada para<br />

encontrar ‘alguma solução’ que aliviasse a angústia por que temos de passar durante os<br />

momentos de tomada de decisão. Deparamo-nos com a questão da escolha. Nela não há<br />

apaziguamento. No lugar de professores e formadores só há como propor que não nos<br />

traiamos a nós mesmos e nem aos nossos alunos. Sabemos que muitos não percebem ou<br />

não querem ouvir ao chamamento do desejo e que este tem seu preço. Mas entendemos que<br />

aceder ao nosso desejo de ensinar é nos depararmos com o paradoxo do formador: sabendo<br />

que as verdades são construídas, sabemos também que são necessárias para que tenhamos<br />

sobre o que falar. Sobre isso podemos refletir e resistir à acomodação, à manutenção do

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