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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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152<br />

7.2.2. Uma representação predominante de fluência<br />

Diante da análise das representações de nossos protagonistas e das considerações<br />

que aqui fizemos, podemos concluir que a fluência na verdade não é representada como<br />

altamente ‘imprecisa’, como tentaram mostrar alguns estruturalistas ao procurarem<br />

‘objetivá-la’ (Neeson, 1975). Ela está ‘objetivada’ na representação de um desejo mais ou<br />

menos idealizado do nativo (o Outro 91 ). Este é afinal aquele ser inefável que imaginamos<br />

deter o que desejamos: a autoridade de falar de uma maneira completa, natural, perfeita,<br />

como é representado nas classes sociais privilegiadas dos países hegemônicos. Como<br />

podemos verificar, alguns dos nossos enunciadores entendem a impossibilidade de alcançar<br />

essa completude e trabalham essa limitação segundo a sua condição sócio-histórica. Os<br />

outros enunciadores, porém, insatisfeitos com a sua fluência na língua, acenam para esse<br />

modo de falar perfeito e natural ‘idealizado’ que não ‘aceita’ somente um relativo sucesso<br />

na aprendizagem. Afinal, está em efeito que o falante ‘autorizado’ a ensinar deva ser um<br />

falante ‘perfeito’.<br />

Além do mais, entendemos também que a não percepção da diferença entre o saber<br />

e o conhecimento de uma língua imbricado na maior ou menor aceitação da<br />

impossibilidade de vir a ser um ‘nativo’ da LE influi no julgamento, na avaliação da<br />

fluência do outro (leia-se também, nível de proficiência do outro). Este outro pode ser o si<br />

próprio - o professor que se julga, o aluno que se julga - ou pode ser o outro mesmo – o<br />

professor que julga o aluno, o aluno que julga o colega, o aluno que julga o professor. Todo<br />

esse processo heterogêneo de julgamento é visibilizado numa política de forças cujo poder<br />

jurídico é dado ao professor pela instituição. Veremos mais adiante como se configura esse<br />

jogo de forças no conflito de representações. Por ora, passemos a uma outra formação<br />

imaginária que produz efeitos importantes para a concepção de língua e comunicação assim<br />

como para a sua avaliação.<br />

91 Aqui distinguimos o Outro (com ‘o’ maiúsculo) do outro (com ‘o minúsculo), uma vez que entendemos que o<br />

Outro se refere à dimensão simbólica segundo a concepção lacaniana. Já a referência ao outro é somente da ordem<br />

da projeção imaginária, funcionando ambos numa relação determinadora de um Eu descentrado.

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