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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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156<br />

em relação ao Eu, no contato pleno com o inglês como LE, chegando a assimilar a língua<br />

de modo tão parecido com algum nativo não identificável a ponto de ser confundida como<br />

tal. Esse distanciamento em relação ao Eu da LM (Revuz, 1998) com certeza se dá devido à<br />

história de bilingüismo precoce de Tatiana com a língua materna (o espanhol) e o português<br />

(como língua nacional 92 ), o que pode significar uma maior flexibilidade de sua organização<br />

psíquica em relação à identificação imaginária com o ‘nativo’ da outra língua que ela<br />

elegeu saber. Vejamos agora a seqüência de Mônica:<br />

(19) (...) em termos de... comunicação, né, então até a... a pronúncia deve...ser trabalhada<br />

porque ela- no sentido que ela pode atrapalhar a comunicação, se ela não for<br />

adequada, né. Então, if pronunciation... hinders meaning, it hinders communication,<br />

that’s a problem, if not, I don’t think they have to aim at a completely native speaker<br />

pronunciation, although I have always...uh...been careful with pronunciation, been<br />

interested, uh...I don’t have that idea that it has to be really, really, really, perfect ‘cause<br />

I know it’ll never be that perfect [Mônica, p. 69]<br />

Podemos ver também na fala de Mônica, uma identificação simbólica com o ‘nativo<br />

ideal’, que tendo um padrão perfeito como o alvo, constata a impossibilidade de alcançá-lo.<br />

Esse sentido se faz num modo de dizer através da negação por meio da qual oscilam os<br />

sujeitos ‘eu’ e o sujeito neutro ‘it’ seguidos de modos de definir por negação e por<br />

reiteração do advérbio “I don’t have that idea that it has to be really, really, really<br />

perfect.”, “it’ll never be that perfect”. Na heterogeneidade de seu enunciado surgem<br />

posições contraditórias em relação à pronúncia perfeita. Em outros momentos de seu<br />

depoimento, ao comparar-se com pessoas que não aprenderam bem a língua, ela explicita<br />

seu desejo de se inserir na cultura estrangeira (expressa idealmente no plural - “outras<br />

culturas”). E justifica fazê-lo para se diferenciar tanto daquele falante que não aprendeu,<br />

quanto do próprio nativo idealizado, em um movimento instável, marcado pelo riso e<br />

92 Calligaris (1996b) afirma, citando Melman, que para a psicanálise a língua materna não é propriamente nem a<br />

língua que a mãe ensinou à criança e nem aquela que cada um aprendeu a falar, mas sim a língua que teceu o<br />

inconsciente, na qual cada um institui a dimensão simbólica de um pai (lei) que o aceite numa filiação desde que<br />

este passe a interditar o corpo materno. A língua materna, embora não seja a língua nacional, acaba se confundindo<br />

com esta por duas razões: ela é geralmente tomada numa rede cultural que uma história nacional organiza e numa<br />

regulação social que representa o pai singular de cada um. Dessa forma pode-se considerar que a língua<br />

materna/paterna seja representada pela língua nacional, mas nem sempre. A aprendizagem de uma língua<br />

estrangeira pode significar a busca a um corpo materno não interditado e um pai mais acalmado, exemplificado por<br />

autores que só conseguiram escrever ao abandonarem a sua LM (Beckett, Nabokov, etc.).

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