Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
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envolvem inicialmente numa relação de identificação. Esse é um nível de enunciação<br />
metonímico, da reprodução alienada, que significa manutenção de um estado de coisas. Um<br />
movimento de mudança de posição enunciativa (um processo necessário à produção<br />
inventiva e que se configura numa ação do professor), torna necessária uma mudança<br />
subjetiva. Essa mudança acontece numa recusa do professor e do aluno (que não é nem<br />
consciente e nem proposital, por isso trata-se de um ‘não-saber’) de manutenção do estado<br />
das coisas e a adoção uma forma diferente de escutar o Outro. Este é o nível metafórico do<br />
elo, do relacionamento. O gesto de avaliar do professor (que está num âmbito além do<br />
intencional) sai do âmbito da demanda do Outro (as imposições da instituição, as queixas<br />
dos alunos, os ditames dos especialistas em determinada ciência) quando se abre para o<br />
paradoxo de que ele só pode proporcionar um processo de subjetivação do aluno ao<br />
‘constatar’ que não existe controle sobre esse processo e nem há modelos ideais. Essa<br />
subjetivação se dá quando o sujeito deixa de ser um sujeito da demanda ou da procura e<br />
torna-se um sujeito de desejo (de saber, de ensinar...).<br />
Se o que temos para a análise é a materialidade, que por ser lingüístico-histórica tem<br />
um funcionamento no discurso, procuramos descrever e compreender esse funcionamento,<br />
passando da superfície lingüística para uma de-superficialização. Partimos de quem diz,<br />
como diz e em que circunstâncias. Nesse momento as representações imaginárias têm<br />
função primordial para levantar os vestígios de identificações do sujeito com o outro (o<br />
objeto, o si mesmo e o interlocutor) que se mostram no fio do discurso. Observamos então<br />
o que se dá no nível do esquecimento número 2, ou na impressão do que o que foi dito só<br />
poderia ser dito daquela maneira.<br />
Em se tratando do evento da avaliação, entendemos a noção de avaliação como<br />
gesto de interpretação (Orlandi, 1996). Como ressalta a autora, a interpretação está no<br />
sujeito, está em aberto, desliza, é dotada de singularidade para cada especialista da<br />
comunidade acadêmica em particular e, portanto, se manifesta em gestos. Estes gestos são<br />
regulados não só pelas instituições, que dispõem sobre o que se interpreta, como se<br />
interpreta, quem interpreta e em que condições, mas também pelo ‘não-saber’ inconsciente.