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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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com aspectos técnicos para aspectos políticos do afeto, ou seja, dar ao aluno o que ele<br />

precisará na hora da avaliação: prática semelhante à da avaliação, dar informação prévia,<br />

dar instrumentos. Já Tatiana aponta para uma contradição na contraposição da questão<br />

técnica da avaliação em relação à política do afeto. Vejamos a sua seqüência:<br />

(52) (...) a avaliação do desempenho oral, por exemplo, ela é subjetiva por natureza, visto<br />

que o avaliador é sempre um indivíduo, então, né, quer dizer, o indivíduo tem que ser<br />

treinado para evitar que...é...critérios....é....não....critérios....às vezes não objetivos<br />

interfiram na sua avaliação.(...) Se o desempenho daquele aluno, né, naquele momento<br />

não condizer com o que o professor conhece, o justo seria que o professor adequasse o<br />

resultado da sua avaliação ao que conhece do aluno e não àquele momento, é...então<br />

também, você dizer ao aluno que ele se saiu mal numa prova, quando você sabe que no<br />

cotidiano ele se desempenha muito bem, então isso eu não acho que também seja justo<br />

porque a avaliação tem que ser um retrato daquilo que o outro faz no cotidiano e se o<br />

retrato não condiz, tem que tirar uma outra foto.[Tatiana, p. 18]<br />

Visando à neutralidade, Tatiana instaura uma contradição fundamental ao construto<br />

da objetividade técnica: critérios que não sofram interferências implicam em neutralidade<br />

em relação ao aluno. Por outro lado, ela encampa a não-neutralidade em relação a esse<br />

mesmo aluno na afirmação de que a avaliação seja adequada ao que se conhece do aluno.<br />

Além disso, vemos, no domínio político-transferencial, tendências para atos heterogêneos<br />

de confissão, evidentemente caracterizadores de um elo identificatório que se configura,<br />

talvez, como protecionista, entre professor e aluno. Por exemplo, o professor confessa que<br />

o aluno pode ter ido mal porque a prova estava difícil, ou o aluno lhe confessa que não<br />

estudou ou não se dedicou. A expectativa de que o aluno se esforce faz parte desse<br />

processo de reprodução institucional. E no esteio da mera reprodução institucional, um<br />

outro gesto se configura. Vejamos a formulação de Maria:<br />

(53) Eu acho que uma avaliação justa é aquela que reflete o empenho do aluno em- em<br />

aprender e... em crescer dentro do- do material que foi oferecido a ele em sala de aula.<br />

[Maria, p.5]<br />

Maria, presa certamente a uma idéia de ensino linear, aciona a política de resistência<br />

ao emprego do afeto do professor ao aluno. Ela responsabiliza o aluno: é ele que tem de<br />

mostrar o seu empenho em aprender. Aliás, vale atentar para o fato de que o ato político do

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