Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
98<br />
fazendo com que a <strong>subjetividade</strong> se construa inteiramente na pluralidade, no pluralismo dos<br />
níveis de identificação que Lacan chamou de o ideal do eu, o eu ideal, ou o eu desejante.<br />
Para abrir caminho ao comparecimento do real, antes de tudo, é preciso reconhecer<br />
a ordem do não-todo. Nesse caso, trata-se de reconhecer que: a) não há uma LE única ,<br />
assim como não há uma língua materna (LM) única; b) não há um procedimento didático<br />
que funcione para todos os alunos; um a um, eles ‘aprendem’ ou não; c) não há resultado<br />
homogêneo conformado a um saber, uma vez que os percursos de cada aluno são<br />
singulares. Quanto à avaliação, critérios indiferenciados, presos à ilusória neutralidade<br />
científica são também excluidores, ao manterem o aluno ‘fraco’ à margem. Nem pode<br />
haver um professor que tudo saiba, pois é no lugar onde ele não sabe que ao aluno, como<br />
sujeito, é possibilitado ocupar o lugar de agente que possa construir algo ‘realmente’ seu. E<br />
para que aconteça a mudança subjetiva necessária há de se ter um tempo, no qual o sujeito<br />
possa perceber um antes (quando o sujeito se alienava a certos significantes) e um depois<br />
(quando a sua relação com a palavra se transforma). Riolfi (1999) propõe uma abordagem<br />
dos tempos envolvidos, ressaltando suas condições de produção: a escritura de uma<br />
monografia em curso de formação de professores do ensino de LM.<br />
1 º tempo – As certezas: vigência do Discurso Universitário. O aluno procura o saber<br />
(S2) que está no campo do Outro para ocupar o lugar da produção como sujeito-conforme-<br />
o-saber (que se representa no título Licenciado e ou Bacharel em Letras, especialista em<br />
Lingüística Aplicada, etc.). Nesse caso ele encarna na pele o significante mestre (S1) na<br />
ilusão perpetuada de que o real (a) está domesticado.<br />
2 º tempo – Os sustos: são os instantes relâmpagos nos quais os lapsos aparecem<br />
(nas condições específicas, são mais facilmente visíveis na escrita) podendo desestabilizar<br />
suposições ou certezas prévias, momentos que levam à desconfiança de uma imagem antes<br />
mantida e que neste instante se reduz a nada (a). Cabe dizer que é o momento precioso no<br />
qual o aluno ‘percebe’ que ele goza do lugar de não ser nada para que o professor goze de<br />
seu lugar de ser tudo (tudo saber). Este é o comparecimento do Discurso da Histérica.