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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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humanidade originariamente boa, que deveria desenvolver-se livremente via uma educação<br />

natural, espontânea, livre (Rousseau, 1995).<br />

No entanto, vale lembrar que foi na época clássica, como observou Foucault<br />

(1977:126), que o corpo foi descoberto como objeto e alvo de poder, quando as disciplinas<br />

(embora já existentes há séculos) se tornaram fórmulas gerais de dominação. A disciplina<br />

“estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação<br />

acentuada”. O detalhe ganha importância na prática disciplinar: a minúcia dos<br />

regulamentos, o olhar esmiuçante das inspeções no quadro da escola (analogamente ao<br />

quartel, ao hospital e à oficina) dão a racionalidade econômica ou técnica ao cálculo do<br />

ínfimo e do infinito. Os indivíduos são distribuídos no espaço (o modelo do convento chega<br />

aos colégios) e dentro da clausura organiza-se um espaço analítico, em localizações<br />

funcionais (a ocupação é de acordo com o uso). A disciplina “individualiza os corpos por<br />

uma localização que não os implanta, mas os distribui e os faz circular numa rede de<br />

relações”. Após 1760, há uma importante modificação técnica, o espaço escolar se<br />

desdobra em quadros, a classe torna-se homogênea, ou seja, é formada por elementos<br />

individuais colocados uns ao lado dos outros sob o olhar do mestre. A colocação é atribuída<br />

em relação a tarefas e provas.<br />

O controle do tempo é fundamental: tempo capitalizado, ritmado para aprendizagem<br />

rápida e econômica. O tempo global da formação tradicional controlado só pelo mestre dá<br />

lugar ao tempo disciplinar, composto de séries múltiplas e progressivas. Os diversos<br />

estágios são separados uns dos outros por provas graduadas. A colocação das atividades em<br />

‘série’ permite o controle e a intervenção pontual (de diferenciação, de correção, de castigo<br />

de eliminação) em momentos do tempo. Aí se revela um tempo linear, com os momentos<br />

integrados uns aos outros e que se orientam para um ponto terminal e estável. E no centro<br />

da seriação do tempo está o exercício, técnica pela qual se impõem aos corpos tarefas<br />

graduadas, embora repetitivas e ao mesmo tempo diferentes.<br />

A função de adestramento do corpo é garantida pelo poder disciplinar que tem o seu<br />

sucesso no uso do exame. Este, por sua vez, combina as técnicas da hierarquia que vigia e

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