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Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves

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relativa limitação representada numa nota inferior ao valor que possibilite alguma<br />

recuperação. Não houve recusa, ao contrário, mantém-se intacta mais uma reprodução da<br />

incapacidade. Teria esta aluna ‘realmente’ tido um acompanhamento às suas necessidades<br />

pressuposto num ensino centrado no processo (no desejo) do aluno? O gesto da professora<br />

parece explicitar várias contradições. A primeira seria a da injunção posta pelo documento<br />

acima citado de centrar o acompanhamento na escrita, ao invés imbricá-lo também com<br />

uma outra necessidade importante do aluno no qual o ensino se pressupõe centrado, ou seja,<br />

a enunciação oral que ainda se encontra mais faltosa. A segunda está em outra injunção: a<br />

voz da objetividade técnica e científica que concorre para legitimar sua decisão. Além<br />

disso, em seu gesto está implicada uma imagem de língua como impossível de se ‘saber’ e<br />

que, no entanto, e devido às condições de ensino institucionalizadas, tende a ser tratada<br />

muito mais como ‘conhecimento’. E ainda mais, em suas anotações, a professora exclui a<br />

presença da aluna ao evento, simbolizando em seu gesto que a falha da aluna não lhe<br />

permite nem ao menos estar ali (portanto, não há como lhe dar uma chance).<br />

2 º caso: A aluna F. fez seu projeto e apresentação, juntamente com uma outra<br />

colega, sobre Maneirismo na literatura e nas artes. A apresentação foi cuidadosamente<br />

preparada para impressionar a platéia (usaram até roupas que lembravam o século XVI e<br />

fizeram representações teatrais de pequenos trechos). F. apresenta a sua parte com<br />

desenvoltura, mas nem com todo o aparato que fizeram, não consegue camuflar o seu<br />

problema com a pronúncia e algum titubeio, os quais, em muitos momentos, inibem a<br />

inteligibilidade. Sua colega, A., falante mais autorizada, tem um papel mais proeminente.<br />

Os comentários de retroalimentação da professora ao final da apresentação foram somente<br />

referentes ao conteúdo da apresentação e a sua função de avaliadora é silenciada ali, como é<br />

de se esperar, uma vez que não é mais pertinente o seu ‘papel’ de corretora de uma<br />

pronúncia tão faltosa. Nas suas anotações escritas durante a apresentação não há menção ao<br />

problema da pronúncia de F. Somente no breve comentário das notas parciais é que consta<br />

a menção ao problema, assim escrita: Many pronunciation problems/expression problems<br />

in oral presentation. Portfolio showed an attempt to reflect that does not continue.

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