Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
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instituição, tais como as ementas dos cursos e os diários de classe (com os registros das<br />
notas).<br />
Concordando com Bartram &e Walton (1991) que as representações sobre língua, sobre<br />
aprendizagem e sobre o que é ser professor, entre outros fatores, influem na reação do<br />
sujeito ao erro, embora esta acepção não acampe toda uma questão histórico-discursiva e<br />
identificatória aí envolvida. Queremos ressaltar, nesta parte da análise, as imagens que os<br />
professores fazem de seu próprio desempenho no que se refere à tolerância ao erro ou<br />
exigência de perfeição. Vejamos as seqüências de três enunciadoras:<br />
(57) Me vejo como uma pessoa que consegue fazer aquilo que escolheu pra fazer bem<br />
feito.(...) o que sempre favoreceu o meu desempenho oral foi essa busca, né, de fazer as<br />
coisas bem feitas (...)Eu sempre quis é...melhorar...fazer o que eu fazia melhor(...)a<br />
gente vai aprendendo que...na vida...é...se você quer alguma coisa você tem que buscar,<br />
você tem que ir atrás. É...nada vem na sua mão, nada chega de presente. [Tatiana, p.22]<br />
(58) (...) como eu disse antes, eu sou um pouco exigente, às vezes eu percebo alguns<br />
erros, eu acho que...isso também faz parte do próprio aprendizado e eu...percebo que eu<br />
tô sempre aprendendo mais, às vezes por falta de usar as coisas acabo cometendo<br />
alguns erros (...) [Mônica, p. 67]<br />
(59) (...) eu sempre fui... uma aluna muito dedicada; sempre estudei a matéria que era<br />
dada, sempre me empenhei muito em aprender a língua e... sempre procurei fazer as<br />
provas, os testes, estando preparada para faze-los.(...) (...) O que... atrapalha, eu acho<br />
que, às vezes, é uma certa obsessão com o perfeccionismo. Acho que isso, acontecia<br />
principalmente... nos primeiros momentos em que...eu vivi no país de língua<br />
estrangeira...que eu queria imediatamente ter um desempenho avançado, super perfeito,<br />
mas depois de pouco tempo eu percebi que isso não era ... uma boa estratégia e eu<br />
mudei. [Maria, p. 6 e 8]<br />
No caso de Tatiana, Mônica e Maria ressoa a exigência de perfeição (e empenho<br />
para alcançá-la) nas expressões, fazer bem feito, sempre fazer melhor, tem que buscar, nada<br />
vem de presente, ser um pouco exigente, perceber os próprios erros, estar preparada, ter<br />
certa obsessão com o perfeccionismo, etc. Podemos observar uma deriva de sentidos na<br />
seqüência de Maria, ao constatar que o perfeccionismo atrapalhava o desempenho super<br />
perfeito. Com isso ela se permitiu um desempenho certamente mais falhado, onde há mais<br />
lugar para o erro.