Processo discursivo e subjetividade: vozes ... - Maralice Neves
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setor. Nestas, a ‘habilidade’ oral (falar e ouvir) deveria ser mais privilegiada nos níveis - I e<br />
III e os níveis II e IV privilegiariam a leitura e a escrita. Os níveis seguintes seriam<br />
flexíveis para atender às necessidades das turmas, mas com ênfase na escrita acadêmica.<br />
Junto a tais imposições, vêm se cruzar determinações de outros domínios, tais como, as<br />
representações que o professor faz de si, da turma com a qual vai trabalhar, da LE e da<br />
ciência (orientação comunicativa). Aliada a tudo isso ainda surge mais uma ‘variável’: a<br />
‘interferência’ da pesquisadora.<br />
8.2.2. Os gestos resultantes destas condições<br />
Diante de uma turma em desvantagem (comparada à turma do mesmo nível da<br />
manhã), o professor centra o ensino mais em si do que no aluno. Uma turma mais fraca<br />
pressupõe um ensino centrado num aluno com menor autonomia de aprendizagem – o que é<br />
corroborado por autores expressivos da literatura em Lingüística Aplicada 125 . Apesar desta<br />
turma estar no último nível, já considerado autorizado, ela possivelmente não é<br />
representada como tal pelos professores que elaboraram discutiram as normas para aquele<br />
semestre e certamente também pelo professor que assume a turma.<br />
Em relação às práticas orais, o depoimento desse professor nos mostra a sua<br />
representação de língua mais no âmbito do conhecimento, como algo analisável, lembrando<br />
sempre que são múltiplas as <strong>vozes</strong> que falam em seus gestos: falar a língua como brasileiro<br />
e não como nativo idealizado. Essa representação é contraposta ao que diz a ciência através<br />
do recorte que o professor possivelmente fez de seus estudos de formação: a fala tem<br />
especificidades diferentes da escrita e tais especificidades instrumentais devem ser<br />
enfatizadas (tomadas de turno, pausas, hesitações, repetições etc.) porque ele imagina que<br />
os alunos tenham uma representação idealizada de língua falada pautada pela escrita. A sua<br />
125 Nunan (1995), por exemplo, propõe um modelo de ensino centrado no aluno como um continuum entre<br />
relativamente centrado no professor até totalmente centrado no aluno. Ele parte do princípio (a partir de várias<br />
outras pesquisas) de que alunos principiantes (mesmo adultos) não sabem muito bem como e o quê querem<br />
aprender, uma vez que só vão sabê-lo após um tempo que a instrução está em curso.