Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:23 Página 113<br />
al gum sangue negro seria discriminada, sendo ro -<br />
tulada de negro3 . Desta maneira, ne gou-se o in -<br />
terculturalismo, pois somente exis tiria o bran co<br />
puro e os outros seriam ne gros. Bourdieu e Wac -<br />
quant (1998), discutindo esta questão para ressal -<br />
tar a especifi ci da de racista dos EUA, afir mam que:<br />
Os norte-americanos são os úni cos a definir “ra -<br />
ça” a partir so men te da ascendência e, exclu si va -<br />
mente, em relação aos afro-ame ricanos: em Chi -<br />
ca go, Los An geles ou Atlanta, a pessoa é “ne gra”<br />
não pela cor da pele, mas pelo fato<br />
de ter um ou vários parentes iden -<br />
tificados como negros, isto é, no<br />
termo da regressão, como es cra -<br />
vos. [...]. No Bra sil, a iden ti dade<br />
racial de fine-se pela refe rên cia a<br />
um con tinuum de “cor”, isto é,<br />
pe la apli cação de um princípio<br />
fle xível ou im preciso que, levando<br />
em consi deração tra ços fí si cos co -<br />
mo a tex tura dos ca be los, a for ma<br />
dos lá bios e do na riz e a posi ção<br />
de clas se (princi pal men te a renda<br />
e a edu cação) en gen dram um gran -<br />
de número de cate go rias in ter me -<br />
diá rias [...] e não im pli cam ostra -<br />
ci za ção radical nem estig ma tiza -<br />
ção sem re médio. (p.23)<br />
[...]Mas todos estes mecanismos que têm como<br />
efeito favorecer uma verdadeira ‘globalização’<br />
das pro ble máticas americanas, dando assim ra -<br />
zão, em um aspecto, à cren ça americano-cen -<br />
trista na ‘glo balização’ entendida, simples men te,<br />
como ame ri canização do mundo oci dental e, aos<br />
pou cos, de todo o universo, não são sufi ci en tes<br />
para explicar a ten dên cia do pon to de vista ame -<br />
ri ca no, erudito ou semi-erudito, sobre o mundo,<br />
para se im por co mo ponto de vista uni versal, so -<br />
bretudo, quan do se trata de ques tões, tais como<br />
a da “raça” em que a parti cula ri dade da situação<br />
americana é par ti cularmente fla grante e está par -<br />
ticularmente lon ge de ser exem plar. [...] Poderse-ia<br />
invocar, evi den te mente, o papel motor que<br />
desempenham as gran des fundações americanas<br />
de filantropia e pes quisa na difusão da doxa ra -<br />
Dessa maneira,<br />
criamos as possibilidades<br />
da interculturalidade<br />
emancipatória que vá além,<br />
por exemplo, do africanismo<br />
e do eurocentrismo, fazendo<br />
com que cada um assuma,<br />
não apenas a sua<br />
ancestralidade, mas,<br />
principalmente, a<br />
possibilidade de sermos,<br />
cada um, diferentes e<br />
multiculturais, mas também<br />
interculturais e igualitários,<br />
nos terrenos sociais e<br />
econômicos.<br />
cial norte-ame ri cana no seio do campo uni ver si -<br />
tário brasileiro, tanto no campo das repre sen ta -<br />
ções quanto das prá ticas. (p.25)<br />
Em direção à emancipação cultural e social<br />
Estudos e lutas culturais são fun damentais<br />
pa ra a constituição de uma sociedade democrá ti -<br />
ca, para os movimentos sociais e para o pro ces so<br />
educativo. Mas não podemos es quecer que vi ve -<br />
mos numa sociedade capitalista com ver go nhosas<br />
dife ren ças sociais e, neste sentido,<br />
não te ríamos como tornar invisível<br />
a to ta lidade so cial e as di fe renças de<br />
classes, cen trando lutas e es tu dos<br />
ape nas no di reito à di ver sidade cul -<br />
tural. Os estudos cul tu rais te riam<br />
muito mais sentido se fos sem pre -<br />
ser vadas as ca tegorias diversas, co -<br />
mo trabalho, di ferenças sócio-eco -<br />
nô micas, inte res ses de clas ses, igual -<br />
da de, direitos hu ma nos, luta pelo so -<br />
cia lismo, eman ci pação hu ma na, alie -<br />
nação, pois igual dade só cio-econô -<br />
mi ca e di fe ren ças cultu rais não se<br />
excluem. Pe lo con trário, quase sem -<br />
pre são par te do mesmo pro ble ma.<br />
Conci liá-los é um grande desafio<br />
dos mo vi men tos políticos, sociais,<br />
pe da gó gicos e cul tu rais. Di zem os<br />
edu ca do res es ta dunidenses Mc La ren e Fa rah -<br />
man dpur (2002):<br />
Racismo, sexismo e exploração econômica con ti -<br />
nuarão a nos ron dar neste mi lê nio, a menos que<br />
ali an ças transnacionais possam ser cri a das, com su -<br />
cesso, entre os grupos da clas se traba lha dora e dos<br />
mar gi na li za dos, através da mo bi li zação política em<br />
torno de questões que in cluem a ex plo ração eco -<br />
nômica, o racismo, o se xis mo e a ho mo fobia. Tal<br />
mo bili za ção não deve con sistir em amál ga mas fei -<br />
tos res tri tamente de es for ços se pa rados (i.e., par ti -<br />
cu la ris mos militan tes), mas deve girar em torno de<br />
uma luta interna cio na lista mais ampla, an ti capi ta -<br />
lista, pela justiça social e econô mica (p.105).<br />
Historicamente, as classes populares abri gam<br />
as mesmas pessoas que, quase sempre, são ví ti -<br />
Universidade e sociedade DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 113