Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:14 Página 17<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
Na universidade, o trabalho em grupo assu -<br />
me as mesmas características; desta caremos aqui<br />
apenas algumas mais fundamentais que remetem<br />
à natureza do trabalho docente. Vale acrescentar<br />
que o trabalho docente se realiza predo mi nan te -<br />
mente na ausência de condições materiais ade -<br />
qua das, ou seja, na universidade, o trabalho em<br />
grupo: transforma-se em um instrumento de po -<br />
tencialização da competitividade e de enfra que -<br />
cimento de uma possível solidariedade de classe;<br />
estabelece clivagens ao segmentar os traba lha do -<br />
res entre aqueles que cumprem as metas e aqueles<br />
não as cumprem, criando divisão política e<br />
ideo lógica; gera uma sensação constante de<br />
estresse e insegurança, com relação ao anseio de<br />
manu ten ção dos patamares de produtividade,<br />
deter mina dos pelas agências de fomento (transfi -<br />
guradas ago ra nos capatazes dentro da univer -<br />
sidade); trans forma a produção do<br />
co nhe ci mento em uma linha de<br />
produ ção, onde a qualidade perde<br />
es pa ço para a quantidade. Somamse<br />
a isso a fal ta de recursos neces sá -<br />
rios à pro dução (do conheci men -<br />
to), a in ten sificação dos rit mos do<br />
tra ba lho (se ja na gradua ção ou na<br />
pós-gra duação), o achatamento sa -<br />
larial e a tendência de perda de<br />
direitos e tem-se, como resultado,<br />
o quadro de precarização do tra ba -<br />
lho que tam bém se manifesta, de<br />
uma for ma mais geral, no con texto<br />
de ou tros segmentos do pro -<br />
letariado. En cerraremos, aqui, o<br />
exame das de terminações obje ti vas<br />
e subje ti vas, mais gerais, do pro -<br />
cesso de pre carização do tra ba lho e<br />
das me dia ções que envol vem este fe nô me no com<br />
a ativi da de docente, na uni versi dade pú bli ca, e nos<br />
detere mos, agora, em uma outra di mensão da nova<br />
he ge mo nia do capital: as im plicações políticas do<br />
fe nô meno da precari za ção em sua dimensão subje -<br />
ti va.<br />
E, os docentes?<br />
Criadas as condições objetivas para o apro -<br />
A nova geração de docentes<br />
do ensino superior<br />
constitui-se, em sua maioria,<br />
de jovens profissionais<br />
formados já na conjuntura<br />
de avanço do neoliberalismo<br />
(a partir dos anos 90),<br />
tanto na universidade<br />
quanto nos mais diversos<br />
espaços da sociedade<br />
brasileira e que, de certa<br />
forma, tende a incorporar<br />
elementos dessa nova<br />
hegemonia em sua<br />
prática política.<br />
fundamento da nova hegemonia do capital na<br />
uni versidade pública, percebe-se uma grande<br />
ade rência dos docentes a tal projeto. Isto se dá<br />
en tre os professores mais antigos, como também<br />
entre os mais novos. Entre a nova geração de<br />
pro fessores, a situação tende a ser mais grave. Es -<br />
ta geração se insere na carreira no momento em<br />
que a nova sociabilidade proposta pelo ca pi tal se<br />
capilariza no ambiente universitário, ou se ja, no<br />
contexto político-ideológico da hege monia neo -<br />
liberal e no momento em que univer sidade pú bli -<br />
ca se aproxima mais do ethos em presarial. Este<br />
pro fissional sucederá uma geração de pro fessores<br />
que viveram um momento im por tante de luta em<br />
defesa da democratização e de forta le cimento da<br />
universidade pública. A nova gera ção de docen -<br />
tes do ensino superior cons titui-se, em sua maio -<br />
ria, de jovens pro fis sio nais formados já na con -<br />
jun tura de avanço do neo li be -<br />
ralismo (a partir dos anos 90), tanto<br />
na universidade quanto nos mais<br />
diversos espaços da so cie da de bra si -<br />
leira e que, de certa forma, tende a<br />
incorporar ele men tos des sa nova<br />
hegemonia em sua prática política.<br />
Embora esse con junto de profes so -<br />
res não neces sa ria mente adira à<br />
nova hegemonia do capital, en -<br />
contra-se mais vul ne rá vel ideo lo gi -<br />
camente ao pro cesso de des po li ti -<br />
za ção do debate sobre a fun ção so -<br />
cial da univer si dade, pelo enfra que -<br />
cimento do conceito de es fera pú -<br />
blica, em seu interior, e que pro cura<br />
reduzir o seu ho ri zon te de ação a<br />
um tipo de ime diatismo que asso -<br />
cia, cada vez mais, as uni ver si dades<br />
à lógica do mer ca do, so mente. Neste ce nário, cam -<br />
peia o individua lismo e produ tivismo des -<br />
politizante. O produ ti vis mo des poli tizador seria<br />
aquele cuja ação se baseia em si mes ma e não pro -<br />
blematiza suficien temente as con dições de tra -<br />
balho, no âmbito da instituição uni versitária, ou<br />
não re laciona a pro dução cien tifica com o cenário<br />
político em que ela se dá. O in di vi dua lismo trans -<br />
forma a univer si da de em lo cal on de se privi le giam<br />
Universidade e sociedade DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 17