Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:26 Página 153<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
dado. Se, há uma década, contávamos com pou -<br />
cos eventos e, predominantemente, de dimensões<br />
diminutas ou medianas, é espantosa a situação a<br />
que chegamos hoje. Além de os en contros cien -<br />
tíficos serem numerosos, as dimensões que assu -<br />
miram não encontram paralelo. Se, anterior men -<br />
te, ia-se para os eventos para assistir e ouvir al -<br />
guns poucos intelectuais – no sentido que lhes<br />
atri bui Jacoby (1990) -, professores, pesqui sa do -<br />
res, autores, hoje a situação está invertida. É tanta<br />
a pressão por publicar, por expor o que se faz,<br />
que, não poucas vezes, há mais ex positores do<br />
que ouvintes. Mudou a natureza dos<br />
eventos – em termos de nú mero e<br />
dimensão -, mas pou cas mudanças<br />
foram ope ra das no seu de sen vol vi -<br />
mento, a ponto de predo mi nar a<br />
relação ou vinte-ex positor, tor nada<br />
mais complexa pe lo pouco tem po de<br />
exposição, e menos ainda de discussão,<br />
uma vez que são mui tos expositores<br />
para pouco tem po destinado a<br />
cada um, no curto es pa ço dos eventos.<br />
Claramente, os Encontros, Se -<br />
mi ná rios, Simpósios foram indu zi -<br />
dos ao gigantismo e, hoje, sofrem de<br />
ele fantíase. O que os demanda é<br />
mais a necessidade de criar loci que<br />
propi ciem a pós-graduandos e pro -<br />
fessores expor e relatar suas pes qui -<br />
sas, no estágio em que se encontram,<br />
uma vez que o Programa e todos os<br />
en vol vidos são avaliados pela produ -<br />
ção. Subverteu-se o que havia de ne -<br />
ces sário, de saudável, de desejável na<br />
organização dos eventos, que era a possibilidade<br />
de socializar dúvidas, an gústias, achados, descobertas;<br />
pro cu rar par cei ros para desenvolver pesquisas<br />
gru pais; esta be lecer interlocuções com<br />
colegas de ou tras ins ti tui ções e áreas, aprofundando<br />
laços, desen vol vendo pesquisas interinstitucionais<br />
etc.. Para le lamente ao importante e<br />
necessário hábito de so cializar e discutir os processos<br />
e os resul ta dos das pesquisas, na busca de<br />
atender às atuais de man das, passam a ser criadas<br />
É tanta a pressão por<br />
publicar, por expor o que se<br />
faz, que, não poucas vezes,<br />
há mais expositores do que<br />
ouvintes. Mudou a natureza<br />
dos eventos – em termos<br />
de número e dimensão -,<br />
mas poucas mudanças<br />
foram operadas no seu<br />
desenvolvimento, a ponto<br />
de predominar a relação<br />
ouvinte-expositor, tornada<br />
mais complexa pelo pouco<br />
tempo de exposição, e<br />
menos ainda de discussão,<br />
uma vez que são muitos<br />
expositores para pouco<br />
tempo destinado a cada<br />
um, no curto espaço<br />
dos eventos.<br />
estratégias que, além de esbarrar em aspectos<br />
questionáveis, tan to na pers pectiva acadêmica<br />
quanto na ética, co mo é o caso de encaminhar<br />
trabalhos, ter a garan tia de que estarão nos anais<br />
do evento, e não com pa recer para apresentá-los e<br />
discuti-los, ou mes mo, solicitar a um colega ou<br />
orientando que apre sente no lugar.<br />
Gradativamente, os envolvidos na Pós-gra -<br />
duação começam a questionar e a denunciar o ca -<br />
ráter utilitarista e redutor desses eventos, os pro -<br />
cessos e os resultados de pesquisas e sua socia -<br />
lização, com tantos condicio nantes, particu lar -<br />
mente na questão do tem po que<br />
seria necessário para permi tir o aprofundamento,<br />
o aden sa men to, a formação,<br />
como apon ta Chauí (2003).<br />
Ao mesmo tem po, vigorosas críticas<br />
são cons truídas, como a de Moraes<br />
(2001), denun ci an do os riscos do “re -<br />
cuo da teo ria”, e a de Warde (2006),<br />
anali sando os li mi tes de se “fazer pes -<br />
qui sa em tem pos de pesquisa admi -<br />
nis trada” 34 .<br />
Se chegamos a este extremo,<br />
com tantos aspectos questionáveis,<br />
não seria o caso de, “para além da<br />
cur vatura da vara” (SAVIANI, 1984),<br />
tomar iniciativas, fazer enca mi nha -<br />
mentos no sentido de repen sar a di -<br />
mensão e a freqüência dos even tos?<br />
Não seria hora de se pen sar em<br />
even tos menores, mais dis se mi na -<br />
dos, presenciais ou virtu ais, onde a<br />
so cialização e a discussão tomassem<br />
a maior parte do tempo? Será que<br />
responder a induções é o único e úl -<br />
ti mo caminho que nos resta?<br />
10. Expansão do número de IES versus qualificação<br />
do corpo docente<br />
As estatísticas dão conta da expansão, sem<br />
pre cedentes, do número de Instituições de En si -<br />
no Superior. Esta expansão, muito mais do que<br />
ser decorrência de uma política pública 35 , caracte -<br />
ri za-se mais como uma rendição ao mer cado,<br />
com iniciativas que não escondem a sub missão da<br />
DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 153