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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:17 Página 48<br />

Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />

que rem aprender, superar o que sabem, mer gu -<br />

lhar no desco nhe cido e des vendá-lo. Falamos de<br />

es tu dantes em tempo in te gral e não do turno ma -<br />

tu ti no, ves pertino ou no turno. Falamos de es tu -<br />

dan tes que expulsam o pro fessor que se li mita a<br />

dar aulas sem pre para ção e prefere os chamados<br />

se mi nários. Fa lamos de estudantes que fazem<br />

abai xo-assinado contra o professor que não cor ri -<br />

ge as provas, aliás, fala mos de es tu -<br />

dantes que rene gam o pro fessor que Em uma sociedade em<br />

não aplica provas, redu zin do suas que a cultura é banalizada,<br />

avaliações a tra balhos, que não cor -<br />

a educação reduzida à<br />

rige. Falamos também de uma so cie -<br />

formação profissional e o<br />

dade que es pera que a univer sidade<br />

for me os melhores para pen sar a ciên - indivíduo necessita vender<br />

cia, a arte, as letras e a filo sofia, pro - a sua força de trabalho,<br />

cu rando compreender os proble mas não é, definitivamente,<br />

mais pro fun dos vividos pela so cie da - uma questão vocacional,<br />

de e apontar os ca mi nhos da su pe - a opção, por exemplo,<br />

ração e não os da con for mação. Fa la -<br />

por ser professor ou juiz,<br />

mos de uma so cie da de que, ao en viar<br />

sabendo que o primeiro<br />

os seus fi lhos para a univer sidade, de -<br />

tem um piso salarial de<br />

seja que eles se tor nem me lhores e<br />

não apenas con for mados, que ren do oitocentos e cinqüenta<br />

somente se dar bem na vida.<br />

reais por mês e, o<br />

Portanto, fala-se de uma uni - segundo, dezenove mil<br />

ver sidade que não existe e, a rigor, e quinhentos reais.<br />

ja mais existirá. Mas o problema não<br />

está aí. A questão central é que não se pergunta<br />

mais a res pei to da natu reza, do sentido da uni -<br />

versidade. Aliás, não se per gun ta mais a res pei to<br />

da na tu reza de quase nada. Ocu pa-se, tão-so men -<br />

te, com o tempo pre sente, mais que isso, o tem po<br />

ime diato. É exatamente isso que es tão que rendo<br />

da uni ver si dade, e ela, que está pen sando pouco,<br />

tem atendido às demandas que lhe são apre sen ta -<br />

das, sobretudo as instituições particula res, que<br />

absor vem com mais rapidez os princípios da efi -<br />

ciên cia, da flexibilidade, do me nor custo e são<br />

mais sen síveis às mudanças do mundo globa li za -<br />

do. As uni versidades públicas, sobretudo as fe de -<br />

rais, são qualificadas como len tas, rígidas, de sa tua -<br />

lizadas, elitistas, onerosas para o Estado.<br />

As reformas propostas, em qualquer das suas<br />

versões e, na mais recente, deno minada Uni ver -<br />

sidade Nova, não apresentam nada de novo, a<br />

48 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />

não ser uma outra con figuração, que a rigor, ade -<br />

qüa as IFES aos re clamos de uma cultura qualifi -<br />

cada de mo derna, pois cons tatam a ca rência existente<br />

e dese jam recu perar, com poucas lições,<br />

distri buídas em três anos, o que os ní veis de en -<br />

sino fun da mental e mé dio não foram ca pazes de<br />

de sen volver, em cerca de quatorze anos de estudos.<br />

Fa lam, para esse fim, até em tutoria para ajudar<br />

os estu dan tes em suas es colhas “de<br />

acor do com as apti dões, vocações e<br />

com pe tências” (AL MEI DA FI -<br />

LHO, 2007b, p. 15).<br />

Em uma sociedade em que a<br />

cultura é ba na lizada, a educação re -<br />

duzida à for mação profissio nal e o<br />

indivíduo necessita ven der a sua<br />

for ça de trabalho, não é, definiti va -<br />

mente, uma questão vocacional, a<br />

op ção, por exemplo, por ser pro fes -<br />

sor ou juiz, sabendo que o primeiro<br />

tem um piso salarial de oi tocentos e<br />

cinqüenta reais por mês e, o se gun -<br />

do, dezenove mil e quinhentos reais.<br />

A respeito da cultura e tudo<br />

que ela re pre senta em nossa socie -<br />

da de, Jean Starobinski diz:<br />

[...] longe de iluminar o mundo humano,<br />

velam a transparência natural, separam os<br />

homens uns dos outros, particularizam os inte res -<br />

ses, destroem a comunicação essencial das almas<br />

por um comér cio factício e desprovido de since ri -<br />

dade; assim se constitui uma sociedade em que ca -<br />

da um se isola em seu amor-próprio e se protege<br />

atrás de uma aparência mentirosa. Paradoxo sin -<br />

gular que, de um mundo em que a relação econô -<br />

mica entre os homens parece mais estreita, faz<br />

efe tivamente um mundo de opacidade, de men -<br />

tira, de hipocrisia. [...] A perversão que daí resulta<br />

provém não apenas do fato de que as coisas se<br />

interpõem entre as consciências, mas também do<br />

fa to de que os homens, deixando de identificar<br />

seu interesse com sua existência pessoal, iden tifi -<br />

cam-no doravante com os objetos interpostos que<br />

acredi tam indis pen sáveis à sua felici dade. O eu do<br />

ho mem social não se reconhece mais em si mes -<br />

mo, mas se busca no exterior, entre as coisas; seus<br />

Universidade e sociedade

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