Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:24 Página 120<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
da sala de aula; o desenvolvimento de práticas pe -<br />
dagógicas que propiciem bons resultados. Para<br />
muitos professores a maior dificuldade é lidar<br />
com o que é considerado um papel já superado,<br />
ou em vias de extinção, pela própria tecnologia<br />
existente, ou seja, a transmissão do conheci men -<br />
to (CUNHA, 2001; MASETTO, 2002), essa ver -<br />
da deira caixa-preta1 do exercício docente.<br />
Podemos visualizar, quando analisamos o<br />
do cente universitário no cotidiano institucional,<br />
um processo de intensificação de seu trabalho.<br />
De acordo com Hargreaves, apoiando-se nas teo -<br />
rias de Larson sobre trabalho,<br />
[...] ‘a intensificação [...] representa uma das ma nei -<br />
ras mais tangíveis através das quais os pri vi lé gios de<br />
trabalho dos empregados instruídos so frem uma<br />
erosão’. Com efeito, ‘representa uma que bra, muitas<br />
vezes abrupta, na orientação para o lazer esperada<br />
por muitos trabalhadores não-manuais privile gia -<br />
dos’, no sentido em que ‘com pe le a redução do tem -<br />
po do dia de trabalho du ran te a qual não é produ -<br />
zida qualquer mais-va lia’(1998, p.132-133).<br />
Esse processo de intensificação indica, de um<br />
lado, a escassez de tempo de preparação, o que<br />
apresenta como solução, “traduções simplifi ca -<br />
das de saberes especializados impostos exter na -<br />
mente” (APPLE apud HARGREAVES, 1998,<br />
p.134); de outro lado, há o apoio voluntário de<br />
muitos professores à intensificação, confundida<br />
com o profissionalismo. Densmore 2 (apud HAR -<br />
GREAVES, 1998) relata que há casos de pro fes -<br />
soras que, movidas por um sentimento de dedi -<br />
ca ção profissional, acabavam por assumir res pon -<br />
sabilidades adicionais, depois do horário de tra ba -<br />
lho e à noite, criando lições suplemen ta res.<br />
Pensamos que a intensificação do trabalho do<br />
professor universitário é representada, por exemplo,<br />
pela transformação de “sobrecarga de trabalho<br />
temporária”, quando da produção de tra -<br />
balhos dentro de prazos estabelecidos, em “so -<br />
bre carga crônica e persistente” (HARGREA -<br />
VES,1998). Ela pode contribuir, por exemplo,<br />
pa ra a desmobilização do professor quanto à par -<br />
ti cipação em espaços coletivos de reflexão e ação<br />
sobre a profissão docente, como os órgãos de<br />
120 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />
clas se ou associações.<br />
Nesse contexto de dilemas e desafios, o pro -<br />
fessor universitário é chamado a contribuir, tanto<br />
no campo do ensino, como, também, da pes qui -<br />
sa, da extensão, da administração, quase simulta -<br />
neamente 3 . Aliada a isso, apresenta-se a necessi -<br />
dade de desenvolver parcerias com instituições<br />
públicas e particulares, buscando melhorar a pro -<br />
dutividade de sua instituição, ou, muitas vezes,<br />
complementar seu salário. Contudo, a profissão<br />
de professor universitário requer, ainda, a pro du -<br />
ção de conhecimento de diferentes naturezas. Pa -<br />
ra tanto, investe-se em “treinamentos”, “aper fei -<br />
çoa mentos 4 ”, organizam-se congressos, reu niões,<br />
seminários em áreas específicas, cujo ob je tivo é<br />
promover o desenvolvimento, a sociali za ção da<br />
produção, das descobertas e, pode-se di zer, a for -<br />
mação científica do professor univer si tário. En -<br />
tretanto, o desenvolvimento da pesquisa não pro -<br />
move, necessariamente, mudanças no tra ba lho<br />
do cente, em sala de aula. Candau (1997), in clu -<br />
sive, levanta a hipótese de que quanto maior o<br />
envolvimento com a pesquisa e a pós-gradua ção,<br />
me nor é a preocupação com a formação de pro -<br />
fes sores. Então, se a dedicação à pesquisa po de<br />
apresentar um afastamento do professor uni ver -<br />
sitário da formação de outros professores, o que<br />
dizer da própria formação para o ensino?<br />
Diante disso, pode haver um descompasso<br />
en tre o campo de produção de conhecimentos ci -<br />
en tíficos e o de aprendizagem e desenvolvi men to<br />
de outros saberes da profissão 5 . Certa men te, o<br />
professor avança na produção científica, mas isso<br />
não garante o avanço quanto aos co nhe cimentos<br />
e estratégias sobre o ensinar. Assim co mo existe<br />
uma situação de “menor status aca dê mico”, den -<br />
tro das universidades, em termos das licencia tu -<br />
ras (PEREIRA, 2000, p. 137; ZABAL ZA, 2004),<br />
também, acreditamos existir situação homóloga<br />
em relação ao ensino, pois o que pro jeta o pro -<br />
fes sor e lhe dá status acadêmico é a pro dução<br />
cien tífica. Aqueles professores que articu lam a<br />
produção acadêmica com o ensino estão, hie rar -<br />
quicamente, em segundo lugar. Contudo, se o<br />
pro fessor dedicar-se a questões de ensino e de<br />
educação, de maneira geral, será visto em últi mo<br />
Universidade e sociedade