Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:14 Página 29<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
petitivas, na linguagem econômica, no mercado,<br />
podendo assim alavancar mais recursos da iniciativa<br />
privada. É uma lógica perversa e des truidora.<br />
Perversa, na medida que está criando entre os<br />
docentes um sentimento de que são os responsá -<br />
veis pelos insucessos que, por ventura, a institui -<br />
ção a qual pertencem venha a sofrer. Destrui do -<br />
ra, porque isso vem aumentando o trabalho des -<br />
se profissional, incluindo-o nas estatísticas, que<br />
cada dia são mais significativas, das doenças nervosas,<br />
psicológicas e mentais, tais como a síndro -<br />
me do pânico, a depressão, o esgotamento, (ES -<br />
TE VE, 1999), levando-o a ter uma baixa estima e<br />
pouca confiança em si próprio.<br />
Uma tentativa de finalizar o que está em curso<br />
O pragmatismo do qual a Universidade vem<br />
se revestindo tornou-a uma instituição que pre -<br />
cisa produzir para sobreviver, transplantar os<br />
prin cípios do mercado para o exercício gerencial,<br />
fazer mais com menos, no discurso da eficiência<br />
e da racionalidade próprios da economia. Essa<br />
ló gica da racionalidade econômica foi implan -<br />
tada pelos organismos internacionais que passa -<br />
ram a dar as diretrizes para o setor educacional,<br />
na medida em que identificaram neste uma fer -<br />
ramenta eficiente para impulsionar o desenvol vi -<br />
mento econômico de um país. Mas, para tanto,<br />
era necessário modificar suas finalidade originais,<br />
aquelas que aparecem tanto no momento em que<br />
esses espaços de cultura surgiram no século XIII,<br />
quanto aquelas que foram reforçadas na chamada<br />
universidade moderna ou humboldtina. A<br />
preo cupação com a produção do conhecimento e<br />
a so cialização deste foi a base dessa instituição. A<br />
preocupação com a sociedade é uma outra marca<br />
que distinguia a academia em relação a outras<br />
ins tituições que, por vezes, desempenhavam fun -<br />
ções semelhantes.<br />
A globalização teve um papel importante na<br />
de finição dos novos papéis que a Universidade<br />
de veria passar a desempenhar, nessa nova or dem<br />
econômica, na qual emergia uma socie dade cha -<br />
mada “do conhecimento”. Nesse contexto, um<br />
dos principais protagonistas dessa institui ção de<br />
educação, o professor, foi atingido na sua ple ni -<br />
tude. A produção de conhecimento se vol tou pa -<br />
ra atender as exigências do mercado, nu ma he te -<br />
ro nomia, materializada pela subor dinação do pú -<br />
blico ao privado. O capitalismo acadêmico pas -<br />
sou a ser uma realidade no inte rior dessas ins ti -<br />
tui ções que deveriam ser autô no mas, demo crá -<br />
ticas e referenciadas pela so cie dade. Para tanto<br />
hou ve necessidade de desregu lamentar a uni ver -<br />
si dade e estabelecer novas re gu lações, a partir<br />
des sa realidade for jada pela mercantilização e pe -<br />
lo empresaria men to da edu cação.<br />
A falta de investimento por parte do governo<br />
tornou o professor um empreendedor, que pre -<br />
cisa buscar recursos para financiar suas pesquisas<br />
e, para tanto, tem que atender aos critérios das<br />
agências de fomento, que se assentam numa con -<br />
tabilidade acadêmica e num quantitativismo ab -<br />
sur do. Essa lógica vem dominando os pro fes sores<br />
que têm, por uma questão de sobrevivência aca -<br />
dê mica, se inserido nessa racionalidade téc nica,<br />
modificando seus hábitos e sua rotina, pas sando a<br />
produzir a mais valia, absoluta e relativa.<br />
Essa situação tem estabelecido uma nova for -<br />
ma de convivência entre os professores, criando<br />
desconfianças, acirrando competiti vidades e pro -<br />
duzindo, em grande escala, embora com exce -<br />
ções, produções que são apresentadas em forma<br />
de artigos ou comunicações, mas, por vezes,<br />
pou co lidas. Além desses aspectos outros de mai -<br />
or importância estão acontecendo, como os rela -<br />
ti vos à saúde do professor, ao lazer, à vida fami -<br />
liar e à sanidade física e mental. O fato começa a<br />
se agravar e a ocupar um lugar na agenda dos es -<br />
tu diosos, que têm utilizado os próprios artigos<br />
para discutir o assunto.<br />
Contudo, essa não é uma realidade dada, ela foi<br />
criada e, como tal, num processo dialético, ela pode<br />
ser destruída e construída, ou reconstruída. As fun -<br />
ções sociais desse espaço, que deve ser da produção<br />
de um conhecimento engajado, com pro metido<br />
com o social, com a construção de uma outra socie -<br />
dade, envolve, nessa caminhada, o movimento do -<br />
cente organizado, sobretudo o sindicato, que tem<br />
desempenhado um papel fun damental na direção<br />
da defesa da educação como um direito humano<br />
fundamental, um bem aces sível a todos.<br />
Universidade e sociedade DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 29