Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:28 Página 197<br />
Cabe aqui chamar a atenção para o fato de<br />
que Fea therstone considera bastante relevante a<br />
ques tão da “cultura” de consumo, pois para ele<br />
se ria pouco esclarecedor considerar o con sumo<br />
como exclusivamente derivado das relações de<br />
produção. Esta posição do autor vem numa ótica<br />
oposta à elaborada por Marx sobre a relação entre<br />
a produção e o consumo na socie dade. Portanto,<br />
pa ra Featherstone, se é possível afirmar que há<br />
uma “lógica do capital” derivada da produção,<br />
seria possível também afirmar que há uma “lógica<br />
do consumo” que sinaliza modos estru tu rados<br />
de usar bens, para demarcar relações sociais. Esta<br />
au to nomização da esfera do consumo posta pelo<br />
au tor e, sobretudo, o deslocamento para o âm bito<br />
do prazer, que os indivíduos teriam, no acesso e<br />
uso dos produtos, de certa forma, traz um peri go -<br />
so viés de leveza na lógica reprodutiva do capital,<br />
induzindo o leitor a acreditar na possi bilidade de<br />
uma esfera da fruição que diria res pei to a escolhas<br />
individuais e à satisfação pra zerosa das necessi da -<br />
des. Em suma, restaria au sente desta formulação<br />
o sofrimento da maioria que tem acesso limitado<br />
ao mundo das mercadorias.<br />
A perspectiva apontada acima, é confirmada<br />
pe la maneira como Fea therstone compreende a<br />
re le vân cia e a disseminação da cultura de massas,<br />
na sociedade, visto que, para ele, uma de termi -<br />
nada mercadoria pode ter um valor simbólico de<br />
contemplação, desejo etc., pro porcionando gran -<br />
de satisfação.<br />
É nesse sentido que podemos designar o aspecto<br />
“duplamente” simbólico das mercadorias nas so -<br />
cie dades ocidentais contemporâneas: o simbo lis -<br />
mo não se evidencia apenas no design e no ima gi -<br />
ná rio embutido nos processos de produção e mar -<br />
keting; as associações simbólicas das merca do rias<br />
podem ser utilizadas e renegociadas para en fatizar<br />
diferenças de estilo de vida, demarcando as rela -<br />
ções sociais (FEATHERRSTONE, 1995, p.35).<br />
Neste aspecto, observa-se que, na sociedade<br />
atual, uma parte bastante significativa da pro -<br />
dução 4 é voltada para o consumo individual e,<br />
por tanto, seria possível verificar, segundo Fea -<br />
ther stone (1995), uma crescente relevância da<br />
Debates Contemporâneos<br />
produção de bens simbólicos, imagens e infor -<br />
mação. Ainda segundo os argumentos do autor, a<br />
cultura de consumo pressupõe individualidade,<br />
auto-expressão e consciência estilizada de si, liga -<br />
dos a um estilo de vida. Para ele:<br />
[...] o corpo, as roupas, o discurso, os entrete ni -<br />
mentos de lazer, as preferências de comida e be bi -<br />
da, a casa, o carro, a opção de férias, etc. são vistos<br />
como indicadores da individualidade do gosto e o<br />
senso de estilo do proprietário consu mi dor. (Ibi -<br />
dem, p.119).<br />
Além disso, o autor busca abarcar a cultura de<br />
consumo não somente em termos da demanda,<br />
que é fruto da produção em massa da lógica do<br />
capitalismo5 , mas, também, se propõe a descobrir<br />
quais seriam os grupos ou frações de classes mais<br />
especificamente envolvidas na produção simbó -<br />
lica de imagens e informações promove doras de<br />
estilo de vida. Em suma, para Featherstone:<br />
Usar a expressão ‘cultura de consumo’ significa<br />
en fatizar que o mundo das mercadorias e seus<br />
prin cípios de estruturação são centrais para a<br />
com preensão da sociedade contemporânea. Isso<br />
envolve um foco duplo: em primeiro lugar, na di -<br />
mensão cultural da economia, a simbolização e o<br />
uso de bens materiais como ‘comunicadores’, não<br />
apenas como utilidades; em segundo lugar, na economia<br />
dos bens culturais, os princípios do mer -<br />
cado – oferta, demanda, acumulação de capi tal,<br />
competição e monopolização – que operam ‘dentro’<br />
da esfera dos estilos de vida, bens cul tu rais e<br />
mercadorias (Ibidem, p.121).<br />
O prazer e a cultura entrelaçam-se na análise<br />
deste autor, que, ao assim proceder, separa o consumo<br />
da produção da mais-valia e omite a sua<br />
subordinação à ideologia burguesa, que cria “signos”<br />
e símbolos artificiais para garantir a re -<br />
produção ampliada, que só pode ser possível com<br />
a realização da mercadoria no âmbito do con su -<br />
mo individual.<br />
Essa recriação de signos é vista, ainda de que<br />
forma distinta da exposta acima, por Jean Bau -<br />
dril lard (1995), que propõe o conceito de merca -<br />
do ria-sig no. Para este autor, na sociedade atual, a<br />
merca do ria transformou-se em signo. Ou seja, a<br />
DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 197