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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:24 Página 122<br />

Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />

que se ensina, como se fosse possível não pro du -<br />

zir conhecimento sobre a ação de ensinar” (FER -<br />

NANDES, 2002, p.99).<br />

Pode-se destacar que muitos professores não<br />

possuem uma formação pedagógica (das ciências<br />

da educação, da didática…) ou mesmo uma in -<br />

serção no campo das ciências humanas e sociais,<br />

que sirva de repertório e fundamento ao exer cí -<br />

cio de ensinar, sendo, pois, um instrumento de<br />

compreensão de sua própria tarefa como edu ca -<br />

dor (CUNHA, 2001).<br />

Uma explicação para a ausência de formação<br />

para o ensino superior encontra subsídios na ori -<br />

gem, contexto e modelo inspirador da Univer si -<br />

dade Brasileira. Esta instituição nasceu inspirada<br />

no padrão francês da universidade napoleônica,<br />

mas com adaptações, caracterizada pela autar -<br />

quia, supervalorização das ciências exatas e tec -<br />

nológicas, desvalorização da filosofia, da teologia<br />

e das ciências humanas; e pela atuação estanque<br />

dos cursos voltados para a profissionalização,<br />

sen do desprovida de um conteúdo político, co -<br />

mo instituição centralizadora. A perspectiva de<br />

formação, nos cursos nascidos neste modelo de<br />

instituição, era orientada por um processo de en -<br />

sino, no qual conhecimentos e experiências pro -<br />

fissionais são transmitidos do professor, que pos -<br />

sui o conhecimento, para um aluno, que não sa -<br />

be. O professor era selecionado por ser bem su -<br />

cedido em sua carreira profissional 7 , não havia<br />

uma formação específica para a tarefa de ensinar.<br />

Tal procedimento era fundado na crença de que<br />

quem sabe, automaticamente, sabe ensinar. En si -<br />

nar era concebido como a transmissão de co nhe -<br />

cimentos, por meio de grandes aulas expositivas<br />

ou palestras (MASETTO, 2002, p.10-11).<br />

Possivelmente vigora, ainda hoje, essa pers -<br />

pectiva de que o saber específico é o que garante<br />

ou instrumentaliza o professor para o exercício<br />

de ensinar. Alguns professores afirmam que vão<br />

se tornando professores pela experiência, resul ta -<br />

do de um processo de socialização que se vale,<br />

por um lado, da intuição, das rotinas de outros<br />

pro fessores e, por outro, das construções feitas<br />

por eles mesmos (BENEDITO, 1995 apud PI -<br />

MENTA e ANASTASIOU, 2002, p.36). Mas,<br />

122 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />

quais são esses saberes, estratégias, rotinas cons -<br />

truídas, apropriadas pelos professores universi tá -<br />

rios, na experiência, das quais eles têm se valido<br />

diante dos entraves que aparecem quando do<br />

exer cício da docência? Será que as bases para en -<br />

sinar sustentam-se, apenas, pelos saberes apre en -<br />

didos no exercício profissional? Mizukami diz<br />

que, “Embora a literatura reconheça que a apren -<br />

dizagem pela experiência tenha força na cons tru -<br />

ção de práticas pedagógicas, pouco se conhece,<br />

até o momento, sobre tal processo. O genérico<br />

‘aprender pela experiência’ pode mascarar ques -<br />

tões importantes relativas ao desenvolvimento<br />

pro fissional [...]”. (2000, p.141).<br />

Tomando como referência, apenas, pesquisas<br />

desenvolvidas nas últimas décadas do século XX,<br />

já veríamos o equívoco em considerar que as ba -<br />

ses para o ato de ensinar ancoram-se apenas na<br />

prá tica docente, ainda que o saber experiencial<br />

ocupe uma posição importante no ensino, tanto<br />

quanto em qualquer outra atividade laboral. No<br />

entanto, existem conhecimentos formalizados<br />

que podem servir de referência para o professor,<br />

evi tando que a prática docente seja uma eterna<br />

experiência da redescoberta, de cada sujeito, in -<br />

di vidualmente (GAUTHIER et al., 1998, p.24).<br />

Em se tratando do exercício profissional do<br />

professor universitário, em sua relação com alu -<br />

nos, por exemplo, precisamos considerar, ainda,<br />

a legitimidade, a intencionalidade e implicações<br />

da prática pedagógica desse profissional, uma vez<br />

que ele socializa, também, regras, valores, có di -<br />

gos de comportamento social. Para Santos,<br />

A tirania da informação não é apenas a da mídia,<br />

porque inclui, também o nosso trabalho na uni -<br />

ver sidade. Quero insistir, nessa tecla, porque o<br />

nos so trabalho como professores é a base com a<br />

qual se educam e se reeducam as gerações. Quan -<br />

to mais o nosso trabalho for livre, mais educa re -<br />

mos para a cidadania. Quanto mais o nos so tra -<br />

ba lho for acorrentado, mais estaremos produ -<br />

zin do individualidades débeis. É urgente que o<br />

ensi no to me consciência dessa situação, para es -<br />

boçar a me recida reação, sem a qual cor re mos o<br />

risco de fi car cada vez mais distantes da busca<br />

ideal da ver da de (SANTOS apud ANAS TA -<br />

Universidade e sociedade

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