Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:14 Página 27<br />
anos) e há um redesenho da educação su perior<br />
em relação a sua organização. Isto se acentua na<br />
medida em que as autoridades insistem na ligação<br />
entre universidade e mercado.<br />
Um aspecto interessante a ser analisado, que<br />
pode ajudar a compreender a “nova ordem edu -<br />
cacional” e as novas regulações é examinado por<br />
Schugurensky (2003), ao fazer um estudo da edu -<br />
cação superior no Canadá. Esse autor coloca o<br />
que ele chama de um difícil dilema, isto é, como<br />
os governos democráticos e as universidades po -<br />
dem conciliar os objetivos do setor público, os<br />
in teresses privados e o ethos acadêmico. Isso<br />
por que, no estudo empreendido, fica evidente a<br />
perda de autonomia das univer sidades e a in ge -<br />
rên cia cada vez maior do mercado na defi nição<br />
dos cursos, dos programas, dos currí culos, das<br />
pes quisas a serem desenvolvidos. Um fenô meno,<br />
que o autor identifica como heteronomia, sig ni -<br />
ficando que:<br />
No modelo heterônomo, o poder para defi nir a<br />
missão, a agenda e os produtos das uni ver si dades<br />
reside cada vez mais nas agências ex ternas e cada<br />
vez menos nos seus próprios órgãos de ges tão.<br />
Enquanto o princípio da autonomia sugere a<br />
capacidade de autode termi nação, independência e<br />
liberdade, o conceito de heteronomia se refere à<br />
su bordinação a uma ordem imposta por agentes<br />
externos.[...] o modelo heterônomo não significa<br />
que a universidade passa a ser subita mente gover -<br />
nada por atores extra universitários, senão que<br />
sua prática cotidiana (suas funções, suas priori da -<br />
des, sua organização interna,<br />
suas atividades, sua estrutura de<br />
prêmios e castigos) está cada vez<br />
mais condicionada à lógica do<br />
mer cado e ao Es tado. (SCHU -<br />
GU RENSKY, 2003, p.4)<br />
As novas regulações para as<br />
uni versidades vêm acentuando,<br />
ca da vez mais, a lógica pro du ti vis -<br />
ta, numa racionalidade técnica e<br />
prag mática. O Estado investe me -<br />
nos na educação superior pú blica,<br />
o mer cado interfere cada vez mais<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
A privatização do<br />
conhecimento vem sendo<br />
apontada como resultante<br />
das parcerias<br />
público-privado, fruto das<br />
regulações estabelecidas,<br />
que têm em algumas<br />
políticas, como a de inovação<br />
tecnológica, o incentivo<br />
necessário para a<br />
concretização desse escopo.<br />
nas funções desta, exigindo uma produção de<br />
acordo com as necessidades empresariais. Des sa<br />
forma, o vínculo entre quem produz co nheci -<br />
men to (a uni versidade) e quem o consome, a<br />
par tir das de man das postas (do mer cado), se<br />
for ta lece cada vez mais. Isso significa uma espé -<br />
cie de pri vatização do conhecimento (NAI -<br />
DORF, 2003), que cria o ca pitalismo acadêmico<br />
(SLAU GH TER e LESLIE, 1997), já que o co -<br />
nhecimento é comercializado, no sentido da ob -<br />
tenção de re cur sos que possam ga ran tir o fun -<br />
cio namento da Uni ver sidade, tudo den tro do<br />
novo marco regula tó rio da compe titi vidade.<br />
A privatização do conhecimento vem sendo<br />
apontada como resultante das parcerias públicoprivado,<br />
fruto das regulações estabelecidas, que<br />
têm em algumas políticas, como a de inovação<br />
tec nológica, o incentivo necessário para a con cre -<br />
tização desse escopo. A diminuição do financia -<br />
mento público para as universidades federais, co -<br />
mo é o caso brasileiro, e o crescente aumento de<br />
recursos privados para financiamento de pes qui -<br />
sas têm contribuído para a privatização do co -<br />
nhecimento público. Isso se dá, por exemplo, por<br />
meio de cláusulas nos contratos estabelecidos en -<br />
tre as Universidades e as Empresas. A lei 10.973<br />
de 2004 é muito clara a respeito. O parágrafo<br />
úni co do artigo 5º. da citada legislação reza que<br />
“A propriedade intelectual sobre os resultado ob -<br />
tidos pertencerá às instituições detentoras do capital<br />
social, na proporção da respectiva par ti ci -<br />
pação”. Tal imposição é reforçada no artigo 12 que<br />
determina que é “vedado” ao pes -<br />
quisador “divul gar, noti ficar ou pu -<br />
blicar” o resul ta do do seu tra ba lho,<br />
“sem obter ex pressa au to riza ção”.<br />
Esse tipo de regulação leva,<br />
qua se direta men te, ao que Slau gh -<br />
ter e Leslie (1997) denomi na ram de<br />
capitalismo acadêmico, ou seja a<br />
sub missão das universidades à eco -<br />
nomia e ao mercado, es tando em<br />
jogo o controle e a apropria ção do<br />
co nhecimento por esse se tor da<br />
eco nomia. Para as au toras, o capi -<br />
ta lismo acadêmico é a marca pro -<br />
Universidade e sociedade DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 27