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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:26 Página 154<br />

Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />

educação à condição de mercadoria. Como já de -<br />

nunciava Fernandez Enguita, no final do século<br />

pas sado: “Los economistas, y no los pedagogos,<br />

son hoy los oráculos de la educación” (1989, p. 28).<br />

É evidente que, nessas circunstâncias, a preo -<br />

cupação com a qualificação do corpo do cente<br />

não é uma prioridade. Para se ter uma idéia da di -<br />

mensão desta problemática, de acordo com o<br />

pre sidente da CAPES, Jorge Guimarães 36 , dos<br />

260 mil professores, que atuam hoje nas IES, so -<br />

mente 20% têm doutorado, e 30% têm mes tra -<br />

do. Além disso, predominam contratos por horaaula,<br />

evidenciando uma situação de precariedade<br />

empregatícia e de más condições de trabalho.<br />

Co mo esperar que, de um quadro como este, re -<br />

sulte uma educação de qualidade?<br />

Como decorrência dessas condições de for -<br />

mação no ensino superior, evidencia-se diminuta<br />

ou inexistente organicidade deste grau de ensino<br />

com a educação fundamental, reforçando assim<br />

um círculo vicioso, de dimensões que deixam a<br />

des coberto um quadro de conseqüências desas -<br />

tro sas para o país.<br />

A título de conclusão<br />

O filósofo e professor da Universidade de<br />

Provence/França, Yves Schwartz, um dos prin ci -<br />

pais estudiosos da gestão do trabalho na atuali -<br />

dade, particularmente ao que se refere ao bi nô -<br />

mio saúde/doença, desenvolve uma teorização<br />

so bre o “uso de si para si” e o “uso de si pelo ou -<br />

tro”. Argumenta o autor que o trabalhador, ao<br />

desencadear o “uso de si”, em qualquer atividade<br />

que desenvolva, lança mão dos seus saberes, das<br />

suas experiências, das suas disponibilidades. No<br />

entanto, quando o processo do trabalho é re gu -<br />

lado por normas, valores, exigências que emanam<br />

de outras instâncias, o trabalhador passa para<br />

outra qualidade, ou lógica, do “uso de si”: o “uso<br />

de si pelos outros”.<br />

Todos os dados, as informações e as argu -<br />

men tações que levantamos no decorrer deste tex -<br />

to, vão em direção ao predomínio de uma in du -<br />

ção, de uma heteronomia, de uma alienação<br />

do/no trabalho desenvolvido nos PPGEs, que<br />

sub mete todos ao “uso de si pelo outro”, no caso,<br />

154 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />

aqui representado pela CAPES. A façanha de<br />

con seguir submeter a todos; de induzir a ação de<br />

todos, com base em um modelo único de geren -<br />

ciamento da pós-graduação stricto sensu relacio -<br />

na-se à acoplagem da avaliação com o finan cia -<br />

mento. Desse ponto de partida decorre toda uma<br />

série de situações que estão provocando des con -<br />

forto físico e intelectual, problemas de ordem<br />

psi cossomática e social, em síntese, caracterizam<br />

aquilo que está se denominando de assédio mo -<br />

ral, compreendido como tudo ou todas as si tua -<br />

ções que provocam ou causam desconforto. Eis<br />

uma inquietante e nova questão a ser en carada.<br />

A pressão no ambiente de trabalho da pósgraduação<br />

(De MEIS et al, 2003) está fazendo<br />

com que uns fiquem doentes, outros abandonem<br />

essa frente de trabalho e, ainda outros, esbocem<br />

reações na direção do enfrentamento e da busca<br />

de alternativas. O próprio paradigma é questio -<br />

nado. Em páginas anteriores apontamos para o<br />

fato de que, após forte reação inicial, quando da<br />

mudança paradigmática implemen tada na metade<br />

da década de 1990, os envolvidos nos PPGEs<br />

haviam entrado em um período de “consenso”,<br />

de “ciência normal”. No entanto, como o pró -<br />

prio Kuhn (1978, p. 25) alerta,<br />

[...] a ciência normal desorienta-se seguida men -<br />

te. E quando isto ocorre – isto é, quando os mem -<br />

bros da profissão não podem mais esquivar-se das<br />

anomalias que subvertem a tradição existente da<br />

prática científica – então começam as investi ga -<br />

ções extraordinárias que finalmente conduzem a<br />

profissão a um novo conjunto de compromissos,<br />

a uma nova base para a prática da ciência [desta -<br />

que nosso].<br />

É nesta direção que pesquisas vêm sendo fei -<br />

tas, posicionamentos vêm sendo tomados, via<br />

do cumentos ou eventos, no sentido de compre -<br />

en der como e por que a situação da pós-gradua -<br />

ção chegou a este ponto de, embora criticada,<br />

manter-se. Certamente não estamos, ainda, vi -<br />

sua li zando uma mudança paradigmática, mas a<br />

crítica está sendo refinada, aprimorada. E, nesta<br />

direção, avançamos na compreensão de que a<br />

universidade é uma instituição his tórico-social,

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