Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:28 Página 198<br />
Debates Contemporâneos<br />
imagem ad qui riu importância cada<br />
vez maior, num universo construído<br />
pelos veículos midiá ti cos de infor -<br />
ma ção. Deste modo:<br />
Assim como o menor objecto téc -<br />
nico, o mais pe queno gadget é pro -<br />
messa de arrebatamento téc ni co<br />
uni versal, assim também as ima -<br />
gens/signos surgem como pre sun -<br />
ção total do mundo real na ima gem<br />
que constituiria como que a sua<br />
me mória e a célula da leitura uni -<br />
versal. Por detrás do con su mo de<br />
imagens perfila-se o imperialis mo<br />
do sistema de leitura: cada vez mais<br />
tende só a existir o que pode ler-se<br />
(o que deve ler-se: o lendá rio)<br />
(BAU DRILLARD, 1995, p.130).<br />
Para o autor, a imagem assumiria, assim, o lu -<br />
gar dos objetos que deveriam de fato satisfazer as<br />
necessidades, elas se tornam auto-referentes, não<br />
é preciso mais aludir ao mundo, retornar a este;<br />
ao contrário, as imagens, agora, assumem o lugar<br />
do próprio mundo.<br />
É na publicidade, segundo Baudrillard (1995),<br />
que se revela o mais notável meio de comunicação<br />
de massa da atualidade. Posto que cada imagem,<br />
cada anúncio imponha o consumo e que todos os<br />
indivíduos sejam chamados a decifrá-lo, decodi fi -<br />
cando as mensagens e, conseqüentemente, ade -<br />
rin do automaticamente ao código no qual elas fo -<br />
ram codificadas. Segundo este autor, a publi ci da -<br />
de não orienta para objetos reais, para o mundo<br />
concreto, mas de signos para signos, de objeto<br />
para objeto, de consumidor para consumidor.<br />
A maneira pela qual a cultura de consumo<br />
ma nipula os indivíduos por meio da publicidade<br />
tem como meta suscitar pseudonecessidades, pro -<br />
duzindo no imaginário do consumidor uma va -<br />
riedade de símbolos e imagens, cujo objetivo seria<br />
a satisfação das necessidades construídas pelo<br />
próprio discurso do consumo sobre os indi ví -<br />
duos. Sobre isto diz Baudrillard:<br />
As necessidades visam mais os valores que os ob -<br />
jetos e a sua satisfação possui em primeiro lugar o<br />
198 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />
sentido de adesão a tais valores. A escolha<br />
fun da mental inconsciente e automática do<br />
A cultura de consumo<br />
consumidor é aceitar o estilo de vida de de -<br />
ma nipula os indivíduos por<br />
ter minada sociedade particular (portanto,<br />
meio da publicidade tem<br />
deixa de ser escolha! – aca ban do por ser<br />
como meta suscitar<br />
des mentida a teoria da troca auto má tica e<br />
pseudonecessidades, da soberania do consumidor) (Ibidem,<br />
pro duzindo no imaginário p.69-70).<br />
do consumidor uma A citação acima coloca uma<br />
va riedade de símbolos e questão impor tante quanto à auto -<br />
imagens, cujo objetivo no mia do consumidor, no que se<br />
seria a satisfação das refere à escolha de um produto ex -<br />
necessidades construídas<br />
posto no mer cado. Esta posição aproxima-se<br />
das for mu lações postas por<br />
pelo próprio discurso<br />
Adorno e Horkheimer (1986) so bre a<br />
do consumo sobre<br />
indústria cultural e diverge da po si ção<br />
os indi ví duos.<br />
apresentada por Thom pson, que postula<br />
certo po der de escolha do consumidor.<br />
Entre tan to, o importante é frisar que, na<br />
cultura de con su mo, a construção dessas necessidades<br />
segue pa drões que buscam a sa tis fa ção dos<br />
sonhos, de se jos e prazeres, mesmo que não seja<br />
para todos os indi víduos da sociedade. Por outro<br />
lado, ainda que possamos considerar a economia<br />
posta pela pu bli cidade como troca de signos,<br />
parece-nos ne cessário afirmar que estes têm por<br />
referência o mundo real no qual estão in seridos<br />
os indivíduos, não se constituindo ape nas em trocas<br />
simbólicas. Esta é uma carac te rís tica do próprio<br />
capitalismo.<br />
A cultura de consumo produz as discrepân cias<br />
sociais, pois, se, por um lado, e ao mesmo tem po,<br />
esta cultura de consumo atribui aos itens consu -<br />
midos (mercadorias) um valor simbólico, e não<br />
apenas material, e com isto produz uma va riedade<br />
de bens com o objetivo de satisfazer as necessidades<br />
humanas, por outro, ela gera gran des desequilíbrios<br />
dentro do sistema produtor de mercadorias. Neste<br />
sentido, a posição de Kurz (1992) é bastante crítica<br />
em relação à questão da produção de mercadorias,<br />
à ampliação de novos mercados e, principalmente,<br />
à diminuição do po der aquisitivo das massas. Para<br />
Kurz, a sociedade de mercado poderá entrar em<br />
colapso a qualquer momento.<br />
Outro ponto problemático nesta cultura de<br />
consumo é a busca incessante na direção do con -