Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:14 Página 22<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
com uma “nova ordem educacional mun dial”<br />
(LA VAL, 2003).<br />
As recomendações emanadas desses orga nis -<br />
mos têm apontado para a adap ta ção dos sistemas<br />
educa cionais, so bretudo os de nível superior, às<br />
exi gências do mercado, colocando as univer si da -<br />
des a serviço das em presas. Para tanto “novos mar -<br />
cos regulatórios” foram criados, numa nova vul -<br />
ga ta planetária, que Bour dieu (2000) já de nun cia -<br />
va, certos vocábulos da “nova língua” des ta camse:<br />
mundialização, flexibi li dade, gover nan ça, em -<br />
pregabili da de, multiculturalismo, pós-mo der ni s -<br />
mo, fragmentação e outros.<br />
Nessa lógica de vinculação da educação ao mer -<br />
cado, o papel e as funções das universidades pas sam<br />
a ser questionados e recorren te men te, sur gem “no -<br />
vas” propostas que tentam orientar as re formas des -<br />
se nível de ensino.<br />
O objetivo deste artigo é analisar alguns dos<br />
caminhos apontados pelos elaboradores interna -<br />
cionais de políticas educacionais, buscando re la -<br />
cioná-los às políticas estabelecidas pelo governo<br />
brasileiro. Ao mesmo tempo, pretende-se exa mi -<br />
nar de que forma essas regulações, postas na atu -<br />
a lidade, estão incidindo sobre a produção do co -<br />
nhecimento no espaço da academia e como po -<br />
dem estar contribuindo para a criação de uma<br />
ou tra cultura, alterando substancialmente o tra -<br />
balho docente.<br />
O Papel dos Organismos Internacionais<br />
na definição das políticas educacionais das<br />
Uni versidades na Contemporaneidade<br />
A Comissão Econômica para América Latina<br />
e o Caribe (CEPAL) elaborou, em 1990, um do -<br />
cumento de grande importância intitulado Trans -<br />
for mación Productiva con Equidad. La ta rea prio -<br />
ritaria del desarrollo de la América La tina y Ca -<br />
ri be en los años noventa, no qual faz uma aná lise<br />
da chamada “década perdida”, os anos de 1980, e<br />
a partir desse ponto elabora al gumas re co men da -<br />
ções para a região, tais como a neces sidade de<br />
for talecer a democracia, ajustar as eco nomias, es -<br />
ta bilizá-las, incorporá-las às mu dan ças tecno ló -<br />
gicas que estão ocorrendo nos países cen trais, de -<br />
vendo para tanto modernizar os serviços pú -<br />
22 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />
blicos, dentre outras medidas. Para tanto, seria<br />
pre ciso que os países latino-ameri ca nos ado tas -<br />
sem estratégias que permitissem realizar uma<br />
trans formação produtiva.<br />
A CEPAL enfatiza a necessidade de a região<br />
obter a produtividade por meio do acirramento<br />
da competitividade, chamada pela Comissão de<br />
autêntica, em oposição à competitividade per ver -<br />
sa, que seria aquela que degrada o valor do tra ba -<br />
lho, do meio ambiente e conseqüentemente atin -<br />
ge a qualidade de vida. A questão da com pe titi vi -<br />
dade está muito presente em todo o texto do do -<br />
cu mento, que destaca que esta deverá estar apoiada<br />
“em uma incorporação sistemática e de li -<br />
berada do progresso técnico ao processo pro du -<br />
tivo”. Dito em outras palavras, já se evi dencia a<br />
recomendação de uma adequação dos indiví duos<br />
e dos diferentes setores de um país ao mer cado.<br />
O documento cepalino de 1990 deixa a vin -<br />
culação entre educação e produtividade, muito<br />
explícita, ou seja, a reestruturação produtiva, pa -<br />
ra que ocorra, exige investimentos em recursos<br />
humanos, propiciando a busca da eqüidade. Mas<br />
é em outro documento, corolário desse de 1990,<br />
que a questão é bem mais definida pela CEPAL.<br />
No texto Educación y conocimiento: eje de la<br />
trans formacion productiva con equidad (1992)<br />
fica ain da mais clara essa relação, quando é de -<br />
fen dida a idéia de que “a incorporação e difusão<br />
do pro gresso técnico constitui o pivô da trans -<br />
formação produtiva e de sua compatibilização<br />
com a de mo cratização política e uma crescente<br />
eqüidade”. Para tal se faria necessário criar as<br />
con dições educacionais, referentes não apenas à<br />
capacitação de pessoal, mas também de incor -<br />
poração do pro gresso científico e tecnológico,<br />
que pudesse con tribuir para a transformação das<br />
estruturas pro dutivas da região, com eqüidade.<br />
Isso significa, se gundo o documento, a realização<br />
de amplas re formas dos sistemas educacionais.<br />
No documento Equidade y transformación<br />
pro ductiva: un enfoque integrado (CEPAL,<br />
1996), a questão da necessidade de investimento<br />
em educação é ainda mais destacada, como uma<br />
espécie de fator integrador, que permitirá que a<br />
reestruturação produtiva se dê com eqüidade. A<br />
Universidade e sociedade