Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:14 Página 18<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
apenas os pro jetos pes so ais, dissocia dos de interesses<br />
coletivos ou de classe.<br />
Um outro elemento subjetivo importante pa -<br />
ra problematizar a dimensão político-ideo ló gica<br />
do fenômeno da precarização do trabalho, na<br />
universidade, e a luta política contra isso, tem re -<br />
la ção direta com as próprias ambigüidades ima -<br />
nentes ao perfil de trabalhador que compõe a ca -<br />
tegoria docente. Trata-se, basicamente, do tra ba -<br />
lha dor de classe média, com elevadíssimo pa ta -<br />
mar de qualificação e que incorpora de forma<br />
pro funda a ideologia da meritocracia. Este tra -<br />
balhador se aproxima daquilo que determi na das<br />
correntes da Ciência Política denomina por si tua -<br />
ções contraditórias de classe (WRI GHT, 1981).<br />
Isso porque, apesar da sua situação de classe o<br />
co locar na condição de proletário (é obrigado a<br />
vender a sua força de trabalho para so breviver), a<br />
sua posição na sociedade contribui para produzir<br />
a seguinte ambigüidade: é pro letário, mas não se<br />
identifica com o conjunto do proletariado por es -<br />
tar próximo dos padrões de remuneração e con -<br />
su mo da média e alta buro cra cia do Estado Bur -<br />
guês, bem como de alguns seg mentos da pe quena<br />
burguesia. Vale dizer que mui tos cole gas se en -<br />
con tram em situação contra ditória de classe por<br />
questões ainda mais obje tivas: fora da uni ver si da -<br />
de, possuem outras atividades que, do pon to de<br />
vista da situação de classe, os integram na pe que -<br />
na-burguesia; além disso, ainda fora da uni ver si -<br />
dade, muitos são pro fissionais liberais cu jos in te -<br />
res ses de classe não necessariamente conver gem<br />
com os da maio ria do proletariado.<br />
É necessário destacar também um outro as -<br />
pec to. De um modo geral, independente de sua<br />
situação contraditória de classe, os professores<br />
do ensino superior constituem um segmento que<br />
exerce o trabalho intelectual. Tal segmento, por<br />
sua vez, em virtude da tradição de longa duração<br />
que atribui um sentido de negatividade ao tra ba -<br />
lho manual, confronta-se do ponto de vista do<br />
status com os segmentos que executam aquele ti -<br />
po de trabalho. Isto ocorre apesar da situação de<br />
precarização salarial que os professores do en si -<br />
no superior enfrentam atualmente. O funda men -<br />
tal, aqui, é perceber que esses elementos ten dem<br />
18 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />
a manter uma barreira político-ideo lógica e cul -<br />
tural na base do movimento docente e difi cul tam<br />
as alianças com os segmentos do mo vimento sin -<br />
dical associados ao trabalho manual ou que es -<br />
tejam em uma condição de prole tari za ção e de<br />
precarização mais acentuada.<br />
Há mais um aspecto a ser considerado. Tratase<br />
do tipo de heterogeneidade que o segmento<br />
so cial dos docentes sofre no âmbito das univer -<br />
sidades. A questão da heterogeneidade não seria<br />
um problema em si, caso não contribuísse para a<br />
fragmentação do movimento docente, mas, como<br />
veremos, não é isso o que acontece. A fragmen -<br />
ta ção dos interesses e da própria categoria faz<br />
par te de uma ampla estratégia de desmonte das<br />
es truturas de organização dos trabalhadores, pro -<br />
movida pelos agentes do capital incumbidos de re -<br />
definir a sua hegemonia. Essa é uma reali da de que<br />
os demais segmentos de trabalhadores também<br />
enfrentam, em seus diversos setores de atividade.<br />
Cabe, então, especificar o tipo poten cial de frag -<br />
men tação e de heterogeneidade de clas se que os<br />
professores das instituições pú bli cas de ensino su -<br />
perior enfrentam; vejamos.<br />
As fronteiras entre o público e o privado se<br />
tor nam cada vez mais tênues, nas universidades<br />
pú blicas, mas não somente. As relações com o<br />
mer cado se estreitam cada vez mais, seja por in ter -<br />
médio das fundações, seja por intermédio de polí -<br />
ticas públicas que priorizam o desenvol vi men to<br />
ci entífico que atenda somente as de mandas ime -<br />
dia tas do mercado. Uma das fina li da des prin cipais<br />
desse tipo de ação é poten cia lizar, nas uni versi da -<br />
des, o mecanismo de ven da de ser viços e produtos<br />
científicos e tecno lógicos. Des sa ma neira, cresce a<br />
influência do mercado no con trole dos rumos da<br />
pro dução científica, nessas insti tui ções, e aqueles<br />
setores que não atendam dire ta mente às suas de -<br />
mandas imediatas tendem a ser marginalizados, no<br />
que se refere aos recursos para a pesquisa. São cri -<br />
a dos, assim, verdadeiros feudos dentro das univer -<br />
si dades que, por conta do seu próprio campo de<br />
en sino e pesquisa, se be ne fi ci am dessa relação. Is -<br />
so é mais visível, por exem plo, em setores vincu la -<br />
dos ao Agronegócio e às áreas Tec nológicas.<br />
Por fim, tais aspectos relacionados ao perfil<br />
Universidade e sociedade