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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:22 Página 80<br />

Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />

aos organismos internacionais ditos multila te -<br />

rais, não pode conviver com universidades autô -<br />

nomas, o governador José Serra lança mão de um<br />

triplo arsenal, velho conhecido na nossa história,<br />

composto essencialmente:<br />

1. pela forma autoritária de legislar sobre ques -<br />

tões fundamentais à educação, tendo o decreto<br />

co mo instrumento principal;<br />

2. pelo caráter nocivo de uma política que dá<br />

con tinuidade ao legado de três mandatos tucanoneoliberais,<br />

no Estado de São Paulo, facilitado<br />

por uma certa “blindagem” da grande imprensa<br />

pau lista e nacional;<br />

3. pela Polícia Militar (PM), que se mostrou pron -<br />

ta para reprimir e tentar desmobilizar qual quer<br />

for ma de manifestação pública contra esta política.<br />

Com esses instrumentos, assaz eficazes quan -<br />

do se trata de fortalecer os interesses do ca pi tal e<br />

reprimir qualquer pretensão de autono mia, o go -<br />

verno Serra promove um forte ataque às univer si -<br />

dades estaduais, desferindo-lhes o que pode ser um<br />

golpe muito duro.<br />

O objetivo deste texto é discutir alguns as pec -<br />

tos essenciais para compreender a política edu -<br />

cacional adotada pelo governo estadual. Bus carse-á<br />

estabelecer elos entre a história recente da<br />

edu cação brasileira e a reordenação estrutural da<br />

economia, no âmbito da mundialização do ca pital.<br />

Igualmente, refletiremos sobre os aconte ci mentos<br />

específicos da mobilização mencionada, indagan -<br />

do sobre seus alcances e implicações futuras.<br />

O primeiro ato: os decretos<br />

e o autoritarismo do governo 2<br />

Muito se tem dito sobre os decretos do go -<br />

ver no paulista, editados desde o primeiro dia de<br />

mandato (1º/01/07), e sobre um “impasse” nas<br />

uni versidades estaduais, em especial na USP. En -<br />

tretanto, pouco se diz de seu conteúdo, como<br />

que numa tentativa de fazer a sociedade acreditar<br />

que se trata de rumores apenas, questões cor po -<br />

rativas ou mero oportunismo político dos que<br />

re sistem a estes decretos. Apesar da insistente re -<br />

mis são a um suposto caráter inofensivo dos de -<br />

cretos, coro entoado por governo, reitores e so -<br />

bre tudo por setores da imprensa, foi justamente<br />

80 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />

o conteúdo desses decretos3 que motivou a defla -<br />

gração de ocupações, da greve e outras mobi liza -<br />

ções, no primeiro semestre de 2007.<br />

Mas, será que se trata de um simples impasse,<br />

como afirmou a imprensa? Há muito, inúmeras<br />

denominações têm sido utilizadas para referir-se<br />

a situações parecidas na educação superior: crise<br />

do modelo, improdutividade, inadequação de<br />

fun ções etc. Ao menos desde o golpe militar de<br />

1964, este nível educacional vem sendo alvo de<br />

ten tativas de desqualificação pelos setores domi -<br />

nantes. Não raro, o intuito dessas investidas é<br />

construir consensos sobre a necessidade de re -<br />

for mar a educação, pesando de forma mais forte<br />

sobre as universidades. Uma explicação plausível<br />

para isso é que, ao inaugurar um período em que<br />

os governantes declinam das pretensões de de -<br />

senvolvimento soberano do país, assim, pro gres -<br />

sivamente, a universidade autônoma deixa de ser<br />

essencial. Voltaremos ao assunto.<br />

O quadro na página oposta, elaborado pelo<br />

Fórum das Seis4 , traz um breve resumo dos cinco<br />

principais decretos, no que diz respeito aos seus<br />

impactos sobre as universidades paulistas, ao<br />

Cen tro Paula Souza e à FAPESP.<br />

Não estamos diante de uma novi dade histó -<br />

ri ca. O tratamento autoritário e anti-au tonomia<br />

universitária adotado pelo governo es tadual é<br />

fruto de um longo processo. Um notó rio político<br />

brasileiro, exilado nos tempos da Di tadura<br />

Mi litar (1964-85), em dado momento tam bém<br />

apre sentou uma explicação sobre a “cri se”, que<br />

per manece atual5 . Dizia assim: “As ex pec tativas<br />

mais mórbidas sobre a performance do sr. Paulo<br />

Maluf à frente do Governo do es ta do têm sido<br />

la mentavelmente confirmadas pelos fatos”. E<br />

completava:<br />

Evidências eloqüentes dessa conduta do Governo<br />

do Estado encontram-se na forma como lidou<br />

com a greve dos funcionários públicos há alguns<br />

meses [...]. Poder-se-ia mencionar também o corte<br />

de verbas das universidades estaduais, acompa -<br />

nhado do também irrisório reajuste concedido<br />

aos seus professores. Ou lembrar que o Executivo<br />

descumpriu solenemente sua promessa pública,<br />

[...], no sentido de que concederia um reajuste<br />

Universidade e sociedade

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