Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:23 Página 102<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
estimulam os que se interessam em pensá-la, a as -<br />
sumir o desconforto de reinventá-la, sem de sa -<br />
len tos paralisantes e sem encantos ilusórios. Da<br />
mesma forma, Barbieri (1996, p. 7) defende que,<br />
na época em que triunfa a ditadura do marketing,<br />
da publicidade consumista e da padronização<br />
im becializante da linguagem televisiva, a chance<br />
que resta à Universidade é abrir espaço na fronteira<br />
do que constitui a sua diferença específica –<br />
o pensamento crítico e inovador. O autor afirma<br />
também que: “Originária dessa matriz e reinventada<br />
a cada época por força de sua reativação, a<br />
instituição universitária, para vencer os impasses<br />
de nossos dias, demanda redobrado empenho de<br />
quem se dispuser a repensá-la no nível dos avan -<br />
ços do conhecimento e no compasso das transformações<br />
em curso” (BARBIERI, 1996).<br />
Considerações finais<br />
Diante destas estimulações e provocações,<br />
em preendemos algumas considerações a respeito<br />
da universidade, neste novo século, sem contudo<br />
defini-la como universidade da pós-moderni da -<br />
de ou sem querer conceituá-la, ou mesmo instituir-lhe<br />
um projeto utópico:<br />
• à universidade cabe um projeto mais incluso<br />
do que apenas aquele voltado para a tradição<br />
humanista ou ao projeto humboldtiano centrado<br />
no racionalismo, cientificismo e objetivismo -<br />
um projeto que abranja novas formas de entender,<br />
organizar e produzir conhecimento, estimulado<br />
por uma perspectiva que amplie as formas<br />
cris talizadas da modernidade e a privilegiada<br />
cen tralidade da razão;<br />
• a organização da universidade, neste novo<br />
século, ultrapassará a atual separação entre as<br />
áreas – humanidades e ciências exatas - uma vez<br />
que a separação acentuada perde sua força estru -<br />
tu rante, tanto na composição do conhecimento<br />
como na organização dos currículos. A disso lu -<br />
ção das fronteiras entre os conhecimentos é re -<br />
sul tante do entendimento da relação de comple -<br />
xidade e multiplicidade em que estão envolvidos<br />
os fenômenos do mundo natural e humano;<br />
• podemos especular que, tendo sido aclarada<br />
essa complexidade e multiplicidade das re la -<br />
102 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />
ções dos saberes que descrevem os fenômenos, a<br />
tradição de fazer a reestruturação curricular por<br />
meio da criação de múltiplas disciplinas, para dar<br />
conta de novas áreas ou sub-áreas de especializações,<br />
não mais se repetirá nos novos desenhos<br />
cur riculares. Assim, currículos fechados, centra -<br />
li zados e sem conexão entre os conhecimentos,<br />
têm pouca probabilidade de continuidade;<br />
• em termos de estruturação curricular, po -<br />
demos apontar para a superação da disciplinari -<br />
zação do conhecimento, questionada na rigidez<br />
da metáfora da árvore do saber e na fragmenta -<br />
ção que esta rigidez provoca na formação do es -<br />
tu dante (DELEUZE E GUATARRI, 1995);<br />
• aceitando que o desenvolvimento da ciência<br />
prospera em todos os domínios e atinge amplos<br />
aspectos das atividades humanas, o desafio<br />
curricular atual é preparar o estudante para que<br />
sai ba trabalhar com os elementos científicos e<br />
tec no lógicos da vida social, bem como com a re -<br />
la ção destes com os aspectos éticos, nas questões<br />
que enfrentarão em suas atividades profissionais.<br />
Este posicionamento está ligado à defesa em fa -<br />
vor de nova forma de oferecer a educação geral,<br />
na formação do estudante. Esta deve ser uma<br />
edu cação geral em consonância com os reclamos<br />
do tempo presente, entendendo-a como ênfase<br />
curricular que trabalha valores de significados<br />
atu ais e as relações dos princípios intelectuais,<br />
éti cos e morais, com as necessidades de cada tem -<br />
po histórico. A análise que fazemos da atual au -<br />
sência do enfoque curricular em educação ge ral es -<br />
tá relacionada a uma visão de universidade como<br />
função, como instituição que tem por fi na lidade<br />
ser instrumento do desenvolvimento in dustrial e<br />
tec nológico, por meio da preparação de mão-deobra<br />
qualificada para o mercado de trabalho ou co -<br />
mo instrumento para o fortalecimento da ideologia<br />
de um partido que representa o Estado.<br />
Retomamos, aqui, o sentido das palavras de Der -<br />
rida (1999), que vê estar a universidade com a responsabilidade<br />
de responder, de forma diversa da que<br />
apre sentou anteriormente, à questão da pesquisa, do<br />
ensino e da extensão, rejeitando a su bordinação des -<br />
tes às ofertas e procuras do mer ca do, que se regula<br />
por um ideal de compe tência pu ramente técnico.<br />
Universidade e sociedade