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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:26 Página 148<br />

Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />

Marx e Engels (1987, p. 39) apontam para aquilo<br />

que denominam como o “primeiro pres su posto”<br />

para alguém existir e fazer história:<br />

[...] os homens devem estar em condições de viver<br />

para poder “fazer história”. Mas, para viver, é pre -<br />

ciso antes de tudo comer, beber, ter habitação,<br />

vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato<br />

his tórico é, portanto, a produção dos meios que<br />

permitam a satisfação destas necessidades, a pro -<br />

dução da própria vida material, e de fato este é um<br />

ato histórico, uma condição fundamental de toda<br />

a história, que ainda hoje, como há milhares de<br />

anos, deve ser cum pri do todos os<br />

dias e todas as horas sim plesmente<br />

para manter os ho mens vivos.<br />

“Indução voluntária”, atendi -<br />

mento de necessidades básicas, meio<br />

de realização, entre outros aspectos,<br />

compõem o mix que nos ajuda a en -<br />

tender porque fazemos o que fa ze -<br />

mos, nem sempre nas condições de -<br />

sejadas e, muitas vezes, sem as re -<br />

com pensas materiais e simbólicas de<br />

que necessitamos. Portanto, não é<br />

so mente a díade desconheci men -<br />

to/in genuidade e a força, conforme<br />

fa lava La Boétie, que explica ou jus -<br />

tifica a atual “servidão volun tá ria” a<br />

que estamos submetidos, via de ter -<br />

minações emanadas dos órgãos de<br />

avaliação e financiamento. A bus ca<br />

de compreensão desse leque de con -<br />

dicionantes torna necessário que se<br />

explicitem alguns elementos re la cio -<br />

nados à criação da CAPES, aos po -<br />

deres e às responsabilidades que veio<br />

assumindo e exercendo, levando a<br />

constituir a situação atual da pós-graduação.<br />

4. A CAPES: contexto de surgimento e<br />

poder de indução<br />

Embora tenha sido criada em 1951, a CAPES<br />

efetivamente passa a assumir algumas atribuições,<br />

que ainda a caracterizam hoje, a partir do ano de<br />

1965 17 . No decorrer dos seus primeiros 15 anos,<br />

148 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />

Enquanto os recursos<br />

eram fartos e o número<br />

de programas credenciados<br />

era reduzido, o sistema<br />

funcionou sem grandes<br />

questionamentos.<br />

A ampliação do número<br />

de cursos reconhecidos, com<br />

um não acompanhamento<br />

proporcional de recursos<br />

orçamentários, passou a<br />

fazer com que as disputas<br />

inter e entre áreas<br />

ganhassem dimensões<br />

inimagináveis, gerando<br />

distorções a ponto de a<br />

solidariedade, que<br />

caracterizava a criação e<br />

a expansão dos cursos<br />

de pós-graduação, ser<br />

substituída pela competição<br />

entre cursos e programas.<br />

ela acabou funcionando mais como uma repar ti -<br />

ção do INEP, com atividades voltadas para a<br />

“formação de professores” 18 para as IES, res pon -<br />

sabilidade que fica evidente até no próprio sig -<br />

nificado da sigla: “Campanha 19 de aperfei çoa -<br />

mento de pessoal do ensino superior”. Em ter -<br />

mos de missão, como já apontamos, que lhe foi<br />

atribuída e assumida pelo seu primeiro presi den -<br />

te/secretário geral, Anísio Teixeira, caberia à<br />

CAPES, e por seu intermédio à pós-graduação, a<br />

responsabilidade de transformar e mo dernizar a<br />

universidade brasileira (MEN DON ÇA, 2003).<br />

Nesses mais de 50 anos de existência<br />

– com ex ce ção de um breve período<br />

no início do go verno Collor (1990-<br />

92), quan do foi extinta e recriada em<br />

seguida por pressão da própria aca -<br />

demia -, a Ins ti tuição veio se afir man -<br />

do, gran je an do cada vez mais po der, a<br />

ponto de, embora tenha sur gido co -<br />

mo uma po lítica de governo, vir se trans -<br />

for man do em uma política de Es ta do 20 .<br />

O segredo da legitimação e do<br />

po der que a CAPES veio conse guin -<br />

do assenta-se em alguns fatores dos<br />

quais destacamos: 1. a gradativa am -<br />

pliação de dotação orçamentária,<br />

que lhe propiciou organizar e im ple -<br />

mentar um modelo de avaliação<br />

agre gado à concessão de recursos,<br />

is to é, avaliação e fomento pas sa -<br />

ram a ser atribuições vinculadas,<br />

sendo que a uma determinada no -<br />

ta/conceito estão associados mais ou<br />

menos recursos financeiros e acesso,<br />

ou não, a benefícios como convê -<br />

nios, número de bolsas etc.; 2. a es -<br />

tra tégia da ava liação feita pelos pa -<br />

res, sendo este um dos principais fatores de le -<br />

gitimação e fortalecimento da instituição no in te -<br />

rior dos programas. Para contar com os pares 21 , a<br />

CAPES desencadeou es tra tégias de indução que<br />

levaram à criação das As so ciações Nacionais das<br />

diversas áreas, as quais deveriam indicar os repre -<br />

sen tantes, sendo que os primeiros passos para a<br />

or ganização da ANPEd foram dados por ini cia -

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