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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:28 Página 199<br />

sumo ilimitado6 . Tal discurso gera tensões tan to<br />

no plano do desejo e da necessidade, como tam -<br />

bém repercute concretamente no todo da so cie -<br />

dade capitalista.<br />

A cultura do mercado ou do consumo encoraja as<br />

pessoas a “querer” mais do que necessitam para a<br />

sua vida.[...] Em termos psicanalíticos parece claro<br />

que o desejo profundo das pessoas (por felicidade,<br />

reali zação, plenitude) - indistinto por natureza - é<br />

ha bilmente cooptado, dirigido, cada vez preen -<br />

chido por uma coisa, um objeto determinado para<br />

logo de pois ser novamente frustrado pelo apare ci -<br />

mento da “última versão”. Como isso é feito na<br />

prá tica? As grandes corporações industriais indu -<br />

zem a demanda dos consumidores via publici -<br />

dade, via diferenciação de produtos, via criação de<br />

novos produtos e novos hábitos de consumo para<br />

os novos produtos (MOREIRA, 1999, p.144).<br />

Essa lógica difundida na cultura do consumo<br />

com vistas a estimular o consumo exagerado (o<br />

consumismo) de mercadorias, muitas vezes des -<br />

necessárias, resulta numa sociedade calcada no in -<br />

divíduo consumidor, como o valor máximo da<br />

so ciedade. O consumo “ilimitado” só pode ser<br />

efe tivamente realizado por indivíduos perten -<br />

centes a grupos sociais detentores do capital, en -<br />

quanto os demais grupos sociais sofrem (do pon -<br />

to de vista psicanalítico) diversas privações, deri -<br />

vadas dos desejos que lhes são suscitados, frente à<br />

sua efetiva capacidade de satisfazê-los. Lo go, po -<br />

de ría mos pensar a relação de consumo dos in di -<br />

víduos e grupos sociais, desde aque -<br />

les que po dem desfrutar de todo o<br />

le que de produtos que lhes des per -<br />

tam desejos até aqueles que são com -<br />

ple ta mente excluídos dos “pra ze res”<br />

mate riais e simbólicos da ló gica con -<br />

sumista atual.<br />

A título de conclusão: controvérsias<br />

sobre a cultura<br />

de “consumo” no Brasil.<br />

O conceito de sociedade de con -<br />

sumo, al cu nhado como sinôni mo de<br />

socie dade capitalista, já é bas tante<br />

No fluxo do processo<br />

de glo ba lização da economia,<br />

da cultura e da informação,<br />

o Brasil não deixa<br />

de estar inserido<br />

na lógica ca pitalista de<br />

mercado. Aqui são difundidos<br />

os mes mos valores<br />

ideológicos de uma pretensa<br />

so ciedade<br />

do consumo.<br />

Debates Contemporâneos<br />

ques tio ná vel, mesmo quando apli ca do aos países<br />

capitalistas de sen volvidos, pois esconde as con -<br />

tra di ções da apro priação privada dos meios de<br />

pro dução e do acesso de sigual aos fru tos do tra -<br />

balho pro du tivo, sob o manto de um mercado<br />

ines gotável de objetos aos quais os in di víduos<br />

teriam acesso. Por outro lado, é bem ver dade, co -<br />

mo já dissemos anterior mente, que um dos as pec -<br />

tos da ideo logia dominante é o de pro mo ver uma<br />

espécie de “cultura do consumo”, esti mu lando os<br />

trabalhadores a adquirir mer ca dorias pa ra além<br />

de suas necessidades reprodu tivas e mes mo espi -<br />

ri tuais, visando, com isso, a ace lerar a cir culação<br />

do capital e sua reprodução ampliada. No caso do<br />

Brasil, esta situação é ainda mais gra ve, pois, da -<br />

das as profundas desigual da des eco nômicas no<br />

país, o chamado consumo de massa não se realiza<br />

efetivamente: aqui temos ape nas bol sões de con -<br />

su mo para grupos que pos suem poder aquisitivo<br />

mais elevado e, com isto, re pre sentam potenciais<br />

consumidores dos produ tos promovidos pela in -<br />

dústria cultural.<br />

Se não temos uma sociedade de consumo, não<br />

estamos, no entanto, salvos do discurso homo ge -<br />

neizante produzido pela indústria cultural bra -<br />

sileira, que não visa a atingir todos, em termos de<br />

consumo, mas estimular padrões de distinção pa -<br />

ra determinados grupos sociais e a sua repro du -<br />

ção, de modo ordinário, para os demais. O que<br />

es ta indústria cultural prioriza é vender o dis cur -<br />

so da cultura de consumo e difundi-la na socie -<br />

dade. Deste modo, os discursos transmitidos pe -<br />

los veículos de massa visam a cons -<br />

truir um modo de consumo na socie -<br />

dade brasileira; isto é notório em ca -<br />

da anúncio publicitário exibido em<br />

out doors, jornais, revistas, rádio e<br />

prin cipalmente na televisão. Assim,<br />

no fluxo do processo de glo ba lização<br />

da economia, da cultura e da infor -<br />

mação, o Brasil não deixa de estar in -<br />

serido na lógica ca pitalista de mer ca -<br />

do. Aqui são difundidos os mes mos<br />

valores ideológicos de uma pretensa<br />

so cie dade do consumo, se gundo os<br />

quais todos po dem satisfa zer seus<br />

DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 199

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