Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
Editorial - Andes-SN
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:17 Página 45<br />
de), têm também uma taxa de retorno social ele -<br />
vada, que pode atingir três a quatro vezes as ta xas<br />
de retorno privado, devido a externalidades po si -<br />
ti vas geradas pelo processo educa cional (CA -<br />
MAR GO, 2006, p. 10).<br />
De acordo com a mesma lógica argu men ta -<br />
tiva, o documento refere-se à importância do in -<br />
vestimento governamental em educação:<br />
Se a educação está diretamente relacionada à pro -<br />
dutividade e se o mercado de trabalho valo ri za es -<br />
tes ganhos de produtividade pagando sa lá rios<br />
mais elevados, o maior custo, para o indi ví duo, da<br />
evasão escolar precoce é a perda de opor tunidade<br />
de aumentar sua produtividade e, por tanto, de au -<br />
mentar sua capacidade de obter renda no mercado<br />
de trabalho. (...) Quanto à sociedade como um<br />
to do, os principais cus tos da evasão escolar pre -<br />
coce são uma maior de manda por pro gra mas so -<br />
ciais (saú de, assistência social, se guro de semprego<br />
etc.) e, por tan to, maio res custos para a so cie da de<br />
de manter estes programas, a redução das re ceitas<br />
tri bu tárias do governo de vido ao menor nível de<br />
ren da da população, e maior pro babilidade de que<br />
pes soas com menor nível educacional se en volva<br />
em ativida des anti-sociais de alto<br />
risco (cri me, uso de dro gas, gravi -<br />
dez pre coce etc.) que geram custos<br />
adi cio nais à so cie dade (CAMAR -<br />
GO, 2006, p. 11).<br />
Com esse discurso explicativo,<br />
são propostas mudanças na edu cação<br />
brasileira, nos níveis funda mental e<br />
mé dio e, atualmente, tam bém na uni -<br />
versidade. A deci são im perativa de<br />
que a univer si dade for me um maior<br />
número de alunos tem le vado alguns<br />
a re cor rer a Aní sio Teixeira, afir man -<br />
do: “que ela é um direito de to dos;<br />
que ela deve abrir os portões para a<br />
mo cidade; que ela deve deixar de ser<br />
para al guns para ser de todos; que ela<br />
deve deixar de ser rígi da em favor da<br />
fle xibilização etc. (Cf. AL MEI DA<br />
FI LHO, 2007a, p. 13-17).<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
No início dos anos sessenta,<br />
no Brasil, havia uma<br />
considerável organização<br />
da sociedade, construindo<br />
mudanças que colocavam o<br />
país em rota de colisão com<br />
as relações de dependência<br />
do capital internacional,<br />
sendo o golpe militar a<br />
prova mais evidente, pois<br />
veio para frear o ritmo das<br />
mudanças que estavam em<br />
curso, o que temos<br />
atualmente, ao contrário,<br />
indica alinhamento às<br />
propostas apresentadas<br />
pelo Banco Mundial.<br />
Sem entrar no mérito das pro pos tas de Aní -<br />
sio Teixeira, não podemos nos es quecer que, no<br />
início da década de sessenta, ele fazia parte de um<br />
governo sensível aos anseios populares e de um<br />
tem po em que parte signi fica ti va da sociedade<br />
or ganizada julgava que a his tória estava segu ra -<br />
mente em suas mãos. Até que ponto seria pos -<br />
sível e qual o sentido de, uma re forma univer si -<br />
tária inspirada nos princípios defendidos por<br />
Aní sio Teixeira, sem a corres pon dente proposta<br />
de mudanças nos níveis de ensino fundamental e<br />
médio, a defesa e o trabalho para se criar uma ou -<br />
tra forma de organização social, econômica e po -<br />
lítica? Segundo o autor da pro posta da Uni ver si -<br />
dade Nova,<br />
hoje, a Universidade brasileira encontra-se num<br />
momento privilegiado, em termos de conjuntura<br />
externa e in terna, para iniciar, consolidar, ampliar<br />
e apro fundar um pro cesso de trans for mação ra di -<br />
cal da es tru tura cur ricular da educação su perior<br />
[...], diretamente inspi ra da nos princí pios de Anísio<br />
Tei xei ra (ALMEI DA FILHO, 2007b, p. 2).<br />
Ora, se no início dos anos ses senta, no Brasil,<br />
havia uma consi derável organi za ção da socie -<br />
dade, construindo mudanças que<br />
colo cavam o país em rota de co lisão<br />
com as re lações de de pen dên cia do<br />
capital inter nacional, sendo o golpe<br />
mili tar a prova mais evi den te, pois<br />
veio para frear o ritmo das mu dan -<br />
ças que estavam em curso, o que te -<br />
mos atual mente, ao con trá rio, in -<br />
dica ali nha mento às pro pos tas apre -<br />
sentadas pelo Ban co Mun dial,<br />
quan do mo dificam a econo mia, a<br />
pre vidência social, a estru tura da<br />
justiça e des tacam a edu ca ção su pe -<br />
rior como um dos subse tores a se -<br />
rem alte ra dos em favor de “um fun -<br />
cio namento mais efi ci en te e com<br />
me nor custo” (BAN CO MUN DI -<br />
AL, 1995, p. 14). Em outras pa la -<br />
vras, isso significa es treitar a re lação<br />
de dependência e, nem de longe,<br />
aponta para a superação.<br />
Universidade e sociedade DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 45