Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:24 Página 123<br />
SIOU, 2002, p.181).<br />
Diante de todas as demandas que buscam<br />
con cretizar-se no exercício profissional do pro -<br />
fessor universitário, há de se pensar na (in)dis -<br />
ponibilidade de tempos, espaços e contextos para<br />
que o professor, cotidianamente, invista em sua<br />
formação para o exercício da docência, mais par -<br />
ticularmente na aprendizagem e no exercício de<br />
ensinar, ou seja, por exemplo, no enfren ta mento,<br />
dos entraves quanto à “transposição di dática”,<br />
ou seja, a transformação dos saberes acadêmicos<br />
em saberes escolares, considerado um dos gran -<br />
des desafios para o professor uni versitário (PI -<br />
MEN TA e ANASTASIOU, 2002).<br />
Reconhecemos, no entanto, que existem den -<br />
tro da universidade algumas iniciativas de aco lhi -<br />
mento, de preparação do professor univer sitá rio,<br />
quando este inicia o exercício profissional. Fa -<br />
lan do mais pontualmente do nosso contexto de<br />
investigação, podemos dizer que se tem inves tido<br />
em cursos de capacitação, de curta duração, ofe -<br />
recidos para que o professor tenha alguma re fe -<br />
rência sobre a docência. Envolvem aspectos ad -<br />
mi nistrativos, curriculares, metodológicos, inter -<br />
pessoais, técnicos. Entretanto, tais práticas têm<br />
seus limites quanto ao acompanhamento no iní -<br />
cio do exercício docente, podendo representar ri -<br />
tos de passagem na entrada, como profissional,<br />
na universidade.<br />
Estabelecendo interlocuções e apreendendo<br />
significados sobre o trabalho docente e o<br />
desenvolvimento profissional<br />
Até esse momento nossas análises pautaramse<br />
nas percepções cotidianas e na interlocução<br />
com o campo científico. Agora explicitaremos re -<br />
flexões resultantes do diálogo com os pro fes so -<br />
res, sujeitos desta pesquisa. Trataremos, mais es -<br />
pe cificamente, dos relatos que os professores fi -<br />
ze ram sobre o trabalho docente e as pers pec ti vas<br />
de desenvolvimento profissional visuali za das.<br />
Trabalho docente: significados atribuídos<br />
As entrevistas abertas que desenvolvemos ar ti -<br />
cularam-se em torno de três eixos (atuação pro fis -<br />
sional, trabalho docente e socialização pro fis sio -<br />
Universidade e sociedade<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
nal), que se interpenetravam. As falas dos pro fes -<br />
sores, entretanto, advêm principalmente de suas<br />
reflexões sobre o próprio exercício do cen te na<br />
atualidade, expondo as relações que es ta be le cem<br />
com os diferentes atores do pro cesso edu ca tivo e<br />
sobre as condições de inves ti mento na pro fissão.<br />
Os professores, sujeitos desta pesquisa, ao<br />
analisarem o trabalho como professor univer si tá -<br />
rio, hoje, referem-se a aspectos que envolvem ou<br />
que constituem o exercício docente. Eles men -<br />
cio nam dimensões pedagógicas (a relação pro -<br />
fessor-aluno, a formação continuada do pro fes -<br />
sor), aspectos institucionais (as diferentes fun -<br />
ções atribuídas ao profissional) e o lugar ocu pa -<br />
do pelo ensino, no cotidiano da instituição.<br />
Na análise feita por Artur aparece o trabalho<br />
docente idealizado, como projeto e expectativa<br />
de prática, em confronto com as exigências pos -<br />
tas pela instituição. Ele argumenta:<br />
Como professor, no início eu achei muito bom, sa -<br />
be, porque, como falei, dava a oportunidade de sis -<br />
tematizar. Mas, com o tempo, foi me inco mo dan do<br />
muito porque [...] a universidade não te dá muito<br />
espaço para estudar. Ela não incentiva que você...<br />
Ela obriga que você faça isso, faça aquilo, mas ela<br />
não te dá tempo para você realmente es tu dar, você<br />
se preparar. É importante que você par ticipe de<br />
comissão, que você se encha de tra ba lho; você está<br />
entulhado de coisas, mas não estu da. Quan do você<br />
estuda, sentem que você está com tempo. Sabe, preparar<br />
aulas, essas coisas, eu estou sentindo cada vez<br />
mais falta, [...]. O tempo que eu tenho para me<br />
dedicar à universidade, aca ba muito sugado por<br />
reuniões, projeto disso, pro jeto da qui lo. Eu sinto<br />
falta de estudar. Eu es tu dava muito mais quando<br />
não estava na uni ver si dade. [...] (ARTUR).<br />
Qual a dimensão do trabalho docente? Qual<br />
o equilíbrio necessário entre as diferentes fun -<br />
ções atribuídas ao professor universitário? Não é<br />
contraditório que, em um lugar reconhecido co -<br />
mo aquele da produção do saber, o inves timento<br />
na formação seja secundarizado, precarizado?<br />
Bem sabemos que vivemos tempos de com pres -<br />
são espaço-temporal, ou seja, não podemos en -<br />
ten der o nosso trabalho como um projeto de fu -<br />
DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 123