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Editorial - Andes-SN

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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:26 Página 171<br />

ção de um certifi cado de nível superior, mas que<br />

selecionará alguns poucos eleitos, os que ob ti ve -<br />

rem o conceito suficiente pa ra passar à pró xima<br />

etapa, para a efetiva formação em nível su pe rior.<br />

Aos demais (a maioria cuja edu cação na base da pi -<br />

râmide a que já aludimos, se deu preca ria mente),<br />

restará portar seu diploma de nível su perior, com<br />

muito poucas chances de escapar do destino de<br />

aten dentes em qualquer bal cão da esquina.<br />

Como resultante da ofensiva neoliberal, ex -<br />

pande-se ademais um contingente de estudantes<br />

que “efetivamente não consegue se manter, cujo<br />

quan titativo vem aumentando ano a ano, em de -<br />

corrência, por um lado, do processo acelerado de<br />

proletarização a que vem sendo submetida a po -<br />

pulação brasileira, nestes anos de crise econô mica<br />

e institucional, e, por outro, da democra ti zação<br />

do acesso da classe trabalhadora ao sistema esco -<br />

lar como um todo, e à universidade em par ti cu -<br />

lar” (ANDIFES, 1993).<br />

Estes jovens iniciam a sua vida laboral muito<br />

precocemente – seja para ajudarem na renda fa -<br />

miliar, seja para obterem alguma liberdade eco -<br />

nômica – o que já os coloca em desvantagem na<br />

escolha de alguns cursos (prioritariamente aque -<br />

les que exigem tempo integral ou não são ofere ci -<br />

dos no período noturno). O reflexo dos fatores<br />

subjacentes à emergência deste perfil rebate sobre<br />

as instituições formadoras, materializando o fe -<br />

nômeno da evasão. Também contribui para o au -<br />

mento da procura por cursos aligeirados, ofere -<br />

cidos em universidades privadas. Portanto, não<br />

basta estabelecer metas de ampliação de vagas no<br />

ensino superior; há que se definir mecanismos de<br />

fixação desse, não tão novo, quadro de alunos<br />

que está ingressando na Universidade.<br />

Este conjunto de fatores implica, necessaria -<br />

mente, uma determinada concepção de gratui da -<br />

de, que compreenda “não só a ausência de taxas<br />

ou mensalidades, mas a garantia de reais condi -<br />

ções de estudo, através de sistemas e mecanismos<br />

que permitam ao aluno condições de alimentação,<br />

trans porte, moradia, disponibilidade de material<br />

de estudo.” (ANDES, 1996, p. 29)<br />

Por isso, é necessário não perder de vista que<br />

uma política de assistência ao estudante não pode<br />

Debates Contemporâneos<br />

limitar-se a criar e executar mecanismos desti na -<br />

dos à população de baixa renda; ela deve, tam -<br />

bém, preocupar-se com princípios de atendi men -<br />

to universal, se entendemos como correta a for -<br />

mu lação apresentada anteriormente.<br />

Pontos de partida, horizontes possíveis<br />

Sob o prisma (neo)liberal, as políticas de as -<br />

sis tência são vistas como contraproducentes, pos -<br />

to que estimulam a preguiça e o ócio. Nesta ótica,<br />

o indivíduo inescapavelmente se acomo da, dei -<br />

xando de procurar meios para a sua sub sis tên -<br />

cia/so brevivência porque a assistência lhe garante<br />

condições para tal.<br />

A ótica neoliberal de mercantilização das re -<br />

la ções, confiadas ao automatismo regulador do<br />

mer cado, anula todo o controle sobre o meio vital<br />

em que se desenham e desenvolvem as estratégias<br />

de vida. O acesso a bens e serviços é somente a<br />

con seqüência da maximização das redes de con -<br />

sumo para aqueles dispostos a pagar por estes bens<br />

e serviços, mas, em nenhum caso, responde à de -<br />

manda coletiva por uma redistribuição social dos<br />

recursos disponíveis. A integração a esses pro ces -<br />

sos é meramente virtual, porque o único processo<br />

social que pretende integrar global mente é invi sí -<br />

vel, imprevisível e atomizado: o mercado.<br />

Foi colocado em curso um amplo conjunto de<br />

formas alternativas de encaminhar os progra mas<br />

so ciais, que passam a ocupar espaços onde antes<br />

predominava o Estado. Mas, deve-se ter pre sente<br />

que uma vertente importante dessas novas formas<br />

para atender o social – e amortecer e neutralizar as<br />

expressões da “questão social” – é que elas podem<br />

ser pensadas como instrumentos para eliminar o<br />

caráter da luta política, conver tendo os conflitos e<br />

ten sões sociais em expressões va zias de sentido<br />

trans formador, ou seja, como portadores da in ten -<br />

cionalidade de, ao serem im plementadas, atuarem<br />

como mecanismos conser vadores.<br />

As Políticas Sociais, rebaixadas, doravante, à<br />

con dição de “Programas”, funcionam, nessa li -<br />

nha, exatamente como instrumento de divisão de<br />

classes, a partir da sua característica residual. Per -<br />

de-se, com isso, o horizonte da luta coletiva. Ade -<br />

mais, a focalização despolitiza as políticas, tiran -<br />

Universidade e sociedade DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008 - 171

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