Editorial - Andes-SN
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US41:<strong>Andes</strong> 36 12/07/11 17:24 Página 124<br />
Produção do conhecimento versus produtivismo e a precarização do trabalho docente<br />
tu ro, histórico, mas como uma prática efêmera<br />
(HARVEY apud CHAUÍ, 2003). Isso justifica a<br />
prática docente como um movimento de super fí -<br />
cie. Ah, onde está a nossa reflexão de raiz, de<br />
pro fundidade e de conjunto?<br />
Artur explicita outros aspectos do trabalho<br />
do cente. Assim como Bruno, toma, como foco<br />
de análise, a atividade de ensino, a relação que os<br />
alunos estabelecem com o conhecimento e as<br />
atri buições institucionais.<br />
Aí eu cheguei aqui [na instituição em estudo] e<br />
tive esse choque, né. Por quê? Cheguei aqui, ima -<br />
gina, eu estava acostumado a pegar turma de 15,<br />
19 de 20, 25 alunos lá [na instituição pública em<br />
que trabalhou anteriormente, como professor su -<br />
bs tituto] e aqueles meninos, tipo assim, cê co nhe -<br />
cia cada um deles. Aí cheguei aqui, o que me de -<br />
ram, de cara? Uma disciplina [...] com 65 alu nos.<br />
Nunca tinha dado aula num anfi tea tro[...]. Nun ca<br />
dei aula prum povo, para uma turma as sim tão<br />
grande! A partir daquilo ali, eu já achei assim, es -<br />
quisito. Como é que se conhece o alu no? Como é<br />
que se aproxima do aluno? E eu vi, também, a<br />
maioria é pessoal que é obrigado a fazer, porque a<br />
disciplina é obrigatória. E gente, muita gente, for -<br />
mando. Entendeu? Gente que não ia mexer com<br />
na da disso. Não gostava. Um desinteresse total<br />
pe la disciplina. Aí comecei a ter dificuldade. [...]<br />
Co mo é que eu vou por esse pes soal em sala de<br />
au la? Como é que vou passar? E eu via o pessoal<br />
que assinava e saia. Sabe? Aí co mecei a pensar que<br />
o problema era comigo e des cobri que não era.<br />
Isso é geral. Eu achei muito es quisito isso [...]. Eu<br />
não estava costumado com isso [...] (BRUNO).<br />
Às vezes eu acho bom, às vezes eu acho decep cio -<br />
nante porque, às vezes, a sensação que eu tenho é<br />
que é uma grande, imensa, perda de tempo. Por<br />
que uma perda de tempo? Porque o aluno, ele, a<br />
própria estrutura de ensino, o aluno acaba muito<br />
acostumado na questão do acúmulo. Ele quer a<br />
no ta, ele quer uma facilidade, muito poucos que -<br />
rem realmente... estão realmente dispostos a<br />
apren der. Então os alunos, muitos deles, a grande<br />
maio ria deles faz corpo presente. Não tem uma<br />
dis ponibilidade, principalmente, porque o co nhe -<br />
124 - DF, ano XVII, nº 41, janeiro de 2008<br />
cimento na universidade é muito fragmentado e<br />
[eles] são pessoas muito jovens. Eles não têm uma<br />
visão do que pode acontecer. A sensação que eu<br />
tenho, às vezes, é que é como se eu estivesse fa lan -<br />
do, falando, falando... e eu estou simplesmente fa -<br />
zendo um papel de falador e o aluno de ... anota<br />
o mínimo possível para conseguir a nota. Tanto é<br />
que eu comecei a ver isso nas provas. Comecei a<br />
ficar muito angustiado com as provas, onde, às<br />
ve zes, ali estava refletido o que eles aprenderam<br />
[...]. Ao mesmo tempo em que eu fico muito de -<br />
cepcionado, acho que eu estou perdendo um pre -<br />
cioso tempo - eu e eles. Mas, ao mesmo tempo, às<br />
vezes, eu sinto que é um espaço de construção,<br />
que é como uma semeadura. Há uma instituição,<br />
há um esquema que é muito maior que a sala de<br />
aula, que é muito massificante, um nível com pe ti -<br />
tivo muito grande, uma preocupação com coe -<br />
ficiente, com nota, com a... muito mais a buro cra -<br />
cia do que, necessariamente, com o conteúdo.<br />
Mas ao mesmo tempo que tem um lado que de -<br />
sanima, tem um outro lado que insiste, que bri ga,<br />
que gosta de estar ali discutindo que, de re pente,<br />
tem a ... eu vejo assim, quando o pessoal fala: nos -<br />
sa, isso aí parece que você falou para mim! Eu sin -<br />
to que tocou a pessoa (ARTUR).<br />
Artur e Bruno, professores iniciantes no ma -<br />
gistério, demonstram preocupação, insatis fa ção<br />
com a prática pedagógica, com a relação pro fes -<br />
sor-aluno, balizada pelas condições estruturais<br />
ofe recidas pela universidade, cuja expansão se dá<br />
à custa do aumento do número de alunos por<br />
pro fessor, independentemente dos resultados,<br />
em termos da qualidade de ensino praticada. Fa -<br />
zem uma crítica à relação que os alunos esta be -<br />
lecem com o conhecimento na instituição de en -<br />
sino, uma ótica pragmática e utilitarista.<br />
Enzo, professor experiente, ao falar sobre o<br />
trabalho docente na atualidade, em um contexto<br />
de reestruturação da própria universidade, evi -<br />
dencia a preocupação com a forma de se com pre -<br />
ender e desenvolver os três princípios (ensino,<br />
pes quisa e extensão) que orientam o trabalho na<br />
uni versidade. Ele analisa:<br />
Olha, por exemplo, na universidade pública, sem -<br />
Universidade e sociedade