— Senhor K, este é o comandante de cruzador imperial, Coronel Pation zen Barady.Lúcifer K estendeu a mão à guisa de comprimento e foi ignorado.— Então este será o terráqueo que vai transportar a carga? – Pation se dirigia ao ibadânio. —Espero que seja capaz de estar no ponto de encontro na hora combinada. Não vou atrasar ocronograma do barão.O solariano abaixou a mão, estava furioso. Ser chamado de terráqueo era como levar um tapana cara, uma ofensa gravíssima. O termo era uma referência à época em que os humanos foramconquistados e escravizados pelo Império Kiraly-Hatolon. Tempos negros e humilhantes que osantigos senhores usavam para rebaixar os novos concorrentes.— Não se preocupe — provocou Lúcifer K. — Já provamos que não há nada que umhatoloniano faça que nós não podemos fazer melhor.Finalmente os olhos do Coronel Pation se voltaram para baixo e pousaram furiosos sobre o solariano,a mão se deslocou para a arma na cintura. Ao mesmo tempo Lúcifer K preparou-se para o confronto.— Tenho certeza de que a transferência de carga ocorrerá sem qualquer atraso — Bafurinterveio. Não queria chamar atenção para a transação. — Afinal todos os detalhes foram acertados.Voltemos para a festa.Foi com alívio que Bafur viu os dois infiéis darem-se as costas e se afastarem sem outrasprovocações. Era tão difícil lidar com seres presos a falsos conceitos como honra ou ascendência.Quando se trabalha para os deuses, como o clero de Ibadan, tudo é permitido e justificado, poisessa é a vontade divina. Felizmente, mesmo entre os infiéis, existiam indivíduos com quem sepodia negociar.— Caro barão, está magnífico. Não me lembro de jamais ter visto outro nobre do impériovestido com tanta majestade.Apesar do cumprimento displicente endereçado ao diácono, o Barão Malaty não conseguiuesconder o prazer que sentiu ao ouvir os elogios. Afinal despendera muito tempo e dinheiro; osmais belos tecidos, as mais valiosas joias, tudo em arranjo digno de rei. Agora que deixara de serum reles negociante e possuía o título de barão, não permitiria que ninguém o considerasse menos.Ou que ameaçasse sua posição na corte.— Imagino que esteja tudo acertado?— Está tudo pronto — explicou Bafur. — O contêiner foi carregado no cruzador. Já acerteio translado da carga para a nave solariana. Só falta o barão cumprir a sua parte. Ou terá desistido?— É claro que não. — O barão encarou o ibadânio, a papada do diácono ocultava totalmenteo pescoço, e logo desviou o olhar. Era difícil olhar para aquela carne macilenta. — Ah!Finalmente chegou.Enfim a última reverência. Salariel estava livre de suas obrigações sociais e se dirigia para asaída quando cruzou com a criança. As duas se fitaram por alguns instantes, Salariel sorriu. Amenina estava começando a entrar na adolescência, quando a gordura acumulada na infância lhedava formas mais arredondadas para depois ser consumida e transformada nos membros longilíneosde adulta. A menina sorriu de volta, abaixou os olhos encabulada e continuou a andar. Estranhouma criança, a essa hora. Quem seriam os responsáveis?, matutou a comandante. Na porta, voltousee um arrepio percorreu seus braços nus. A criança saudava o Barão Malaty sob o olhar atendo doDiácono Bafur.10AGUINALDO PERES
O cruzador negro de formas afiladas, com suas coloridas faixas de navegação acesas, pareciase afastar lentamente da estação espacial.Na sala de comando, a Tenente-Coronel Salariel olhava satisfeita para a agitação em torno doholograma geoide que representava Shah-day. Cada pequeno ponto luminoso era uma nave emorbita geostática aguardando autorização de atracamento ou de partida. As cores indicavam aafiliação das naves, a intensidade sua importância. O motivo da alegria da comandante era o pontoazul brilhante que saía do campo do holograma e representava o cruzador imperial. Seu pequenomundo, longe da perfeição, voltava à normalidade. Janelas translúcidas pipocavam dentro do campode visão, algumas mereciam uma observação mais cuidadosa, a maioria apenas uma breveleitura. Não deu importância ao aviso de que a nave solariana Vésper estava fora da rota declaradapara Tar-Babir em território de Ibadan. Solarianos nunca seguiam os planos de voo.Uma nova janela se abriu sobre as demais, o brasão imperial brilhava no canto esquerdo.Salariel ergueu a mão como se quisesse segurar a mensagem projetada enquanto a lia e relia. Ogesto não passou despercebido pelos oficiais da sala de comando que se voltaram ansiosos para acomandante. Ainda mais quando, com um gesto, ela fechou a janela como se quisesse esmagá-la.— Preparem o interceptador para partida imediata. — Sua voz soou acima do burburinho. —E avisem o Tenente Talamy! Eu o quero a bordo com uma equipe de vinte guardas armados. Major,assuma o comando.Duas horas de voo e o cruzador imperial deslizava suavemente em direção à DEUS. Daqueladistância, a anomalia espacial se assemelhava a um humanoide com os braços e as pernas afastados.Com varias centenas de quilômetros de gás hidrogênio, plasma e poeira, era um grande mistério.De onde surgira aquela massa de matéria? Que estranhas forças moldaram a sugestiva forma?Qual a fonte de luz ultravioleta que ionizava o gás e lhe dava a brilhante cor carmim? Perguntasque duas dezenas de naves de pesquisa tentavam desvendar enquanto circundavam a anomaliaa uma distância segura.Contudo, o Barão Malaty olhava para DEUS por outra perspectiva. Lá fora estava algo grandiosoque nem mesmo a avançada ciência hatoloniana podia explicar, algo fora de compreensão econtrole. Como a vida.A porta do salão de observação se abriu e a sobrinha do barão entrou, seguida pelo CoronelPation. Ela se posicionou de frente à parede transparente ao lado do barão, que acariciou os cabelosnegros da menina. Apreciaram as cores fulgurantes por alguns instantes. O barão retirou a mão.— Meu irmão foi um tolo. Tentar fraudar o governo imperial e ser pego, colocando a posiçãoda família em perigo. — O barão, pesaroso, falou consigo mesmo, balançando a cabeça. — Eleassumiu a responsabilidade, mas não satisfez os carniceiros do governo. Eles querem sangue. Aexecução será em alguns dias, apesar dos meus esforços. No último instante ele me pediu queadotasse a única filha. Mas não é possível. Mantê-la comigo atrairia a ira do império contra aSHAH-DAY11
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