para cento e vinte e doi na última contagem, sem contar os desaparecidos, que não se sabe ao certoquantos sejam. A explosão destruiu o prédio do DAC e também a estrutura da rua e dos comércios àfrente. As lajes superiores do prédio ruíram em cascata e podem ter pessoas ainda soterradas nosandares do subsolo. Robôs entraram pelo o que restou do sistema de ventilação e tem levado ar frescopara as pessoas. Existe o risco de fissura embaixo da fundação do domo, parece que tem perda de arfresco. — A voz do radialista soava preocupada de verdade. — Vamos aguardar novas informações,certo pessoal? Fiquem tranquilos aí.Pegando um novo pacote de frutas secas, Indara pensava em como funcionava a cabeça de umterrorista. Quem morreria por uma causa? Certamente, os membros da Soberania Madjen viam osatentados como um ato heroico contra um poder opressor. Era interessante pensar que o herói podeperder seu status dependendo do lado em que ele se encontra.Com sua mochila nas costas, Indara bateu a porta com força e seguiu seu caminho para as oficinas.Comia fatias de maçã desidratadas enquanto caminhava pelos corredores quando foi jogada nochão. As fatias se esparramaram pelo piso. Um grupo de no máximo seis pessoas corria de um duto dear para outro. Arrancaram a grade, passaram com pressa, chamando os companheiros, fazendo sinaiscom as mãos, olhando para todos os lados.Um rapaz a olhou com urgência. Algo como “você não viu nada, certo?”. Indara sabia que osdutos levavam aos esconderijos preferidos para usar drogas, transar e fazer festas. Mas aquele nãoparecia o caso. Os outros três passaram, com o último fechando a primeira grade. O Urgente a olhouuma vez mais antes de puxar a grade, um olhar que parecia de despedida. Ele sumiu em seguida.Com cuidado, Indara saiu de sua imobilidade e bisbilhotou por entre as grades da ventilação. Otúnel estava vazio e pouco iluminado. Precisava ser limpo, pois era possível ver as marcas dos calçadose o arrastar de joelhos por ele. Ela ainda teve tempo de recolher suas maçãs — não desperdiçariacomida — e continuou seu caminho. Um evento estranho em um dia comum...Seu pequeno aspirador era silencioso. Limpava um veículo com bancos confortáveis, mas quecheirava a sorvete. O carpete estava imprestável. A areia fina que saía dos poços de mineração naqueleplaneta miserável entrava em tudo. Mesmo Indara indo pouco para fora dos blocos coloniais, sempretinha areia nas meias.De repente, sem nenhum tipo de aviso, seu mundo parecia uma roleta. O veículo girava no ar empiruetas sem sentido, enquanto a oficina brilhava como um sol. Indara conseguiu se segurar no bancoenquanto era jogada de um lado para o outro, até que sentiu o baque duro contra o chão e o barulho demetal contra metal. Foi quando tudo ficou misteriosamente silencioso.Fumaça. Calor. Indara abriu os olhos e se viu de cabeça para baixo. Conseguiu se endireitar e searrastou para fora do veículo que com certeza tinha sofrido perda total. Sentiu o rosto molhado elimpou com a manga do macacão que ficou rubra. Sangue escorria em profusão de sua testa. Pareciaque não estava mais na oficina. Havia um rombo na porta da garagem que vivia fechada para o exterior.Os automóveis que ela atendia serviam apenas nos largos corredores da colônia e não costumavamir para o lado de fora. A fumaça vertia dos locais chamuscados. Vários de seus companheiros detrabalho jaziam mortos no chão, alguns em posições impossíveis, alguns alvejados.100LADY SYBYLLA
Seja lá quem fizera aquilo, fizera o veículo voar pelos ares, o que muito possivelmente salvara avida de Indara. Com areia entrando rapidamente pelo jato de ar, Indara saiu de lá empurrando as portasque pareciam com defeito. Chegou ao corredor e então ouviu o alerta geral e as luzes vermelhas deemergência acesas no alto da parede. Um alerta desses aparecia quando havia confrontos armadospesados, invasões, explosão do reator. As telas de sinalização estavam off-line. Indara procurou alguémpara pedir ajuda, mas os corredores estavam vazios.A cabeça doía, mas o corte parecia melhor. Já não sangrava mais. Apenas tinha um calombo nolugar. Continuou seguindo por corredores paralelos aos corredores centrais. Será que os terroristas tinhamexplodido a colônia? As seis pessoas que viu no corredor... Eram eles? Teriam coordenado oataque?Gritinhos finos e choro alto podiam ser ouvidos de onde ela estava. Voltou atrás alguns passos eseguiu um novo corredor que também estava vazio. Encontrou um homem caído no chão com umabala na testa. Sua camiseta dizia “Professor”. É claro... ela estava no bloco educacional de Tau 3.Conhecia aqueles corredores, mas com a iluminação vermelha tudo parecia diferente. Bisbilhotou ointerior. Os gritinhos aumentaram. Ela olhou de novo, mas dessa vez para baixo. Achou que estavaalucinando. Era seu irmão! Não! Seu menino, tão meigo, não podia estar ali!Indara abriu e fechou os olhos várias vezes. Não era seu irmão. Mas era um garotinho com orosto sujo de fuligem. Ele segurava um pequeno bicho de pano, também sujo. Atrás dele, três meninase mais um menino, todos amuados embaixo da pequena mesa de atividades. Olhando para o corredor,onde via os pés do professor morto, ela pensava se os terroristas não tiveram coragem de atirar emcrianças pequenas ou se foi porque eles não as viram.O garotinho a abraçou com força, soluçando. As quatro crianças fizeram o mesmo e Indara se viurodeada de bracinhos e soluços lacrimosos, que pediam pela mãe, pelo pai, pela avó. Estavam comtanto medo quanto ela, o que crianças pensariam do que estava acontecendo?Sem pensar muito, Indara pegou os cordões da parede. Quando o professor saía da escola comcrianças pequenas, ele usava cordões que prendiam umas nas outras e todas elas a outro cordão presono seu cinto. Assim podia se certificar que nenhuma delas se perderia. Indara, aos cinco anos, descobriracomo se soltar um daqueles cordões e começou a correr pela praça central de Tau 3. O pensamentoa encheu de saudosismo, por alguma razão.Com tudo pronto, cinto amarrado e crianças atreladas, Indara começou a se esgueirar para forado bloco educacional. Ouviu passos e fala apressada no final do corredor principal. Abaixada no mesmonível das crianças, viu soldados passando ligeiros de um lado para o outro. Sacos pretos eramlevados para algum lugar. Um deles se apressou em direção ao bloco educacional assim que Indaraescoltou os pequenos para um novo corredor à frente da posição dos soldados. Ainda teve tempo de verquando ele jogou uma granada dentro da sala de aula de onde ela acabara de sair. Fumaça e detritossaíram dela pouco depois.Mas o que estavam fazendo? O que os terroristas procuravam? O jeito era seguir para fora dosblocos administrativos e tentar entrar no civil para, quem saber, obter umas respostas. Certamente aguarda colonial estava aquartelada e recebia feridos e moradores. Não poderia usar a passarela, aprincipal passagem para os pedestres, tampouco as ruas abaixo dela. Usaria corredores de manutenção.Era mais seguro.Abraçou as crianças na penumbra quando viu que não tinha como fugir de um novo grupo delançadores de granadas. Não foram vistos. Crianças são espertas. Elas ficaram quietinhas, acatando asMAIS UM DIA GLORIOSO EM TAU CETI!101
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