va tentando fazer uma ampliação de outro deslocamento e esbarraram em mim. Ampliei esta regiãosem querer.— Mas a imagem está distorcida? O vetor parece bem inclinado — falou Gaspar.— O deslocamento é esse mesmo. E ele é inclinado. É alguma anomalia. Nunca vi nadaigual. Ele parece ocorrer não só no tempo, mas no espaço também.— No espaço!? — espantou-se Tânia.— É. Por isso ele é inclinado. Na verdade eu acho que ele atravessa a nossa jurisdição. Entrapor um lado e sai pelo outro. Além disso, as ondas temporais fogem completamente dos padrões. Ea energia consumida é um ínfimo do normal!— Seria alguma tecnologia desconhecida para nós? — perguntou Tânia.— Pode ser. Mas não está emitindo o código de segurança. Na verdade, não está emitindocódigo nenhum! Deveria estar, dificilmente a lei que obriga emissão do código seria revogadano futuro.— O que você acha que é? — indagou Gaspar.— Não há como saber. Com certeza é um clandestino. Vocês vão ter que capturá-lo paradescobrirmos.— Muito bem! – disse o comissário, enxugando o suor da cabeça calva com um lenço. —Chega de conversa! Aqui estão as ordens — Entregou um envelope lacrado para Tânia e outro paraGaspar. — Já localizamos o momento e local adequados para a emboscada. Peguem as informaçõescom o operador e executem a missão. Eu aguardo os resultados.O comissário se retirou da sala, ajeitando o paletó largo sobre o corpo obeso. “O trabalhosujo fica pra gente!”, pensou Tânia. Desde a primeira missão desse tipo ela se arrependera damaldita decisão de ter aceitado entrar para a categoria X. Tratava-se de um padrão secreto quealguns policiais recebiam para lidar com algumas missões sigilosas. Garantia uma aposentadoriacom vinte por cento menos de tempo de serviço, com proventos trinta por cento maiores.De início pareceu interessante, mas quando ela descobriu que muitas vezes as missões erampara lavar roupa suja, entendeu os maus lençóis onde se metera. Pelo menos para ela, que nãogostava nem um pouco deste tipo de coisa. E não havia como voltar atrás, a não ser saindo dacorporação.O operador passou os dados da emboscada e eles se foram. Enquanto saíam, Tânia abriu oenvelope entregue pelo comissário, conferiu a autenticidade e o guardou no bolso. Não havianenhuma informação importante ali. Era apenas uma segurança para o policial, prova de que nãoestava agindo por conta própria, afinal, esse tipo de missão era muito secreto, sem registro nossistemas e conhecida por poucos, que poderiam negar sua existência. Seria arriscado demais tocaruma missão dessas sem uma garantia. “Já basta o peso na minha consciência”, pensou Tânia,“Lidar com o pessoal de assuntos internos por esta merda, nem pensar!”— Lembra do primeiro cara que a gente prendeu, Gaspar? — perguntou Tânia.78UBIRATAN PELETEIRO
— Hein? — disse Gaspar, retirado de repente da sua concentração. — Acho que não —respondeu após um momento, voltando a olhar para a armadilha que montaram no local combinado.— Afinal, foram tantos! E eu já tinha prendido um bocado quando você entrou!— Não, eu estava falando depois que nós entramos para a categoria X.— Ah, sim! Aí não foram tantos. Na verdade foram poucos, só uma meia dúzia. Lembro donosso primeiro. Foi um velhote. Ele era estranho pacas! Parecia todo modelado feito um bonecode biscuit. Sabe-se lá que interferência cosmética eles vão inventar no futuro! Ele não era nemum pouco calvo, os cabelos, muito negros, a pele lisa como a de um bebê e os dentes maisbrancos que madrepérola. Andava ereto feito uma tábua, não tinha nem sinal de barriga oupneuzinhos. Mas tenho certeza que era um velhote, só pela expressão nos olhos dele. Eram azuiscomo o céu, num fundo mais branco que algodão. Não se via uma raia vermelha. Mas o olharsempre vem lá do fundo, e era olhar de velho. Isso aí eu acho que eles ainda não aprenderamcomo modelar.— O que você acha que foi feito dele?Gaspar olhou para ela, em dúvida. Parecia não entender seu interesse no assunto. Depois dealguns momentos, disse:— Acho que ele falou a verdade quando o prendemos. Devia mesmo ser um figurão daprópria polícia. Aquele punhado de ouro que ele nos ofereceu, caramba! Gostaria de ter tidoum jeito de ficar com aquilo! Mas não havia como. A mensagem que a chefia recebeu dofuturo devia ter falado do ouro também. Agora o que foi feito dele, tenho pra mim que deramum sumiço no velho. Cremaram o corpo e depois mandaram as cinzas pra a pré-história, sei lá!Nesses casos não é registrado boletim de ocorrência mesmo, foi faxina na própria casa, podeter certeza.Tânia não perguntou mais nada. Passou a prestar atenção no monitor do controle em suasmãos. Logo à frente, uma rede de contenção estava armada na forma de um paralelepípedo daaltura, largura e profundidade de um homem, com boa folga, caso o alvo fosse muito alto ou obeso.A rede era negra, mas apresentava uma fosforescência amarelada. Era de um modelo mais novo.Não precisava de suportes nem de motor de tração para se fechar sobre o alvo. Era modelávelatravés de controle remoto. Além da forma, as propriedades elásticas também podiam ser controladas.Quando o alvo chegasse, acionando-se a armadilha, a rede diminuiria de tamanho e se tornariamais rígida, prendendo-o.— E o alvo que está vindo aí, Tânia? — perguntou Gaspar. — Será que é outro figurãotrazendo ouro?— Logo vamos descobrir. Ele vem vindo — um vetor temporal inclinado apareceu no monitor,aproximando-se de uma marca que parecia o foco de uma mira. — Dez segundos. Nove, oito, sete,seis, cinco, quatro, três, dois... Agora!Não era necessário pressionar nenhum controle. O acionamento da rede era automático. Elatinha sensores que detectavam quando a armadilha devia ser acionada. Não havia outra forma, osreflexos humanos não seriam capazes de acionar a armadilha com a precisão necessária. Assim quea rede estabeleceu o bloqueio temporal, uma figura apareceu no seu interior. A rede se soltou,comprimindo-se e apertando o vulto, que caiu se debatendo feito um peixe. Seus movimentosforam diminuindo conforme a rede fazia o ajuste fino na imobilização. Por fim ele parou, exibindoapenas um leve tremor.TÂNIA E O TEMPO79
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Entrevista comMARCELOJACINTORIBEIRO
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Ex libris, de Anne Fadiman: uma col